O Troféu Brasil de Ginástica Artística que se encerra neste domingo (22), no ginásio da Sogipa, em Porto Alegre, trouxe à capital gaúcha as principais estrelas da modalidade no país. Esta é a competição que abre a temporada e é a primeira com a presença de público desde o começo da pandemia.
E em meio a esta constelação que tem Arthur Zanetti, ouro e prata nas argolas em Londres 2012 e no Rio 2016, respectivamente, Arthur Nory, campeão mundial da barra fixa em 2019 e bronze no solo nos Jogos do Rio de Janeiro, Jade Barbosa, dona duas medalhas de bronze em mundiais (individual geral e salto sobre a mesa), Caio Souza, finalista olímpico no salto em Tóquio, e Flávia Saraiva, finalista da trave nas Olimpíadas de 2016 e 2020, quem mais se destaca é Rebeca Andrade.
Primeira ginasta brasileira campeã olímpica ao ganhar o ouro no salto sobre a mesa em Tóquio e prata na disputa do individual geral, que é a soma dos quatro aparelhos femininos, a paulista tem monopolizado atenções e olhares durante suas apresentações na capital gaúcha.
Quando ela compete, um silêncio absurdo é percebido no ginásio e o que se vê são olhares direcionados a ginasta de 23 anos e câmeras de celulares apontando em sua direção. Após as provas, filas se formam para tirar fotos e gravar vídeos com rainha da ginástica brasileira. E Rebeca atende um a um pacientemente e sempre com um grande sorriso no rosto.
— Está sendo bem legal o reconhecimento das pessoas ao meu trabalho e da pessoa que eu sou. Isso é muito, muito bom. Eu me sinto muito orgulhosa de tudo o que eu fiz no ano passado e de tudo que eu tenho conquistado durante esse tempo que já passou (carreira) e espero que continue assim. Vou continuar sendo sempre a mesma pessoa que eu fui, com a minha alegria, minha simplicidade, que é uma coisa que não tem como mudar porque foi minha mãe que me ensinou, faz parte dos meus valores pra vida e eu me sinto muito orgulhosa mesmo — afirma Rebeca.
Aliás, conversar com Rebeca Andrade durante a competição é tarefa espinhosa. Por estratégia, ela não concede entrevistas e só se manifesta ao término da competição. Porém, a grande estrela da ginástica brasileira abriu uma exceção em sua agenda e concedeu uma entrevista exclusiva à GZH. Confira:
Como é para você disputar o Brasileiro Interclubes de Ginástica depois de tantas conquistas?
Eu sou uma atleta que adora competir. E o Brasileiro serve como uma preparação para os próximos torneios. É a primeira competição desse ano e nela nós começamos a ter o controle do corpo, da mente e conseguimos ver como está o nosso nível de ginástica. A gente consegue ter contato com as atletas mais jovens, ter essa troca de experiência e ajudar de certa forma. E por ser a primeira do ano é importante para ter esse controle do corpo, até porque bate aquele nervosismo de querer fazer o melhor.
O que o ouro e a prata em Tóquio e no Mundial do Japão trouxeram para a vida da Rebeca Andrade?
Estou tendo muito mais oportunidades dentro e fora da ginástica. Isso foi o que mais mudou. Eu estar na faculdade (de Psicologia) que eu tanto sonhava, que é tão importante pra mim, também é muito bom porque eu saio da minha zona de conforto, que eu vivi sempre que é fazer ginástica. Pra mim está sendo bem legal o reconhecimento das pessoas ao meu trabalho e da pessoa que eu sou. Isso é muito, muito bom. Eu me sinto muito orgulhosa de tudo o que eu fiz no ano passado e de tudo que tenho conquistado. Espero que continue assim. Vou continuar sendo sempre a mesma pessoa que eu fui, com a minha alegria, minha simplicidade, que é uma coisa que não tem como mudar porque foi minha mãe que me ensinou. Fazem parte dos meus valores para a vida.
O meu treinador sempre acreditou, as pessoas que trabalham junto comigo sempre acreditaram. No Mundial muita gente me parabenizou, estavam bem encantados com o que eu fiz, com o carisma e tudo mais. Isso foi bem legal.
REBECA ANDRADE
Sobre seu bom momento na carreira
Como é a troca de experiências com ginastas mais novas e que tem você como a grande referência?
Acho muito legal poder dividir um pouco da experiência que eu tô criando. Mas acho que a gente sempre está aprendendo, aprimorando o que tem dentro da gente. Poder compartilhar isso com elas é incrível. Principalmente a parte mental, que é muito importante. O físico, nós sentimos quando está pronto. Mas, às vezes, é a nossa cabeça que precisa estar um pouco mais preparada. Quando elas conversam comigo e falam que estão muito nervosas, falo pra elas respirarem, ficarem tranquilas. Então, esse controle do corpo com o da mente foi essencial para que conseguisse mostrar tudo que eu tinha dentro de mim na Olimpíada. Você já chega na competição com a sua série pronta. Então é manter a tranquilidade, saber que está pronta, respirar fundo e ir.
