O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a emissão de créditos extraordinários fora da meta fiscal pelo governo federal, para o combate aos incêndios que afetam 60% do território brasileiro. A decisão, assinada neste domingo (15), determina que a medida não afetará os balanços do governo até o fim do ano.
O arranjo é parecido com o chamado Orçamento de Guerra, em vigor durante a pandemia de Covid-19.
Dino também flexibilizou a regra para contratação e manutenção de brigadistas, derrubando o prazo de três meses, em vigor atualmente, necessários para a recontratação de efetivo que já prestou serviço na mesma área.
A autorização de gastos fora da regra fiscal vale até o final deste ano. Os recursos extraordinários, contudo, só podem ser utilizados no combate ao fogo.
Semelhança com enchentes no RS
Dino argumentou na decisão que a crise climática provocada pelas queimadas, que já atingem 60% do território nacional, é semelhante à tragédia provocada pelas enchentes no Rio Grande do Sul meses atrás.
"A semelhança jurídica é nítida em relação às recentes enchentes no Rio Grande do Sul, que redundaram em intensas medidas de socorro e reparação", argumentou. "Sob a perspectiva de conflito entre valores constitucionais (Responsabilidade Fiscal e Responsabilidade Ambiental), deve-se fazer preponderar aquele que possui o maior risco de extinguir-se irremediavelmente, qual seja, o Meio Ambiente e a Vida das populações afetadas", prosseguiu o ministro.
Mais brigadistas
Dino ainda autorizou o governo a eliminar o intervalo de tempo previsto em lei para contratar brigadistas temporários pelo Ibama e ICMBio. Atualmente, os órgãos ambientais precisam esperar três meses para efetuar novas contratações. O interregno ficará suspenso até o final deste ano, assim como os gastos fora do arcabouço fiscal.
"Pode-se dizer que as consequências negativas para a Responsabilidade Fiscal serão muito maiores devido à erosão das atividades produtivas vinculadas às áreas afetadas pelas queimadas e pela seca do que em decorrência da suspensão momentânea, e apenas para estes últimos quatro meses do exercício financeiro de 2024, da regra do § 7º do art. 4º da Lei de Responsabilidade Fiscal", escreveu Dino.
O ministro também determinou o uso dos recursos do Fundo para Aparelhamento e Operacionalização das Atividades-fim da Polícia Federal (Funapol) na condução dos inquéritos que apuram crimes ambientais, como queimadas ilegais, na Amazônia e no Pantanal.
O ministro opinou que as consequências negativas para o orçamento da União serão maiores com o impacto nas atividades produtivas em áreas afetadas pelos incêndios do que pela flexibilização da medida nos últimos meses do ano fiscal.
Leia o documento na íntegra
Fogo consumiu um território equivalente ao da Paraíba em agosto
A área queimada no Brasil este ano mais do que dobrou em relação a 2023. Desde janeiro, foram destruídos quase 11,4 milhões de hectares (cerca de 11 milhões de campos de futebol), alta de 116% em relação a 2023. O levantamento é do Monitor do Fogo, do MapBiomas, que reúne ONGs, universidades e empresas de tecnologia.
A escalada de focos de fogo em todo o País é a pior desde o início da série histórica do MapBiomas, de 2019. Em várias regiões do País, a fumaça de incêndios tem deixado o ar poluído e causado fenômenos como a "chuva preta", registrada no Rio Grande do Sul. Só em agosto foram 5,65 milhões de hectares destruídos, área equivalente à do Estado da Paraíba.
O governo Lula foi alertado antecipadamente sobre a seca e o risco de incêndios florestais no Brasil, segundo o jornal Estado de S. Paulo. Uma série de documentos incluindo ofícios, notas técnicas, atas de reuniões e processos judiciais mostra que a gestão petista tinha ciência do que estava por vir desde o início do ano.
O Ministério do Meio Ambiente afirmou, após a publicação da reportagem, que o governo se antecipou, mas que ninguém esperava eventos nas proporções atuais e que não é possível controlar a situação se o "povo" continuar provocando incêndios.