Grande parte dos sojicultores gaúchos espera recuperar, na próxima colheita, parte dos prejuízos sofridos nas últimas duas safras em que a estiagem secou os campos. Mas o caminho até a recuperação tem suas próprias ervas daninhas a serem enfrentadas.
As recentes quebras de safra aumentaram os valores e pioraram as condições para a contratação de seguros agrícolas, e o alto volume de chuva exige uma maior aplicação de insumos para garantir a saúde da colheita, o que resulta em uma elevação nos custos de produção.
— O seguro agrícola está praticamente inviabilizado. O custo para segurar a produção acabou ficando muito alto, então acaba valendo mais a pena perder parte da colheita do que pagar pelo seguro — avalia o economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz.
Outro desafio para os agricultores é arcar com um maior volume de insumos. Um dos motivos para isso é justamente o atraso no plantio provocado pela chuva. Como a terra já havia recebido herbicidas para livrá-la de ervas daninhas, mas a semeadura acabou não ocorrendo no prazo previsto, muitas propriedades estão precisando de uma nova rodada para manter o solo livre de plantas indesejadas.
— Estávamos em situação ideal para começar o plantio da soja, no período posterior à colheita do trigo, mas a chuva atrasou tudo e tivemos de entrar com mais uma aplicação de herbicida. Se demorar mais uns 10, 15 dias, teremos de entrar com mais outra. Isso vai aumentando o custo da produção, assim como já aumentou o preço do seguro. Ainda assim, vou segurar a produção — afirma o sojicultor de Santa Rosa Rafael Andrighetti, 36 anos.
O produtor rural de São Jerônimo Glenio Guimarães estima que, em média, o investimento necessário por hectare subiu entre 10% e 12% em sua propriedade em comparação com a safra passada em razão da maior dependência de insumos. Agricultor de Soledade, Edson Roberto Chequeller, 54 anos, afirma que o custo do seguro praticamente dobrou em relação há alguns anos. Apesar das dificuldades, conseguiu semear praticamente metade da área de 600 hectares — muito acima da média estadual.
— Esperamos concluir o plantio ainda em novembro — atesta Chequeller.
Antônio da Luz sustenta que, apesar das eventuais dificuldades, o agronegócio segue como uma das atividades mais promissoras do Estado:
— Tivemos problemas climáticos em anos como 1997, 2005, 2012, isso faz parte do negócio. Mas, entre esses anos, tivemos safras ótimas. A tendência geral é, a cada ano, produzirmos mais.
Avanço do plantio por região
Levantamento da Emater/RS divulgado na quinta-feira (16) apresenta panorama da semeadura de soja no Estado:
Aceguá - Na cidade da Campanha, se estima-se que várias áreas precisarão ser replantadas devido à erosão, que levou solo, sementes e fertilizantes.
Bagé - Na região, produtores intensificaram a semeadura nos solos mais arenosos, mas alta umidade favorece doenças e amarelecimento das folhas. Na cidade de Bagé, a plantio chegou a 25% da área.
Caxias do Sul - A semeadura avançou a 15% apesar da umidade do solo, mas várias lavouras apresentam falhas de germinação devido ao encharcamento do solo.
Erechim - Em atraso, com 25% da área semeada, em fase de germinação.
Frederico Westphalen - Cerca de 35% da área está semeada e nas fases de germinação e desenvolvimento vegetativo, mas há preocupação com impacto da chuva sobre a produtividade.
Ijuí - Redução do volume de chuva favoreceu a semeadura, que chegou a 25% do previsto.
Passo Fundo - Apesar da umidade, um rápido avanço resulta em 40% da área já plantada.
Pelotas - Chuva dificultou plantio a partir de 10 de novembro. Plantas semeadas antes disso se desenvolvem bem, mas há preocupação "acerca da germinação e da emergência das plantas nas áreas recém-semeadas, pois pode haver necessidade de replantio".
Santa Maria - Àrea plantada atinge cerca de 25%, contra média de 40% para este período em anos anteriores.
Santa Rosa - Clima favorável no começo do mês garantiu plantio de 20% com bom desenvolvimento. Foi preciso replantar algumas sementes em "uma pequena porcentagem da área".
Soledade - Média de toda a região chega a 30% do solo plantado, com bastante variação entre municípios próximos.