O acirramento da guerra comercial entre Estados Unidos e China deverá deixar um saldo negativo ao agronegócio brasileiro – gigante na exportação de commodities agrícolas. Se a taxa de 25% sobre US$ 50 bilhões em importações chinesas for de fato imposta pelos americanos a partir de 6 de julho, provocando retaliação dos asiáticos, a avaliação de analistas é de que o Brasil corre o risco de pagar parte da conta gerada pelo conflito entre as duas maiores economias mundiais.
Enquanto a guerra comercial era só entre os dois gigantes, até abril, o Brasil era um dos países mais beneficiados, pois poderia ocupar espaço deixado pelos Estados Unidos no mercado chinês de carnes e grãos.
– Ocorre que hoje estamos diante de uma guerra comercial global, estendida à União Europeia, América Latina e Austrália, com efeitos colaterais preocupantes – alerta Hsia Hua Sheng, professor de Finanças Aplicadas da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Produtos de consumo podem ficar mais caros
Especialista em assuntos econômicos relacionados à China, o professor afirma que uma guerra comercial global não é boa para nenhuma nação, pois deixa os produtos de consumo mais caros – elevando a inflação e, consequentemente, a probabilidade de aumento do juro.
– Além disso, o movimento inflacionário e a redução da atividade econômica afastam investidores – acrescenta Sheng.
Mesmo o aparente benefício no mercado da soja, com os chineses comprando menos grãos dos americanos e abrindo espaço para o produto brasileiro, não deve trazer ganhos ao Brasil – já que o valor da commodity caiu bruscamente na Bolsa de Chicago nas últimas semanas.
– A elevação do prêmio nos portos brasileiros não compensou a baixa de preço no mercado internacional – explica Flávio Roberto de França Junior, chefe do setor de grãos da Datagro.
Com mais soja no mercado americano, e mais barata, pode ser facilitada a compra do grão por produtores mundiais de carne – que poderão ficar mais competitivos do que o Brasil.
Uma das oportunidades que o Brasil poderá ter, pondera França Junior, é o aumento das importações de farelo de soja pelos chineses – que precisarão buscar alternativas para abastecer o mercado interno.