Se no sul do Brasil os termômetros registram recordes de temperatura mínima nos últimos dias, na região do Centro-Oeste o cenário congelante dá lugar ao fogo. É um inverno de contraste, com massas de ar polar e ondas de calor que dividem o país e expõem os extremos de cada região.
No Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, houve recordes de frio nesta segunda-feira (1º) e no domingo (30). Em São Joaquim, na serra catarinense, os -7,8°C do fim de semana congelaram águas e galhos de árvores. Já no Mato Grosso do Sul, são as queimadas que se espalham e já devastaram 520 mil hectares este ano, conforme o governo estadual, levando, inclusive, ao decreto de situação de emergência.
Meteorologista da Climatempo, Guilherme Borges explica que a discrepância é verificada tendo em vista a posição das regiões. Apesar de o Brasil ser majoritariamente tropical, o sul do país se concentra mais abaixo, no extratrópico, sofrendo maior influência quanto à queda de temperatura.
— Principalmente o centro-oeste, sudeste, norte e nordeste brasileiro têm um clima muito bem definido. Nessa época do ano chove menos lá, e a temperatura não cai tanto. Além disso, as queimadas na região do Pantanal têm explicação na influência que vinha do fenômeno El Niño e das diversas ondas de calor — detalha.
Para agravar a situação, Borges explica que bloqueios atmosféricos atuantes no Centro-Oeste deixaram os índices de temperatura acima da média e impactaram diretamente na chuva, provocando acumulados menores do que o esperado e aumentando em 1.500% as queimadas na comparação com o ano passado, considerando período de janeiro a 17 de junho. De janeiro a maio deste ano, segundo o Estadão, 1.276 quilômetros quadrados pegaram fogo, uma área equivalente a 178.700 campos de futebol.
O meteorologista afirma que agora houve uma quebra do bloqueio atmosférico, mas as massas de ar polar que passam pelo Sul não avançam de maneira significativa justamente em função do calor na outra região. Por aqui, as frentes frias e instabilidades que se formam sobre a Argentina acabam ficando bloqueadas.
— Então, consequentemente, o frio e a chuva ficam concentrados no Sul. A gente está tendo uma massa de ar muito fria agora e um Brasil muito quente na Região Central. Essa massa de ar polar deve se deslocar nos próximos dias para a faixa mais marítima, sair do Sul, mas não afetar de maneira tão significativa a Região Central — acrescenta Borges.