Mais do que um novo feriado nacional, o Dia da Consciência Negra precisa ser visto como um momento de reflexão sobre uma dívida social histórica com o povo negro negligenciada pelo Brasil até hoje. Trata-se de uma oportunidade essencial para reconhecer os impactos da escravidão, do racismo estrutural e das políticas de exclusão que ainda marcam a negritude no país.
A escolha do 20 de novembro como data comemorativa é, por si só, um símbolo de resistência. Ela remete à morte de Zumbi dos Palmares, líder e herói na luta contra o regime escravagista que, entre os séculos 16 e 19, arrancou da África cerca de 4 milhões de homens, mulheres e crianças. Seres humanos livres tirados à força de seus lares para serem tratados aqui de forma desumana e cruel. Durante anos, o ensino oficial difundiu a ideia de que a Abolição da Escravatura, em 13 de maio de 1888, foi uma grande vitória para o povo negro no Brasil.
Estatísticas mostram que a população negra é maioria nos índices de pobreza, desemprego e informalidade. Também são as principais vítimas da violência, especialmente a policial
A verdade, porém, é outra. Embora a Lei Áurea tenha encerrado oficialmente a escravidão, o documento assinado pela Princesa Isabel não foi acompanhado de qualquer plano de inclusão social. Sem acesso a terra, educação ou condições dignas de trabalho, os libertos foram abandonados à própria sorte, empurrados para as periferias e mantidos à margem do desenvolvimento social e econômico. Essa ferida social não foi cicatrizada até hoje. Estatísticas mostram que a população negra é maioria nos índices de pobreza, desemprego e informalidade. Também são as principais vítimas da violência, especialmente a policial. Além disso, o racismo se manifesta de forma silenciosa no dia a dia, em práticas como a discriminação no mercado de trabalho, o preconceito nas escolas e a ausência dos negros nos espaços de poder.
O Dia da Consciência Negra é, portanto, mais do que uma data comemorativa. É uma ocasião para o Brasil enfrentar os fantasmas do passado e buscar formas de reparação. Ações como cotas raciais, ampliação do acesso à educação e combate à violência policial são passos importantes, mas ainda insuficientes. Para uma verdadeira mudança, é essencial que toda a sociedade se conscientize do problema e trabalhe por soluções. Assumir um compromisso com a igualdade, a justiça e a dignidade humana é o único jeito de construir um país mais justo e inclusivo.