Dentre os mais de 68 mil desastres naturais registrados em todo o território brasileiro, desde 1991 até 2023, cerca de 8,5 mil ocorreram no Rio Grande do Sul. Isso representa 12,5% dos registros, deixando o Estado como o segundo do país com a maior soma de desastres. Os números são do Atlas Digital de Desastres no Brasil, até 2022, somados com os registros feitos em 2023 no Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2ID).
Se considerados apenas os dados entre os anos de 1991 e 2022, o RS teve 7.565 desastres registrados. Isso representa 12,15% de todas ocorrências no Brasil durante o período. Os números consideram registros da Defesa Civil Nacional, que reconhece 65 variações de desastres através da Classificação e Codificação Brasileira de Desastres (Cobrade).
Eles são divididos em duas grandes classificações: naturais e tecnológicos. Porém, os classificados como naturais são a imensa maioria. De todos os registros, no período no RS, apenas 13 são listados como tecnológicos. A primeira categoria inclui desastres do grupo geológico, hidrológico, meteorológico, climatológico e biológico. Já a segunda engloba questões relacionados a substâncias radioativas, produtos perigosos, incêndios urbanos, obras civis e transporte de passageiros e cargas não perigosas.
Conforme os dados, quase 50% das ocorrências, 4,1 mil, foram realizadas por municípios do Noroeste. As cidades da região com as maiores somas de registros chegam a 30 ou mais ocorrências, sendo que Soledade é a única com o total de 38, se aproximando de 40 desastres nas últimas três décadas.
Registros de desastres por regiões do RS e cidades com maior ocorrência:
- Noroeste: 4.153 (48,88%) | Cidades: Soledade (38 registros), Fontoura Xavier (34), Nonoai (33), Crissiumal (32) e Espumoso (30)
- Metropolitana de Porto Alegre: 1.107 (13,03%) | Cidades: São Jerônimo (46), Eldorado do Sul (30), Montenegro (28), General Câmara (27), e Igrejinha (25)
- Centro Oriental: 1.061 (12,49%) | Cidades: Santa Cruz do Sul (77), Cachoeira do Sul (45), Sobradinho (40), Rio Pardo (35) e Estrela (33)
- Nordeste: 610 (7,18%) | Cidades: Lagoa Vermelha (27), Caxias do Sul (22), Putinga (22), Santa Tereza (22) e Vacaria (20)
- Centro Ocidental: 600 (7,06%) | Cidades: Santa Maria (39), Júlio de Castilhos (28), Agudo (27), Restinga Seca (27) e Nova Palma (25)
- Sudeste: 534 (6,28%) | Cidades: Canguçu (38), Piratini (36), Arroio Grande (32), Caçapava do Sul (27) e Cristal (27)
- Sudoeste: 432 (5,08%)| Cidades: Dom Pedrito (32), São Borja (32), Alegrete (29), Manoel Viana (28) e Rosário do Sul (28)
Apesar do número superior de registros no Noroeste, as cidades com as mais desastres registrados não estão na região. A maior soma de ocorrências no Estado é de Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo, onde foram feitos 77 registros ao longo do período. O município foi atingido por 22 desastres classificados como chuva intensa, além de 19 vendavais.
Confira as cinco cidades do RS com mais registros e seus três principais tipos de desastres:
- Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo (77 registros): chuva intensa (22), vendaval (19) e estiagem (10)
- São Jerônimo, na Região Carbonífera (46): inundações (17), estiagem (8) e enxurradas e vendavais (7 cada)
- Cachoeira do Sul, Região Central (45): inundações e vendavais (11 cada) e estiagem (7)
- Sobradinho, no Vale do Rio Pardo (40): estiagem (11), vendaval (10) e granizo (7)
- Santa Maria, Região Central (39): estiagem e vendaval (11 cada) e alagamentos (10)
Décadas e anos com mais desastres no RS
Os dados dos últimos 34 anos de desastres mostram que, até o momento, a década de 2010 é a que possui a maior soma de registros. Entre os anos de 2010 e 2019, mais de 2,7 mil ocorrências foram registradas pelos municípios gaúchos.
