A preocupação com os efeitos da deriva do herbicida 2,4-D e o avanço do número de denúncias feitas à Secretaria da Agricultura — eram 73 casos na tarde desta sexta-feira (8) — levaram a Associação de Produtores de Vinhos Finos da Campanha a protocolar pedido de suspensão do produto. O documento, assinado pelo advogado Diego Ruppenthal, foi entregue em reunião com o Ministério Público Estadual (MP), em que também estava um representante da Associação Gaúcha dos Produtores de Maçã.
— As evidências e a gravidade do assunto nos obrigaram a pedir a reunião. Queremos resposta urgente, sob pena de inviabilizar totalmente o processo. A realidade mostra que as normativas não estão funcionando — diz Valter Pötter, proprietário da Estância Guatambu e que tem cuidado das questões relacionadas à deriva do produto na associação da Campanha.
O regramento para a aplicação do produto, utilizado no combate de ervas daninhas em lavouras de soja, veio após tratativas entre Secretaria da Agricultura, entidades e MP. O órgão tem inquérito civil aberto para apurar a questão.
O promotor do caso, Alexandre Saltz, confirma o recebimento do pedido. Diz que aguardará o resultado das análises encaminhadas ao Laboratório de Análise de Resíduos de Pesticidas da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). A expectativa é de que os laudos saiam nos próximos dias:
— O primeiro passo é a evidência científica, para buscar comprovação de que os danos foram causados pelo 2,4-D.
A partir do que apontarem as amostras, há algumas possibilidades a serem consideradas, explica Saltz. Uma é intensificar a responsabilização dos causadores dos problema. Outra é avaliar o aprimoramento da fiscalização ou, se for o caso, “discutir a possibilidade de suspensão da aplicação do produto, com todas as dificuldades que isso possa trazer”.
Nova reunião com o MP está agendada para quarta-feira (13). Antes disso, Pötter marcou encontro com representantes do Sindicato Rural de Dom Pedrito. Ele afirma que, entre os municípios de Candiota, Bagé, Dom Pedrito, Jaguari e Santana do Livramento, 70% das propriedades têm perdas registradas.
O debate em torno do uso do herbicida ganhou força no ano passado. Na ocasião, de 81 análises feitas em 24 municípios, 69 deram positivo para contaminação com 2,4-D. Isso levou à publicação de instruções normativas. Entre as determinações, estão a necessidade de treinamento e cadastro do aplicador, a assinatura do termo de conhecimento de risco e de responsabilidade, a informação à secretaria após aplicação e a venda orientada.