A pé, de bicicleta, de carro ou a cavalo. Mais de 18 mil recenseadores irão percorrer todos os rincões do país a partir de 1º de outubro para traçar um retrato fiel do campo brasileiro – depois de 12 anos do último Censo Agropecuário, realizado em 2005. Identificados com coletes azuis do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os agentes censitários irão coletar os dados que servirão de base para estatísticas oficiais e políticas voltadas ao setor que gera mais de 20% da riqueza do país.
A pesquisa, única que cobre praticamente 100% do meio rural, será feita com dois anos de atraso e questionário mais enxuto – por conta do corte pela metade da verba do projeto.
– Ninguém pode fazer política agrícola sem dados. Qualquer coisa diferente é palpite – diz o pesquisador Eliseu Alves, um dos fundadores da Embrapa e consultor do Banco Mundial e da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
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Realizado originalmente a cada 10 anos, o censo deveria ter ido a campo em 2015 para divulgação dos dados no ano seguinte. Sem recursos financeiros à época, o IBGE retardou a pesquisa. O planejamento, que previa investimento de R$ 1,5 bilhão para o biênio 2017 e 2018, não teve orçamento aprovado. Com a liberação de R$ 505 milhões para este ano, e outros R$ 245 milhões esperados para o próximo, o órgão tratou de readequar o projeto à realidade financeira. O questionário, que em 2006 poderia passar de 900 perguntas, agora é de, no máximo, 565 perguntas.
– As questões básicas foram mantidas, o que foi reduzido é o detalhamento das perguntas – explica Luis Eduardo Puchalski, coordenador operacional do Censo Agropecuário no Estado.
Em 2006, por exemplo, se o produtor respondesse que usa defensivos agrícolas, o recenseador perguntaria quais produtos. Agora, as janelas de detalhamento foram diminuídas. Mesmo com a mudança, Puchalski explica que será possível fazer comparativos com a última pesquisa, já que a estrutura do questionário foi mantida. O formato mais enxuto tem a ver com o número de recenseadores. Os 60 mil previstos inicialmente caíram para pouco mais de 18 mil. Enquanto no país a estimativa é de abranger 5,3 milhões de propriedades, no Rio Grande do Sul a projeção é de coletar informações em 425 mil estabelecimentos. Em 2006, foram 441 mil.
– As propriedades estão aumentando de tamanho e diminuindo o número de proprietários – avalia Nestor Bonfanti, vice-presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag).
Passados 12 anos do último Censo, a expectativa para a divulgação dos resultados é grande – já que em uma década o Brasil dobrou a safra agrícola e a tecnologia adotada mudou muito.
– Não podemos trabalhar com uma realidade da década passada, muitas coisas mudaram desde então – considera Bonfanti.
Maior parte das estatísticas no país são por amostragem
Pela metodologia do IBGE, a recomendação é de que o levantamento censitário seja realizado a cada cinco anos – justamente para evitar a rápida defasagem dos dados.
– Somos um país carente de estatísticas. A maior parte são por amostragem, que muitas vezes se deslocam da realidade. O censo é fundamental para sabermos exatamente o que se produz e então olhar para a frente – analisa Antônio da Luz, economista-chefe da Federação da Agricultura no Rio Grande do Sul (Farsul).
Para atualizar as informações em um período mais curto, o IBGE estuda a possibilidade de realizar coleta anual a partir de 2019, nos mesmos moldes da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (Pnad).
– O grande problema são as mudanças estruturais. Entre um censo e outro, a transformação tecnológica é muito grande. Uma amostra intercensos resolveria o problema – avalia o pesquisador da Embrapa.
Precisão dos dados depende do produtor
Para retratar a agropecuária brasileira de maneira fiel, os recenseadores terão de driblar dificuldades no campo. O crescimento da criminalidade e receio dos proprietários em abrir as porteiras será uma delas, especialmente no meio rural das grandes cidades.
