A intensidade da chuva e do vento do furacão Helene, que causou prejuízos materiais e deixou mais de 200 mortos nos Estados Unidos, foi 10% mais forte devido à mudança climática, segundo um estudo publicado nesta quarta-feira (9).
O trabalho foi feito pela Rede Mundial de Atribuição (WWA, na sigla em inglês). Os combustíveis fósseis tornaram a formação de furacões 2,5 vezes mais provável no Golfo do México, conforme os pesquisadores.
Ou seja: se antes ocorriam a cada 130 anos, agora são registrados em um intervalo de 53.
Diretor da WWA, Friederike Otto, afirma que, embora a porcentagem de "10% mais forte" pareça baixa, o incremento pode mudar a dinâmica de um furacão:
— Uma pequena mudança em termos de perigo pode realmente significar uma grande mudança no impacto e danos.
Para estudar o Helene, os cientistas se concentraram na chuva, no vento e na temperatura da água no Golfo do México, um fator fundamental para a formação.
— Todos os aspectos do fenômeno foram intensificados pela mudança climática em vários graus. Veremos mais do mesmo se o planeta continuar aquecendo — concluiu Ben Clarke, coautor do estudo e pesquisador do Imperial College London, em uma conferência de imprensa.
O estudo foi divulgado enquanto o Estado da Flórida é ameaçado por outro grande furacão, o Milton, 10 dias após ter sido atingido pelo Helene.
Como o estudo foi feito
A WWA avalia regularmente a relação entre fenômenos extremos em todo o mundo e a mudança climática. O estudo foi realizado por cientistas dos Estados Unidos, Reino Unido, Suécia e Holanda, que utilizaram três métodos.
Para as tempestades, optaram por uma abordagem baseada em observações e modelos climáticos, diferenciando duas regiões: os Montes Apalaches, no interior, e as zonas costeiras, especialmente na Flórida.
Em ambos os casos, segundo o estudo, a chuva aumentou 10% como consequência do aquecimento global, que já é 1,3°C superior ao da era pré-industrial. Para o vento, o método escolhido utiliza dados de furacões desde 1900.
O resultado: o vento do furação Helene foi 11% mais forte – mais 21 km/h mais rápidos – em decorrência da mudança climática.
Os pesquisadores analisaram a temperatura da água no Golfo do México – onde o Helene se formou – que estava cerca de 2°C mais quente do que o normal.
Segundo os pesquisadores, esse recorde de temperatura foi de 200 a 500 vezes mais provável devido à mudança climática.
Os oceanos mais quentes liberam mais vapor d'água, o que fornece energia adicional para tempestades.
— Se as pessoas continuarem queimando combustíveis fósseis, os Estados Unidos enfrentarão furacões ainda mais destrutivos — acrescentou Clarke.