A exposição para você aumentou muito desde a conquista do ouro olímpico. Como você passou a lidar com tudo isso?
Eu tenho na minha cabeça que é uma coisa que faz parte. O que aconteceu em Tóquio era algo muito esperado pela comunidade da ginástica. Então, hoje eu tenho uma equipe grande que me ajuda com tudo, que faz a minha agenda. Eles cuidam dessa parte, sempre em contato com o Chico (Francisco Porath), que é o meu treinador. Ele sabe o calendário de competições. Então sabe quando eu posso ou não fazer um trabalho, dar uma entrevista. Eles estão sempre em contato. E eu acho que é por isso que estou conseguindo lidar com tudo. Se não fosse por eles, eu teria que fazer tudo sozinha e as coisas não iam andar. E o meu assessor (Samy Vaisman) e a minha empresária (Danielle Schneider) já trabalham com outros atletas e eles já compreendem como é a rotina do atleta, que é diferente de uma pessoa que não pratica esportes.
Depois das medalhas olímpicas, você notou que passou a ser olhada de forma diferente pelas demais atletas?
Acredito que sim. Sou uma atleta que veio de lesões, muitas pessoas não acreditavam que eu voltaria com uma ginástica tão forte a ponto de ganhar medalhas em Tóquio e no Mundial (Kitakyushu, no Japão). Consegui mostrar uma ginástica de alto nível e isso impressiona. De certa forma, as pessoas pararam de duvidar do potencial dos atletas, não só do meu, mas das outras meninas que também já passaram por lesão. O meu treinador sempre acreditou, as pessoas que trabalham junto comigo sempre acreditaram. No Mundial muita gente me parabenizou, estavam bem encantados com o que eu fiz, com o carisma e tudo mais. Isso foi bem legal e eu curti bastante.
Me sinto muito feliz e orgulhosa de ser uma inspiração para essas meninas. Entendo a importância disso, porque quando eu era mais nova, tive as minhas inspirações e continuo tendo. E o que eu posso dizer pra elas é pra não desistirem.
REBECA ANDRADE
Sobre a legião de fãs que se criou em torno dela
Este deve ser seu último ano se apresentando no solo com o "Baile de Favela", que foi marcante em Tóquio. Você já tem ideia de uma nova coreografia e que música vai usar no ciclo para Paris 2024?
Esse é meu último ano com o Baile de Favela. Eu já fiquei um ciclo olímpico com ele. Mas eu ainda não tenho ideia de qual música eu vou usar. Estou conversando com o (coreógrafo) Rhony (Ferreira) pra ver o meu estilo, o que eu gosto, não gosto. Não sei se ele vai fazer outra surpresa, assim como ele fez com a música da Beyoncé e o Baile de Favela.
Troca de experiências, exposição de mídia, rotina de estrela da ginástica. E como a Rebeca de hoje se vê como inspiração para meninas que estão dando os primeiros passos na modalidade?
Me sinto muito feliz e orgulhosa de ser uma inspiração para essas meninas. Entendo a importância disso, porque quando eu era mais nova, tive as minhas inspirações e continuo tendo. E o que eu posso dizer pra elas é pra não desistirem e continuarem acreditando nelas, no potencial delas e que ninguém pode querer mais do que elas. Porque é um sonho que a gente constrói junto. Você e seu treinador, com sua equipe. Confiar no processo. Nada acontece de uma hora pra outra. Então é batalhar sempre, treinar firme. Elas vão encontrar muitas pedras no caminho, assim como eu encontrei. Mas tenho certeza que elas vão ter forças suficientes pra conseguir ultrapassar qualquer coisa. Mesmo sem conhecer algumas pessoas, vou estar sempre torcendo por elas. Esse é o legado e me sinto muito orgulhosa por estar fazendo parte da história da ginástica. Não vejo a hora de ver mais estrelas brilhando dentro dos ginásios.
Como projeta Paris, em 2024, que terá público?
Estou pensando em chegar bem e saudável. Mas antes tenho Mundiais para focar. Então a minha mente não está tanto em Paris agora. É claro que eu quero estar na Olimpíada. Mas eu estou focando bastante no Pan-Americano, no Mundial deste e do ano que vem. Sobre a presença de público: sempre é muito bom quando a gente faz um aparelho e eles se animam, batem palmas, falam seu nome. É uma coisa que você faz todos os dias e só tem um momento pra poder mostrar, para poder brilhar. Enfim, acho que vai ser incrível, eu estou muito animada para poder ir para Paris e espero que dê tudo certo.