Nos três meses que antecederam o início das feiras de terneiros no RS, 20.798 bovinos vivos foram exportados pelo porto de Rio Grande – número histórico e duas vezes superior ao volume embarcado no primeiro trimestre do ano passado.
A debandada de gado em pé para fora do país, onde o mercado hoje remunera melhor, impactará diretamente nas batidas de martelo na temporada de outono.
Além da provável redução da oferta colocada em pista, a liquidez de terneiros vivos no Exterior tende a valorizar os lotes que ficarão aqui.
O efeito no porto já foi sentido nos primeiros remates, que tiveram médias acima do esperado. Na 30ª Feira de Terneiros, Terneiras e Vaquilhonas de Santo Antônio da Patrulha, realizada há uma semana, os machos foram negociados em média a R$ 5,83 o quilo, e as fêmeas, a R$ 5.
Um dos lotes de terneiros alcançou média de R$ 7 o quilo. Quase toda a oferta, de 605 animais, foi negociada – com exceção de 15 exemplares.
– A exportação de gado em pé trouxe um fôlego à pecuária, justamente em um momento de baixa do preço do boi gordo – avalia Francisco Schardong, presidente da Comissão de Exposições e Feiras da Federação da Agricultura do Estado (Farsul).
Em Cachoeira do Sul, o resultado da 48ª Feira de Terneiros, Terneiras e Vaquilhonas também refletiu o mercado impactado pelo aumento das exportações de animais vivos. Dos 869 exemplares colocados em pista, todos foram vendidos. Entre os machos, a média foi de R$ 5,52.
– Se não fosse a exportação, talvez sobrassem terneiros. E o valor das médias só não foi maior por conta do preço do boi gordo, que segue baixo – diz Vinícius Porto, presidente do Núcleo de Produtores de Terneiros de Corte de Cachoeira do Sul.
Além da sustentação dos preços no mercado interno, por conta da expectativa de menor oferta de animais em pista, a demanda externa por bovinos brasileiros tende a estimular a procura por fêmeas nas feiras de outono.
– A liquidez do mercado, seja para exportar ou vender aqui, levará muitos criadores a investirem em ventres – confirma Jarbas Knorr, presidente do Sindicato dos Leiloeiros Rurais do Rio Grande do Sul (Sindiler-RS).
Apesar da boa expectativa, o dirigente prefere não arriscar projeção de oferta de animais e de médias na temporada.
Embarques mudam manejo no campo
O aquecimento do mercado externo de gado em pé vem provocando uma mudança no manejo dos animais nos campos gaúchos. Tradicionalmente castrados ao nascer ou antes do desmame, os terneiros passaram a ser mantidos inteiros visando as exportações – já que os importadores exigem animais não castrados.
– Muitos criadores estão aguardando até o desmame para decidir sobre a castração – relata Fernando Velloso, da assessoria agropecuária FF Velloso & Dimas Rocha.
O estímulo para mandar os animais ao porto, em vez de vender nas feiras de temporada, vem da diferença no preço – cerca de R$ 1 a mais por quilo nas exportações.
– A opção é financeira. Temos de decidir pela venda que viabilize o nosso negócio, ainda mais em ano com preço baixo do arroz – diz José Roberto Pires Weber, presidente da Associação Brasileira de Angus, ao lembrar que muitos pecuaristas são também arrozeiros.
Além da maior remuneração, os criadores ainda têm a vantagem de não gastarem com frete nas exportações. Nas feiras, normalmente precisam arcar pelo menos com parte do transporte dos animais – alguns deles para fora do Estado. Outro fator, acrescenta Weber, é o de que animais inteiros (não castrados) ganham peso mais facilmente do que os castrados – por questões hormonais. O entusiasmo com as vendas externas, no entanto, se mistura com a incerteza sobre a regularidade dos embarques nos próximos meses.
– Ainda não sabemos se esse tipo de comercialização se manterá firme. Mas o fato é que essa mexida no mercado vai estimular os produtores de genética a ter um terneiro de melhor qualidade – afirma Luciano Dornelles, presidente da Associação Brasileira de Hereford e Braford.