Alvo de controvérsia, o uso de agrotóxicos aumentou nos últimos 11 anos no Rio Grande do Sul – e também no Brasil. A conclusão é do Censo Agropecuário 2017, divulgado nesta quinta-feira (25) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com a pesquisa, 70,2% dos estabelecimentos agropecuários adotam a prática no Estado. Em 2006, eram 62%.
Embora o tema seja avaliado de forma diferente por ambientalistas e pesquisadores, técnicos do IBGE afirmam que o crescimento merece atenção, em especial devido a alguns agravantes detectados no levantamento, como a baixa escolaridade na zona rural e o acesso limitado a assistência técnica. Em 50,1% das unidades de produção e exploração visitadas no Rio Grande do Sul, os produtores declararam que não recebem esse tipo de apoio.
— O uso de agrotóxico não é necessariamente ruim. O importante é sabermos de que forma ele está sendo utilizado. Quanto menor o estabelecimento, e 83,7% deles têm até 50 hectares no Estado, menor é a escolaridade do produtor. Se ele não tem estudo e não recebe assistência técnica adequada, o risco de uso incorreto é maior. Isso é motivo de preocupação — afirma Cláudio Sant'Anna, coordenador técnico do censo no Estado.
Para o presidente da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), Francisco Milanez, o avanço dos pesticidas assusta. Ele teme pela qualidade dos produtos consumidos.
— No começo dos anos 1990, nós avisamos que esse aumento iria se efetivar. Infelizmente, estávamos certos. Houve aceleração do uso desses produtos devido aos transgênicos, porque as pragas ficaram mais resistentes. É alarmante, e a verdade é que não existe quantidade segura de agrotóxico. O que existe é o uso correto do ponto de vista técnico, mas isso não garante segurança aos consumidores — afirma Milanez.
A conclusão está longe de ser unânime. Professor de melhoramento de plantas da UFRGS, Luiz Carlos Federizzi entende que não há motivos para alarde. O pesquisador argumenta que no Sul a maioria dos produtores usa agroquímicos por conta das condições climáticas e do sistema de plantio direto, o mais utilizado no Estado.
— É normal. No Sul chove muito, e as plantas daninhas crescem todos os meses do ano, diferentemente do que ocorre em outros locais, por isso praticamente todos os agricultores usam agroquímicos. Não quer dizer que é prejudicial, desde que seja usado dentro das recomendações. Sem os agrotóxicos, não haveria condições de produzir como produzimos. As condições do meio ambiente são muito favoráveis a doenças e a insetos aqui, algo completamente diferente dos países de clima temperado, por exemplo — pondera o especialista.
Quanto à falta de assistência, Federizzi concorda que o trabalho está "longe do ideal" e que há produtores que não recebem apoio adequado. Apesar disso, ele discorda de que essa situação possa elevar os riscos de uso incorreto dos pesticidas.
— A assistência técnica, de maneira geral, está deixando a desejar no Brasil e precisa ser repensada. Mas não acho que seja um problema em relação aos agrotóxicos, porque a maioria dos nossos produtores já tem conhecimento sobre o assunto. A maioria sabe o que aplicar, como aplicar e quando aplicar. É um conhecimento universal — afirma Federizzi.
O aumento no uso de defensivos também foi detectado pelo IBGE no Brasil como um todo. Mais de 1,68 milhão de produtores utilizaram produtos do tipo em 2017, o que se traduziu em elevação de 20,4% em relação a 2006. Ainda assim, no somatório geral, em apenas 33,3% dos estabelecimentos a prática é adotada – percentual bem menor do que os 70,3% do Rio Grande do Sul.
Além desses dados, o censo traz série de outras informações importantes sobre o campo. Foram visitados 5,07 milhões de estabelecimentos, sendo 365 mil no Estado. O número caiu em comparação com 2006 em razão de alterações metodológicas na pesquisa, mas a área utilizada cresceu.
Embora tenha aumentando o percentual de mulheres na labuta, a maioria dos produtores continua sendo composta por homens. No Rio Grande do Sul, não é diferente. Quanto ao nível educacional, a situação melhorou, mas ainda é um problema, já que a maior parte dos entrevistados sequer concluiu o Ensino Médio.
A intenção é de que essas e outras conclusões ajudem no planejamento de políticas públicas voltadas ao setor – em 2006, por exemplo, o compilado embasou programas de eletrificação rural e de financiamento de máquinas e implementos. Agora, os especialistas do IBGE trabalham na revisão final das informações coletadas e nos últimos ajustes. O objetivo é apresentar o resultado final do censo em julho de 2019.
O censo agropecuário 2017
Realizado pelo IBGE, o censo agropecuário 2017 esquadrinhou 5,07 milhões de estabelecimentos do tipo no país, mapeando características dos produtores (idade, sexo, escolaridade, cor ou raça) e das áreas visitadas (utilização das terras, acesso à internet, uso de adubos e agrotóxicos, etc.). O último levantamento foi em 2006.
Por que é importante
Para ajudar gestores públicos na elaboração de políticas adequadas a esse segmento vital da economia, para embasar trabalhos acadêmicos e científicos e para que os brasileiros possam conhecer melhor a realidade rural de suas cidades, Estados e do país.