Confira quantidade de registros de desastres por décadas no RS:
- Década 1990: 996 registros (11,72%)
- Década 2000: 2.557 registros (30,09%)
- Década 2010: 2.780 registros (32,72%)
- Década 2020 (até 5/1/2024): 2.164 registros (25,47%)
É importante destacar que o S2ID foi implantado somente em 2013 e que os registros anteriores a ele foram adicionados à base de dados do Atlas Digital por meio da busca ativa, que iniciou em 2009 e foi finalizada em 2011. Sendo assim, o baixo número de registros na década de 1990 e o aumento na década de 2010 em diante possivelmente se devem a essa diferença entre a fonte e o padrão dos registros.
Outra mudança ao longo dos anos também influência na quantidade de ocorrências. Conforme Rafael Schadeck, coordenador técnico do Atlas Digital até 2022, com a utilização dos dados obtidos pelo S2ID para auxiliar na tomada de decisão sobre investimentos e políticas públicas federais, o registro dos desastres passou a ter mais atenção e importância para os governos municipais.
— Hoje mais da metade dos registros no sistema é feito simplesmente para registrar (o desastre). Não são nem declaradas como situações de emergência. Ou seja, cada vez mais os municípios estão entendendo a importância de você ter uma base de dados consistente para os governos federais e estaduais entenderem perfil de riscos e as recorrências de desastres — enfatiza Schadeck.
Além da mudança na cultura das Defesas Civis Municipais, o intenso El Niño que começou a atingir o Estado em 2023 pode ser um dos motivos que faz esse ser o ano com a maior soma de registros, até o momento. Mas apesar desses fatores que influenciam na quantidade de registros feitos, dois dos cinco anos com mais ocorrências no RS são anteriores a implementação do sistema.
Confira os cinco anos com mais registros e os tipos de desastres mais frequentes no RS:
- 2023: 928 registros (10,92% de todos os registros do Estado) | Desastres: estiagem (367), chuva intensa (271) e enxurradas (83)
- 2009: 656 registros (7,72%) | Desastres: estiagem (280), vendaval (136) e enxurradas (122)
- 2020: 545 registros (6,41%) | Desastres: estiagem (431), vendaval (52) e inundação (20)
- 2005: 438 registros (5,15%) | Desastres: estiagem (289), seca (136) e granizo (7)
- 2022: 435 registros (5,12%) | Desastres: estiagem (320), vendaval (47) e granizo (25)
Schadeck explica que a predominância nos registros de estiagem se deve às características do fenômeno climatológico. Diferente dos demais, ele é considerado como um desastre gradual, que vai se agravando ao longo de dias, e, normalmente, atinge várias cidades de uma região, diferente de uma inundação, por exemplo. Então, como é feito um registro para cada município, a soma desse tipo de ocorrência acaba sendo mais alto.
Confira mapa dos desastres no RS:
Dados após 2022
Os registros de desastres feitos após 2022 incluídos na reportagem não passaram pelo tratamento de dados do Atlas Digital. Esse processo é necessário para correção e retirada de protocolos preenchidos erroneamente.
Conforme destaca o Atlas Digital, os erros podem acontecer, pois os registros são feitos manualmente e, geralmente, no momento do preenchimento, o responsável pela função no município se encontra sob pressão devido ao desastre. Além disso, a criação de um novo protocolo, ao invés de atualizar os números do original, é uma prática comum e que causa duplicidade dos registros.
Diante disso, para evitar números muito distorcidos na análise da reportagem os dados passaram por uma rápida avaliação. Nesse processo, alguns protocolos que indicavam duplicidade foram retirados e foi decidido não apresentar informações sobre danos e prejuízos registrados, devido a presença de valores muito elevados, que indicavam possíveis erros de digitação.