As águas do Guaíba tiveram, nesta quinta-feira (9), um encontro inédito com um pedaço da história gaúcha. Uma reprodução do barco Seival, usado pelo líder farrapo Giuseppe Garibaldi, chegou junto com o pôr do sol ao Clube Veleiros do Sul, na zona sul da Capital. O barco foi construído com o objetivo de resgatar a história da Revolução Farroupilha e de conscientizar crianças sobre a relação com o meio ambiente e o cuidado com as águas.
Toda em madeira, com dois mastros de igual tamanho e fundo chato de pouco calado, como a original, a escuna partiu por volta das 9h de Itapuã, em Viamão, após ser visitada por cerca de 30 crianças da Escola Estadual de Ensino Médio Dr. Genésio Pires. Sob forte neblina, navegou usando o motor em vez das velas até Barra do Ribeiro, onde mais crianças puderam conhecer o barco.
— Não se enxergava nada, só nos guiamos pelo GPS. A neblina molhou o cabelo, a roupa, embaçou os óculos: a cara do inverno. O sol só apareceu à tarde — conta a arquiteta Sandra Garcez, 56 anos.
No começo da tarde, o barco partiu com 22 pessoas, incluindo a tripulação, jornalistas, autoridades e curiosos, a Porto Alegre — onde o Seival original nunca ancorou.
O barco começou a ser construído em 2019 em Camaquã, com dimensões semelhantes à embarcação farroupilha: 15 metros de comprimento e 12 de altura. Em março, foi levado de carreta em um comboio pela BR-116 até a Lagoa dos Patos, sendo ancorado no ponto em que seu original esteve em 1839. Antes de chegar ao Guaíba, teve suas velas postas à prova de Arambaré para Tapes.
O idealizador do projeto é o professor Antônio Carlos Rodrigues, 59, que resolveu tirar do papel a planta feita pelo modelista naval Luiz Lauro Pereira Júnior. O valor investido foi de aproximadamente R$ 600 mil, arrecadados pela Associação Amigos do Seival. O motor foi pago por parentes de Giuseppe e Anita Garibaldi, moradores da Itália.
A embarcação, acrescenta Antônio, não está concluída: faltam, por exemplo, as reproduções dos canhões e o museu planejado para a parte interior do barco - já carrega peças usadas para construção de embarcações, balas de canhão, uma âncora centenária e uma luneta do século 19. Para terminar o barco e mantê-lo navegando, a associação criou um financiamento coletivo, que pode ser acessado neste link.
O barco ficará no Veleiros do Sul para que associados do clube o visitem no sábado (11). Ainda não está definido quando o lanchão partirá para sua próxima viagem, mas o objetivo é levá-lo ao oceano e subir a costa gaúcha até a cidade catarinense de Laguna, tomada por Garibaldi com o Seival em 22 de julho de 1839.
No futuro, Antônio ainda quer chegar com a embarcação à Itália, onde o líder farrapo morreu, em 1882.
— Quanto mais eu aprendo (sobre navegação), mais eu sei que será difícil — ri o professor. — Mas ainda não desisti.