Mesmo com o tempo seco e o sol brilhando, os termômetros em São José dos Ausentes já marcavam 4ºC por volta das 16h de sábado (29), depois da madrugada chegar a -0,2ºC. A expectativa, conforme a previsão do tempo, é de chegar a -7ºC na madrugada de domingo (30). O frio, junto ao vento congelante do acolhedor município dos Campos de Cima de Serra, é uma boa notícia ao turismo local. Desde a manhã, a rótula de acesso à cidade estava movimentada. A prefeitura não tem uma estimativa da ocupação na hotelaria. Mas, a chegada em peso dos turistas já é celebrada.
Em um primeiro momento, como notado pelos próprios moradores, o centro de Ausentes parece calmo como sempre. É uma cidade de cerca de 4,1 mil habitantes. O que acontece — e que é observado pela reportagem — é que muitos turistas se dirigem as confortáveis pousadas no interior. A partir delas, a vista de tirar o fôlego para os cânions, que marcam a região bem como as baixas temperaturas, ficam mais próximas. Do centro aos cânions, a distância é de cerca de 40 quilômetros. O que separa estes dois pontos é uma estrada de chão com a vista de um céu azul que mistura-se com o verde de campos intermináveis. No mesmo trajeto, tem que ter cuidado até com vacas, cavalos e lebres que surgem.
O frio, ainda assim, é o grande impulsor deste movimento. É como atesta o proprietário da Pousada Fazenda Montenegro, Anapio Pereira, 48 anos. A espera por um frio como deste final de semana estava grande. Apesar de já ter algumas reservas agendadas, uma procura maior surgiu com a previsão das temperaturas negativas.
— A temporada do inverno é o movimento mais esperado. O frio meio que decepcionou até então. Essa semana que veio forte. Mas, já estamos no final de junho. Mas, ele pode se estender. O frio é certo que vem no topo do Rio Grande, no Montenegro — relata Pereira, que tem a hospedagem há 25 anos.
Como mora a vida inteira no município, o dono da pousada está acostumado com o frio. O que ele mais sente, como conta, são os primeiros dias. O vento é o que dá a sensação gelada. E é esse sentimento que turistas procuram. Pereira conta que a chuva de maio fez reduzir a vinda do turista gaúcho. Neste momento, muitos de Santa Catarina e Paraná são recebidos.
É o caso do casal Ilamar Esplendor, 57 anos, e Marilsa da Silva, 50, de Videira, em Santa Catarina. Cerca de 380 quilômetros longe de casa, eles estão conhecendo Ausentes pela primeira vez. Estão com um grupo de amigos de Pato Branco (PR), que já vieram sete vezes e os convidaram. Não só com o frio ficaram impressionados. Eles também ficaram encantados com a paisagem do Cânion Montenegro, um dos dez que podem ser vistos a partir do município.
— O frio atrai. Na nossa região faz frio, mas não igual aqui. Nós sempre quisemos vir num lugar mais frio, mas nunca tínhamos vindo. Mas, as paisagens não imaginávamos como são lindas — conta Esplendor, que trabalha com construção civil.
O frio também proporciona experiências de relaxamento. Os turistas se aquecem em frente a lareiras, servidos de quentão, pinhão e comidas quentes.
Um passeio pelo Cânion Montenegro
A reportagem chega ao Cânion Montenegro, o mais alto do Estado, com 1,4 mil metros de altitude, no pôr do sol. A paisagem é exuberante. Nem mesmo o frio e o vento que parece queimar a pele atrapalham o momento de contemplação. É até por isso que mesmo com a sensação em zero grau, ainda havia pessoas aproveitando mais alguns minutos ali. O local é aberto ao público.
É o caso do guia de turismo Edson Mazera, 53 anos, e da médica Luciana Staudt, 51. Ele tem uma empresa de turismo de aventura, então já visitou inúmeras vezes a região, seja para trabalho ou para descansar. Inclusive, Mazera já percorreu a pé todos os cânions. Os dois se dizem simplesmente apaixonados por São José dos Ausentes.
— Viemos seguido para cá. Já fizemos várias trilhas por aqui. Somos apaixonados por essa região. É tudo perfeito — diz Luciana.