Dona de uma agroindústria de doces em Ijuí, Glacir Tiecher tentava levar seus produtos à Expointer há quatro anos. Mesmo com toda a documentação da empresa em dia, nunca conseguia vaga entre os expositores da agricultura familiar. Acabava esbarrando na grande concorrência por um espaço na feira. Neste ano, no entanto, a situação mudou. Com a definição de um novo pavilhão para os pequenos produtores, mais amplo que o anterior, Glacir finalmente conseguiu garantir sua participação na feira. Assim, a Agroindústria Tiecher se tornou um dos 56 negócios que estão estreando no evento.
- Para a gente é uma grande conquista estar no pavilhão da agricultura familiar. Era um sonho que tínhamos – pontua a produtora.
E a primeira participação da família Tiecher não poderia estar sendo melhor. Glacir, seu marido e os três filhos encheram um caminhão com rapaduras, melados e amendoins açucarados para irem a Esteio. Já na terça-feira, o estoque praticamente se esgotou. A proprietária da agroindústria, então, retornou a Ijuí para fazer mais doces e reabastecer as prateleiras, pensando principalmente na demanda nos últimos dias do evento. A projeção é faturar mais de R$ 15 mil até domingo (2), o que possibilitará a ampliação do negócio. A ideia dos Tiecher é expandir a área de cana-de-açúcar e comprar um alambique para iniciar a fabricação de cachaça.
Fazer parte do pavilhão da agricultura familiar também era um desejo antigo de Auri e Diva Flâmia, produtores de vinho colonial em Bento Gonçalves. Conseguir um lugar entre os expositores parecia algo impossível para eles até pouco tempo atrás, já que a produção da bebida estava na informalidade. No início deste ano, com base na recente Lei do Vinho Colonial, eles conseguiram legalizar a atividade. Assim, a Piccola Cantina, nome do negócio do casal, se tornou a primeira agroindústria de vinho colonial registrada no Brasil. E a primeira do gênero na Expointer.
– Como conseguimos nos legalizar, fizemos questão de vir para cá (Esteio). Estamos conseguindo vender muito bem. Já saíram mais de 900 garrafas – comemora Auri Flâmia.
A vitrine proporcionada pelo pavilhão da agricultura familiar ainda acaba gerando possibilidades de negócios fora da feira para alguns participantes. Já na sua estreia na Expointer, a Laticínios Ruppenthal, de Gramado, vislumbra a abertura de novos mercados a partir dos contatos realizados no Parque de Exposições Assis Brasil. Os queijos coloniais, incluindo algumas versões temperadas com orégano e chimichurri, são os campeões de vendas no estande da marca.
- Vieram representantes de algumas redes de supermercado de Porto Alegre interessados nos nossos produtos. Agora planejamos buscar o selo da inspeção estadual, para que possamos vender para todo o Estado – projeta o produtor Rafael Ruppenthal, que comanda a empresa ao lado dos pais e seu irmão.
Além disso, para muitas agroindústrias, os nove dias de participação na feira garantem boa parte do faturamento mensal. No caso da Doces Silva, de Santo Antônio da Patrulha, a comercialização de rapaduras, balas de banana, açúcar mascavo e outros artigos vai trazer um incremento importante ao caixa da empresa.
- Nossa meta é vender R$ 10 mil em produtos. Isso presentaria em torno de 30% do nosso faturamento mensal – diz Tamara Silva, que trabalha na agroindústria ao lado dos pais e suas duas irmãs.
Segundo Tamara, a família intensificou a produção para participar da Expointer. Ainda assim, alguns produtos já estão quase acabando antes do final da feira, devido à grande demanda. O líder de vendas é o amendoim com melado. Foram trazidas cerca de 200 unidades do doce e, até ontem, restavam menos de 30 delas.
Vendas cresceram 96% até o sexto dia
Os negócios no pavilhão da agricultura familiar estão crescendo em ritmo acelerado nesta edição da Expointer. A venda de alimentos das agroindústrias e dos artesanatos dos 275 expositores gaúchos alcançou, até o sexto dia de feira, a marca de R$ 2,4 milhões, segundo a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Rural (SDR), que realiza o levantamento. O resultado representa um incremento de 96% em relação a igual período do ano passado, quando se movimentaram R$ 1,2 milhão.
O secretário de Desenvolvimento Rural, Tarcisio Minetto, ressalta que o desempenho positivo vai além da ampliação do espaço destinado aos pequenos produtores. Para ele, os consumidores estão abrindo mais a carteira neste ano, em comparação com edições passadas da feira.
- Com o novo pavilhão, a disponibilidade de espaço cresceu 41%. Então, as vendas estão crescendo acima do percentual do tamanho disponibilizado para os expositores. Temos uma oferta maior e mais disponibilidade de produtos, o que se está refletindo nas vendas – afirma Minetto.
Até o final da Expointer, a tendência é que a agricultura familiar fature cerca de R$ 4 milhões, um valor recorde para o segmento. Minetto ressalta que o desempenho neste ano pode ser ainda melhor, caso o tempo no último final de semana da feira esteja firme. De qualquer forma, a tendência é de uma expansão significativa frente aos R$ 2,8 milhões negociados na Expointer de 2017.
O pavilhão oferece aos visitantes 210 opções de agroindústrias familiares e 65 de empreendimentos de artesanato, plantas e flores. Ao todo, são mais de 1350 famílias participantes, vindas de 106 municípios do Rio Grande do Sul.