Depois de perder o sono diante de tanta ansiedade para ver seu barco navegar, o professor Antônio Carlos Rodrigues, 59 anos, agora respira aliviado. O educador é o idealizador do barco Seival, uma reprodução da embarcação usada por Giuseppe Garibaldi na Revolução Farroupilha que foi colocada sobre as águas em 1839.
Em uma versão mais moderna, já que conta com um motor para acompanhar as velas (essas sim, iguais ao original), o novo Seival tem cerca de 15 metros de comprimento e 12 metros de altura. Em março, o barco chamou atenção dos moradores de Arambaré, quando saiu de Camaquã e foi levado de carreta pela BR-116 até a Lagoa dos Patos.
O barco Seival saiu 9h45min de Itapuã nesta quinta-feira (9). Fez uma parada em Barra do Ribeiro, para um almoço, perto das 12h. Depois partirá para Porto Alegre, com previsão de chegar ao Clube Veleiros do Sul, no final da tarde. O plano é permanecer na Capital.
Itinerário
Desde o começo da construção, em 2019, o desejo de Rodrigues era ver como Seival se comportaria sobre as águas. O sonho se realizou na última sexta-feira (3), quando o professor e sua equipe colocaram as velas à prova e partiram de Arambaré para Tapes.
— Foi uma velejada fantástica! Velejamos mais de duas horas só na vela. No meio de tanta preocupação, quando me dei por conta eu estava dentro do barco — lembra entre lágrimas o professor.
Passado o frio na barriga inicial, era hora de seguir o itinerário. Então, o grupo voltou a velejar e chegou na quarta-feira (8) à tarde em Itapuã, ancorando no Clube Náutico da cidade para passar a noite dentro do barco.
—Ele tem uma performance muito boa — elogia Francisco Alfaya, autônomo e velejador que dá o apoio técnico ao professor.
Nesta quinta-feira, a tripulação completa o trajeto, chegando a Porto Alegre no fim da tarde. Durante a manhã, recebeu um grupo de crianças para uma verdadeira aula de história, com direito a objetos centenários. A intenção é promover uma imersão na época das embarcações, indo além do que os livros contam e motivando a imaginação.
— Quem vir vai se emocionar. Eu vi as crianças dentro da embarcação em Arambaré e eles ficam numa agitação que eu tenho certeza que a mensagem sobre a questão histórica vai ficar melhor gravada — explica Rodrigues.
Dentro do lanchão farroupilha, é possível ver peças usadas para construção de embarcações, balas de canhão, uma âncora centenária e a principal relíquia, uma luneta do século XIX, fabricada na Inglaterra. Com a marca Dollond London, o item pertenceu a Carniglia, amigo de Garibaldi. O presente para o Seival foi dado por Luís Fernando Azambuja após ficar mais de cem anos com sua família em Camaquã.
Outro objetivo do projeto, segundo o professor, é conscientizar os pequenos desde cedo sobre a relação com o meio ambiente e o cuidado com as águas. Por isso, o plano agora é fazer parcerias com escolas para que mais turmas conheçam o Seival.
Com um investimento de aproximadamente R$ 600 mil arrecadado por meio de doações e parcerias, o processo de construção sofreu atrasos, principalmente por conta da pandemia e do aumento de preços dos materiais.
— Agora só falta essa ferramenta servir para as crianças e para os adolescentes e que a gente possa contribuir da nossa maneira um pouquinho com a questão ambiental — afirma Rodrigues, destacando que todo o esforço valeu a pena.
Quem tiver interesse em fazer uma visita, pode entrar em contato pela página no Facebook ASAS Camaquã ou pelo e-mail asascamaqua.garibaldi@gmail.com. Também há uma campanha para manter os custos da iniciativa neste site.