Nereu Augusto Streck, professor de Agronomia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), salienta que as altas temperaturas e a maior precipitação prevista para a região onde está localizado o Rio Grande do Sul não atingirão somente a agricultura, mas também a cadeia de produção animal, a produção de hortaliças e, até, os jardins, onde as plantas precisarão ser mais resistentes às alterações bruscas do clima.
Streck reforça que as mudanças climáticas precisam, cada vez mais, fazer parte das pesquisas de desenvolvimento de novas cultivares. E, como consequência, aponta o professor, quem pagará a conta é o produtor e o consumidor.
— Essas plantas precisarão ser mais tolerantes às altas temperaturas, mas não poderão deixar de tolerar o frio extremo. Parece contraditório, mas é unânime: um planeta mais quente também terá ondas de frio mais fortes — afirma.
Streck também se preocupa com as chuvas intensas no Estado, que não significam mais água disponível às plantas e menos seca às lavouras. No caso de enchentes, pode causar prejuízos às lavouras de arroz, que costumam ficar em terrenos mais baixos, e até atraso no plantio do grão. Já as precipitações em curto período, alinhadas ao aumento da temperatura, podem fazer a planta exigir mais água, aumentando os períodos de seca.
Para o especialista em genética e melhoramento de plantas Dilson Antonio Bisognin, que também é professor do Departamento de Fitotecnia da UFSM, será preciso um longo período de tempo para adequar as plantas aos novos cenários.
— É uma preocupação constante porque o aumento da temperatura ainda modificará o comportamento das pragas, das plantas daninhas e das doenças nas lavouras. Existe um enorme potencial de surgirem problemas que não tínhamos nas lavouras — prevê o especialista.
Bisognin reforça que o resultado de uma decisão tomada agora num programa de melhoramento de determinada cultura leva, no mínimo, 13 anos para chegar ao agricultor, pois é o tempo, em média, de investimento em pesquisa de desenvolvimento para um novo cultivar:
— Como anualmente os programas de melhoramentos lançam cultivares, os produtores imaginam que sejam desenvolvidas em poucos anos. Mas a que está sendo lançada em 2021 foi iniciada em 2008.
Segundo Bisognin, em termos mundiais, as cultivares (espécies de plantas que foram melhoradas pelo homem) de commodities, como milho e soja, são desenvolvidas por empresas de grande porte ou multinacionais. Espécies que têm importância regional, como arroz e cana-de-açúcar, são desenvolvidas por universidades, empresas privadas e institutos públicos. Culturas com pouco investimento, como erva-mate e morango, têm pesquisas sendo desenvolvidas apenas em instituições públicas, na maioria em universidades.