A venda de orgânicos cresce a galope em todo o Brasil e o Rio Grande do Sul tem a maior proporção de consumidores em relação à população no país. Mas você já pensou em ser mais do que mero comprador? A proposta das Comunidades que Sustentam a Agricultura (CSAs) é transformar o cliente em coagricultor — um parceiro de negócios do produtor.
Funciona assim: um grupo de pessoas se reúne para financiar um produtor rural, pagando valor fixo mensal. Em troca, recebem toda semana produtos da estação cultivados pelo agricultor e por seus parceiros, que complementam as cestas, sem intermediários. A relação vai além da compra e venda: uma vez ao mês, o colaborador é convidado a ir até a propriedade rural, ajudar na colheita e participar de mutirões. E, quando há perdas na lavoura, o apoiador compartilha o risco.
— Cria-se uma relação de confiança, em que não se lida com o preço, mas se incentiva o apreço — afirma Ali Baptista, idealizador do CSA-RS e membro da diretoria do CSA nacional.
Surgido nos anos 1980 nos Estados Unidos, o modelo chegou ao Brasil somente em 2011 e, três anos depois, começou a ser implementado no Rio Grande do Sul. A principal diferença para o resto do país é que, no Estado, os produtores vêm de assentamentos da reforma agrária, de Eldorado do Sul, Nova Santa Rita e Viamão, todos da região metropolitana de Porto Alegre.
Relação de proximidade
A CSA pioneira no Estado foi implantada no final de 2014 na Capital. Um dos precursores é o agricultor familiar Sandino Argolo Nunes, 29 anos, de Nova Santa Rita. O produtor entrega seus hortifrutigranjeiros para seus apoiadores todas as quartas-feiras na feira do bairro Menino Deus. A participação no modelo de financiamento lhe garante renda fixa – atualmente conta com 12 cotistas – e serve de estímulo para mantê-lo trabalhando no campo.
— A gente precisa ser valorizado e no CSA é assim que nos sentimos. O público nos conhece e acredita no que fazemos — comenta Nunes.
A partir da CSA Menino Deus, outras redes foram criadas e, atualmente, há outros seis pontos de entrega: público, comercial e residencial.
Um desses locais foi iniciativa da cirurgiã dentista Andressa Presotto, 38 anos, que criou um grupo em seu condomínio, em Porto Alegre. Ela conheceu o projeto por amigos que fez ao frequentar a feira do Menino Deus. Na época, não havia vaga no grupo de apoiadores, mas o casal cedeu lugar à entusiasta. Hoje, mesmo com entrega em casa, frequenta a feira todas as quartas-feiras e ainda vai aos sábados na feira modelo do Bonfim.
— A ideia é possibilitar renda fixa ao agricultor. Mesmo quando há perdas, as famílias (que financiam) têm entendimento que em outro momento receberão um volume maior, compensando — conta Andressa.
Como participar
— Para participar, envie e-mail para csaportoalegrers@gmail.com.
— Os coordenadores respondem com as opções disponíveis e marcam um encontro para explicar o funcionamento.
— Há basicamente duas opções: entrar em um grupo já existente ou criar um novo. Na primeira, é preciso que o agricultor tenha vaga e capacidade de entrega. Além disso, o consumidor tem de ter possibilidade de ir buscar no local existente. Atualmente, as feiras do Menino Deus, do IPA e da Redenção, por exemplo, são lugares públicos de coleta de cestas. Há, ainda, uma escola particular na Zona Sul, uma loja na Cidade Baixa e um condomínio na Zona Norte.
— Para criar uma nova CSA, é necessário um mínimo de cinco pessoas. Nessa opção, o grupo pode definir, de acordo com a possibilidade de logística do produto, o local de preferência de entrega. Pode ser uma feira ou casa, por exemplo.
— Há duas modalidades de planos: mensalidade de R$ 145 em troca de cesta semanal com oito itens, entre legumes, verduras e frutas, que variam conforme a estação e são definidos pelo agricultor, ou de R$ 260, que inclui 12 produtos, de hortifrútis até agroindustriais, como pães e geleias. Caso o produtor tenha perda ou queira complementar a cesta, ele troca com outros membros da rede.