As condições climáticas adversas devem impactar na produtividade e na qualidade da produção de cevada cervejeira – de maior qualidade – no Rio Grande do Sul. Após duas safras frustradas e expectativa de colheita farta neste ano, o excesso de chuva das últimas semanas poderá ocasionar redução de 10% no rendimento esperado para a cultura – 3,3 toneladas por hectare. Diante do cenário, as lavouras gaúchas ainda têm potencial para produzir 153 mil toneladas do grão se considerada nova estimativa de produzir três toneladas por hectare.
– Há clima de apreensão, pois a qualidade ainda é duvidosa em função do tempo – avalia o agrônomo Claudio Doro, gerente regional da Emater em Passo Fundo, onde a colheita começou nessa semana.
De acordo com o técnico, alguns produtores coletaram amostras e já verificaram que o grão não terá qualidade para cevada cervejeira.
O Estado tem 1,6 mil produtores integrados à Ambev, que possui duas maltarias em solo gaúcho, uma em Porto Alegre e outra em Passo Fundo.
De acordo com os dados da empresa, nesta safra foram semeados 51 mil hectares de cevada – 8,5% a mais que em 2015, mas bem abaixo dos anos 1990, quando a área cultivada chegou a 100 mil hectares.
A instabilidade climática é um dos entraves para a expansão da cultura no Rio Grande do Sul. Entretanto, há alguns atrativos capazes de estimular os agricultores. Um deles é o custo de produção 15% menor em relação à cultura do trigo, destaca o agrônomo Euclydes Minella, pesquisador em melhoramento genético da Embrapa Trigo, de Passo Fundo. A liquidez do grão é outra vantagem, já que neste caso o produtor é integrado e tem garantia de compra pela indústria.
Nicho de mercado das culturas de inverno
O produtor Diones Carmo, ampliou em 60% a lavoura e neste ciclo cultiva área de 160 hectares de cevada em Pontão. Há 25 anos na cultura, considera que o grão é um nicho de mercado interessante entre as culturas de inverno. A produtividade média da sua propriedade é 3,6 toneladas por hectare.
As condições climáticas favoráveis durante todo o inverno, com frio e umidade do solo na hora certa, favoreceram. E, mesmo com as chuvas no final do ciclo, não registrou perdas, diferentemente de outros produtores da região. Na Fazenda Tabocas, Carmo projeta que as lavouras estão com potencial de produzir até quatro toneladas por hectare. Entre os diferenciais da cultura em relação ao trigo, o produtor ressalta a definição prévia da comercialização por meio desta parceria, já que a Ambev garante a compra do grão mesmo que não tenha a qualidade necessária para ser transformado em malte.
– A comercialização já tenho, só preciso atender à qualidade necessária. Ficamos livres de um mercado cada vez mais difícil para as culturas de inverno – ressalta Carmo, que espera receber entre R$ 36 e R$ 38 pela saca de 60 quilos.
Leia mais:
Cultivo de cevada cresce no Rio Grande do Sul
Clima e preço favoráveis para cultivo de cevada e canola
Produção 100% Ambev
No Rio Grande do Sul, todos os produtores de cevada em escala comercial são integrados à Ambev. Para abastecer as maltarias, são necessárias 270 mil toneladas do grão/ano. Para 2017, deverá ser importado menos de 50% da demanda. Em 2016, chegou a 90% do volume, em função da quebra de safra. Para driblar a falta de matériaprima, a Ambev estimula estudos sobre a cultivar.
– Precisamos ter as variedades corretas para os produtores certos nas regiões corretas – explica o diretor de Agronegócio da Ambev, Marcelo Otto.
Para avançar no melhoramento genético, 300 variedades estão em estudo. Deste total, 20 cultivares podem entrar no mercado em até dois anos e duas devem ser disponibilizadas aos produtores em 2017. Desenvolvidas pela Embrapa em parceria com a Ambev, as cultivares estão em teste. O material foi apresentado aos produtores em dia de campo realizado em outubro, em Passo Fundo. Hoje, os produtores utilizam quatro variedades. Segundo Otto, a pesquisa em genética e manejo ajuda a intensificar e atingir o potencial máximo do cereal.
Um dos objetivos da Ambev é aumentar a quantidade de proteína do grão. O tema vem sendo pesquisado pela Faculdade de Agronomia da Universidade de Passo Fundo (UPF).
CEVADA NA MALTARIA
O processo de malteação do grão de cevada demora, em média, seis dias. Confira como funciona:
1ª etapa - Maceração: é a imersão da cevada em água potável. O grão é submetido a condições de umidade para estimular a germinação.
Tempo médio: 35 horas
2ª etapa - Germinação: o grão fica em temperatura entre 15ºC e 20ºC para desenvolver enzimas necessárias ao processo de malteação.
Tempo médio: 80 horas
3ª etapa - Secador: é feita entre 20ºC e 100ºC, conforme o malte que a indústria pretende obter - claro ou escuro.
Tempo médio: 20 horas