A 40 quilômetros do centro de São José dos Ausentes, na localidade de Faxinal Preto, a lida começa junto com o nascer do sol. Nem no dia mais frio do ano até aqui a rotina mudou. Com termômetros marcando -4ºC no domingo (30), conforme a Climatempo, a Agroindústria Fazenda Souza Pereira começa o tratamento do gado e ordenha das vacas por volta das 6h30min. A empresa familiar é especializada na produção de queijo serrano. Também trabalha com gado de corte e pinhão. A mesma realidade se repete para os demais produtores das cidades dos Campos de Cima da Serra.
Por volta das 6h45min, Marizete de Souza Pereira, 43 anos, aguardava a reportagem perto do fogão a lenha. Ali, além de se aquecer, esquenta o café para levar ao marido, Henrique Simão Pereira, 49. Entre a ordenha, o casal aproveita o camargo (bebida que é a mistura do café com o leite recém ordenhado da vaca). Uma opção, assim como o mate, para encarar o frio.
— Tem que gostar da lida. É para quem é criado nela, vamos dizer assim — diz Pereira.
O frio, mesmo rigoroso, faz parte da rotina. O casal levanta por volta das 5h30min. O que muda com as baixas temperaturas, como diz Marizete, é só que podem ficar alguns minutos a mais na cama. O trabalho precisa seguir da mesma forma, como descreve Pereira.
— Na verdade, o frio a gente sente mesmo, né? Mas é o primeiro aqui esse ano, o mais forte na região. Mas, por assim ser acostumado, então a gente se prende com o agasalho e toca a lida normal — conta o produtor.
A ordenha segue por cerca de duas horas. Ao fundo do galpão, pode-se observar os campos ainda com cristais de gelo, quase embranquecidos - mas não tanto como em outros invernos. Depois, vem o trabalho no campo. Ao mesmo tempo, Marizete fica encarregada do leite e dos serviços de produção do queijo. Entre um serviço e outro, uma observada nas torneiras para ver se a água já descongelou. Pausa para o café e, depois, a lida segue.
Há épocas em que a produção do queijo serrano chega a 10kg por dia. Muitos dos consumidores vão até a fazenda buscar o delicioso queijo, seja moradores ou visitantes.
— O queijo vive as quatro estações. Ele também muda conforme as estações. O turista valoriza bastante o nosso queijo — lembra Marizete.
O objetivo é aumentar a produção. A família trabalha com o queijo serrano, marca da região, desde 1999. Mas, foi a partir de 2018, com apoio da Emater-RS, que a agroindústria foi oficialmente registrada. Os filhos Murilo, 21 anos, e Milena, 11 anos, acompanham a lida. Os planos são de seguir no ramo e com a rotina, faça frio ou faça calor.
— A lida tem que seguir — resume Pereira.