A perspectiva de os chineses colocarem sobretaxa de 25% sobre a soja importada dos Estados Unidos está cobrando o seu preço. A desvalorização da cotação na Bolsa de Chicago começou a se intensificar no final de maio. Mas foi a partir de 6 de junho que perdeu a linha dos US$ 10 o bushel (medida equivalente a 27,2 quilos).
De lá para cá, o preço da commodity caiu 10,3%, aponta levantamento da Safras e Mercado, para contratos com entrega para o mês de julho.
– O principal fator dessa redução de preços é a guerra comercial. Por mais que não esteja confirmada a taxação, o mercado já se posicionou em relação a isso – explica o analista da Safras e Mercado Luiz Fernando Gutierrez Roque.
Índio Brasil dos Santos, sócio da Solo Corretora, observa que o momento atual é de tensão. A desvalorização do grão ocorre pela especulação de que a taxa tenha impacto sobre a demanda chinesa pela soja americana – o país asiático é o maior comprador do grão produzido nos EUA.
– O mercado em Chicago não é regido somente por oferta e demanda. Com essa possível retaliação, os fundos saíram da posição que estavam e diminuíram muito sua participação de mercado – acrescenta Santos.
A adoção – ou não – da tarifa é esperada para o dia 6 de julho. Roque avalia que, em confirmada a medida, a cotação poderia cair ainda mais. Por ora, é difícil prever qual seria o piso.
Santos avalia que o movimento dessa disputa comercial entre os dois países tem três efeitos.
No curto prazo, pode fazer a soja se desvalorizar ainda mais.
No médio, a China teria dificuldade de cumprir o volume de compra com outras origens e haveria uma mudança no cenário global do grão.
No longo, essa queda de preço desestimularia o produtor americano a plantar soja, fazendo os preços subirem.
Em contrapartida à desvalorização em Chicago, os prêmios de exportação no Brasil têm crescido. Mas a tensão criada com a rivalidade entre americanos e chineses fez o mercado perder a dinâmica – ainda que tenha sido inicialmente favorável.
– Estamos há praticamente 60 dias em meio a essa crise entre EUA e China. Em um primeiro momento, as empresas que estavam vendidas correram para soja brasileira – explica Santos.
Neste momento não há, no entanto, pressão de compra nem de venda pelo produto brasileiro.