Um fenômeno chamou atenção de quem passou pela Praia do Cassino, em Rio Grande, na última semana. Trechos de areia foram cobertos por briozoários, animais invertebrados parecidos com algas. Não é a primeira vez que isso acontece, mas a quantidade percebida na praia na última semana surpreendeu até mesmo especialistas que monitoram a costa. O aparecimento teria relação com as fortes ressacas causadas pela tempestade Yakecan em maio.
Conforme André Colling, professor do Instituto de Oceanografia da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), os animais são da espécie Membraniporopsis tubigera, considerada exótica no Litoral Sul.
— As regiões costeiras oceânicas possuem muitas espécies de briozoários. Mas essa espécie, em particular, não é nativa do Brasil. Ela foi mapeada primeiro na região do Golfo do México — afirma Colling.
A espécie começou a ser registrada na costa brasileira a partir dos anos 2000. Ela se desenvolve no fundo do mar e já foi encontrada a até 15 metros de profundidade. O briozoário se aproveita da falta de predadores naturais nessa região.
— Com condições ambientais adequadas, a espécie se desenvolve em grandes quantidades e, depois de uma perturbação no fundo, como uma ressaca com fortes ondulações, os indivíduos são arrancados e transferidos por toda a praia — explica Colling.
Neste período do ano, o movimento da praia costuma ser menor por conta do frio. No verão, quando o fluxo de banhistas é intenso, a previsão é de que o aparecimento dos briozoários seja reduzido, já que as ressacas são menos frequentes. De qualquer forma, esses animais não representam perigo ao ser humano. Mas o risco biológico preocupa, porque a espécie pode interferir no ecossistema local. Entretanto, conforme Colling, os efeitos a médio e longo prazo ainda não são claros.
A Furg monitora a situação com ações como os Programas Ecológicos de Longa Duração (PELD) e o Projeto de Monitoramento do Porto de Rio Grande.
Prefeitura avalia retirada do material
A prefeitura do Rio Grande avalia se vai fazer a retirada manual dos organismos da praia. O epicentro do aparecimento dos briozoários foi em um faixa de cerca de 200 metros, perto dos molhes.
— Estamos esperando. Há previsão de uma ressaca a partir desta sexta. Então, vamos aguardar a ação do mar, se vai espalhar mais ou até quem sabe puxar os animais de volta para a água — afirma Irajá Pelegrini, secretário do Cassino.