Diego Hypolito deve ter percorrido, no mínimo, três vezes a área do tablado do solo da ginástica artística caminhando de um lado ao outro no aguardo das apresentações de seus adversários. Roía a unha, mordia os dedos, não parava quieto. Sua série, a segunda da tarde, fora quase impecável. Enquanto isso, Arthur Nory, o quinto a entrar, via erros dos favoritos se acumulando e crescia sua chance de um pódio antes improvável. A agonia terminou em celebração em um dia histórico para a ginástica artística brasileira: Diego foi prata e Arthur ficou com o bronze na final do solo.
Segundo a se apresentar, Diego viu que o japonês Kohei Ushimura falhou ao pisar fora do tablado na abertura da tarde. Concentrado, o brasileiro tomou seu tempo antes de cada movimento. Cuidava para não repetir os erros das duas últimas Olimpíadas, em que caiu na final. Era a oportunidade de coroar uma carreira vitoriosa, que inclui títulos mundiais e pan-americanos. Logo que terminou a apresentação, correu satisfeito e abraçou o técnico Marcos Goto. Recolhido à área reservada aos atletas, iniciou sua nervosa perambulação sem destino.
Dali, viu Max Whitlock, da Grã-Bretanha, o ultrapassar. Também acompanhou o parceiro Arthur Nory ter um desempenho surpreendente. O paulista de 22 anos só pôde disputar a final porque três japoneses conseguiram nota suficiente para a classificação, e há um limite de dois ginastas por país. Pois Nory arriscou, fez uma série mais difícil do que na classificação, e foi outro a terminar a apresentação de punho cerrado, sorriso no rosto e nos braços do seu técnico, Cristiano Albino.
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Diego e Arthur se juntaram na espera agônica. Para Diego, era o fim de um mês turbulento. Na reta final da preparação, seu técnico, Fernando de Carvalho, foi afastado após uma acusação de abuso sexual. O experiente ginasta passou às mãos de Marcos Goto, treinador que forjou o campeão olímpico Arthur Zanetti. Submeteu-se à linha dura do novo comandante, que blindou seus pupilos e pediu que distrações, como as postagens nas redes sociais, cessassem até a Olimpíada.
A certeza do pódio veio, para Diego, após a apresentação de Kenzo Shirai, destacado favorito ao ouro. Quando errou, a Arena Olímpica vibrou como se fosse um gol e Diego desatou a chorar. Mas faltava Nory.
Encolhido no chão, em posição fetal, ele aguardou a nota do último a se apresentar, o americano Samuel Mikulak, e foi avisado de que era medalhista olímpico pela festa do público.
– Passa um filme na cabeça, de tudo que você batalhou e sonhou. Estou muito realizado e grato. Me apoiei em pessoas que acreditam em mim e lutaram comigo – resumiu o jovem.
– Nosso povo é carente de ídolos e resultados. Eu ofereço meus treinos, meu esforço, minha medalha a vocês. Na primeira Olimpíada eu caí de bunda, na segunda, de cara, e nessa eu caí de pé – brincou Diego.
No pódio, após o hino britânico saudando o campeão Max Whitlock (foto abaixo), Diego e Nory sentiram o que é a consagração em uma Olimpíada em casa. À capela, a Arena Olímpica se despediu da dupla vitoriosa entoando o hino brasileiro para a prata e o bronze que valem ouro.