Depois de 11 anos, o país volta a conhecer em minúcias, com novas cores e nuances, a realidade do campo. Nesta quinta-feira (26), começam a ser divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) os primeiros resultados – ainda preliminares – do mais recente censo agropecuário brasileiro.
O mapeamento evidencia avanços tecnológicos e de produtividade, mas também sinaliza riscos – do inexorável envelhecimento dos produtores, com cada vez menos jovens na lida, ao uso crescente de agrotóxicos, realidade em 70,3% dos estabelecimentos rurais do Rio Grande do Sul.
Entre outubro de 2017 e fevereiro deste ano, os pesquisadores percorreram todos os rincões do país para coletar dados. Foram visitadas 5,07 milhões de unidades de produção ou exploração dedicadas às atividades agropecuárias, florestais e aquícolas, sendo 365 mil no Estado. O número caiu em comparação com 2006 em razão de alterações metodológicas na pesquisa, mas a área utilizada cresceu.
Embora tenha aumentando o percentual de mulheres na labuta, a maioria dos produtores continua sendo composta por homens – no Rio Grande do Sul, não é diferente. Quanto ao nível educacional, a situação melhorou, mas ainda é um problema, já que a maior parte dos entrevistados sequer concluiu o Ensino Médio.
O acesso a telecomunicações também se aprimorou, em especial em relação à internet. Em 2006, apenas 2,3% dos estabelecimentos gaúchos estavam conectados. Onze anos depois, são 41,1%. Ainda assim, não chega nem à metade dos locais e, no Brasil, o percentual é ainda menor: 28,1%.
Outra fonte de inquietação entre os técnicos é o aumento do percentual de produtores com mais de 65 anos. No Estado, eles passaram de 17,5% para 23,1%, enquanto o número de jovens decresceu – de 1,9% para 1,2% na faixa etária de até 25 anos. Sem saída fácil, a situação confirma o que já se observava na prática e amplia as incertezas sobre a sucessão no comando dos empreendimentos rurais. Em dez ou 20 anos, estima-se que os idosos possam ser maioria.
— É um desafio. Se essa tendência se mantiver, teremos sérios problemas no futuro — adverte Luís Eduardo Puchalski, coordenador operacional do Censo Agropecuário 2017 no Estado.
Agrotóxicos no RS
O avanço dos pesticidas também é motivo de atenção. Em 2006, 62% das unidades adotavam a prática no Estado. O percentual chegou a 70,3% em 2017, com alguns agravantes, incluindo a baixa escolaridade e o acesso limitado a assistência técnica. Em 50,1% dos estabelecimentos agropecuários identificados no Rio Grande do Sul, os produtores declararam que não recebem esse tipo de apoio.
— O uso de agrotóxico não é necessariamente ruim. O importante é sabermos de que forma ele está sendo utilizado. Quanto menor o estabelecimento, e 83,7% deles têm até 50 hectares no Estado, menor é a escolaridade do produtor. Se ele não tem estudo e não recebe assistência técnica adequada, o risco de uso incorreto é maior. Isso é motivo de preocupação — afirma Cláudio Sant'Anna, coordenador técnico do censo no Estado.
A intenção é de que essas e outras conclusões ajudem no planejamento de políticas públicas voltadas ao setor – em 2006, por exemplo, o compilado embasou programas de eletrificação rural e de financiamento de máquinas e implementos. Agora, os especialistas do IBGE trabalham na revisão final das informações coletadas e nos últimos ajustes. O objetivo é apresentar o resultado final do censo em julho de 2019.
O censo agropecuário 2017
Realizado pelo IBGE, o censo agropecuário 2017 esquadrinhou 5,07 milhões de estabelecimentos do tipo no país, mapeando características dos produtores (idade, sexo, escolaridade, cor ou raça) e das áreas visitadas (utilização das terras, acesso à internet, uso de adubos e agrotóxicos, etc.). O último levantamento foi em 2006.
Por que é importante
Para ajudar gestores públicos na elaboração de políticas adequadas a esse segmento vital da economia, para embasar trabalhos acadêmicos e científicos e para que os brasileiros possam conhecer melhor a realidade rural de suas cidades, Estados e do país.