– Por conta disso, iremos oferecer um endereço eletrônico para os produtores checarem na hora a identidade dos agentes censitários – explica Luis Eduardo Puchalski, coordenador operacional do Censo Agropecuário no Rio Grande do Sul.
A atualização do Censo Agropecuário dependerá também de respostas reais por parte dos produtores. Alguns têm medo de falar por desconfiança de os dados serem divulgados individualmente – o que não ocorre. O agentes censitários, inclusive, se comprometem judicialmente em manter o sigilo dos relatos. Conforme a legislação, os proprietários têm o dever de fornecer informações ao órgão oficial de pesquisa.
– Não há o que temer. Até porque dados errados trarão prejuízos para os próprios produtores. A realidade precisa ser conhecida para formulação de políticas eficientes – explica Lino Moura, diretor técnico da Emater.
O órgão de assistência técnica e extensão rural, que tem escritórios em praticamente todos os municípios gaúchos, dará apoio aos recenseadores – desde a orientação de localização das propriedades rurais até a estrutura física para envio dos questionários.
– A atualização dos dados é muito importante, até para conhecermos nossas carências e avaliar se os nossos programas de assistência estão surtindo efeito – completa Moura.
Entre as novidades deste ano está o uso do GPS nos equipamentos eletrônicos que serão usados a campo. Com o dispositivo, os supervisores poderão acompanhar em tempo real o percurso dos recenseadores e verificar se toda a área delimitada está sendo coberta. Além disso, será testada a modalidade de responder as perguntas pela internet – cerca de 6 mil questionários serão enviadas a propriedades pré-determinadas pelo IBGE.
Como identificar os recenseadores
Os recenseadores do IBGE chegarão às propriedades identificados com coletes e crachás. Mesmo assim, o proprietário poderá consultar a identidade do pesquisador no site respondendo.ibge.gov.br, inserindo nome ou número da matrícula.
Tire suas dúvidas
Um teste do aplicativo foi realizado entre os dias 10 e 14 de julho no Estado. Foram 17 estabelecimentos agropecuários em Viamão, único município gaúcho em que a avaliação ocorreu.
Quais propriedades rurais entrarão no censo?
Àquelas que produzem para venda ou para subsistência da família. Sítios para lazer, por exemplo, não entram no censo.
Quando as informações serão coletadas?
De 1º de outubro a 28 de fevereiro, em mais de 5 milhões de propriedades do Brasil.
Quantas perguntas serão feitas?
O questionário pode chegar a, no máximo, 565 perguntas, dependendo das respostas. Em 2006, podia chegar a 900 perguntas.
Quanto tempo leva para responder?
O tempo médio é de 40 minutos. Em 2006, o tempo médio era de quase duas horas.
E se alguma propriedade não receber a visita do IBGE?
O produtor que não for visitado por recenseadores deve procurar o Centro de Informações do IBGE de sua região ou a Emater.
Quantas pessoas irão trabalhar no censo agropecuário?
No Estado, serão 1.662 recenseadores e 500 supervisores. Em todo o Brasil, serão mais de 18 mil recenseadores.
Quando serão conhecidos os resultados?
As informações básicas (número de propriedades, área de lavouras e efetivo de animais) serão divulgadas em março. Os dados detalhados serão conhecidos até o final de 2018.
Municípios sem inscritos
A seleção dos 1.662 recenseadores e 500 supervisores que trabalharão no Censo Agropecuário no Estado ocorreu no último dia 16. Em 11 municípios gaúchos não houve inscrições. O IBGE fará nova chamada para preencher as vagas em:
Alto Alegre
Barra do Guarita
Barra do Ribeiro
Boa Vista do Incra
Ilópolis
Lagoa dos Três Cantos
Relvado
Santa Maria do Herval
São Valentim do Sul
Severiano de Almeida
Trindade do Sul
Fonte: IBGE