As queimadas no norte do Brasil estão chamando a atenção do mundo. Na tarde desta quarta-feira (21), a hashtag #PrayForAmazonas está entre os assuntos mais comentados no Twitter em todo o mundo — chegou a estar em primeiro lugar. Isso porque uma série de focos vem sendo registrados nos últimos quinze dias, na região.
Florestas e matas foram tomadas por chamas em Estados como Amazonas, Tocantins, Mato Grosso, Maranhão e Rondônia. Os olhos dos brasileiros se voltaram ainda mais para essa questão depois de São Paulo ver o dia virar noite no último dia 19, quando o céu paulistano foi tomado por uma espessa fumaça.
Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o número de focos de incêndio florestal aumentou 84% no período de janeiro de 2019 a agosto de 2019 (até o dia 21 de agosto) em relação aos mesmos meses de 2018. No ano passado, nos primeiros oito meses do ano, foram registrados 40.136 focos de queimadas no Brasil contra 74.155 neste ano.
É o maior índice desde 2013 — quando passaram a ser informados dados de período similar. Também conforme dados do Inpe, os Estados mais afetados com as queimadas em 2019 foram: Mato Grosso (13.999 focos de queimadas), Amazonas (7.150) , Tocantins (5.776), Rondônia (5.604) e Maranhão (4.795).
Em julho, o presidente Jair Bolsonaro desqualificou os dados de desmatamento divulgados pelo próprio Inpe. Na mesma época, ocorreram atos como o "dia de fogo". Fazendeiros e grileiros queimaram uma área no sudoeste do Pará. Na data, foi registrado um aumento de 300% nos focos de incêndio em relação ao dia anterior conforme o Inpe.
As hipóteses para as queimadas
Além da ação humana, segundo o Inmet, as queimadas também podem ser causadas pelo tempo seco nas regiões. Segundo Manoel Rangel, meteorologista do instituto, 80% do território nacional fica sem chuva nesta época do ano, o que propicia que o fogo se espalhe.
Conforme o Inpe, as queimadas têm inúmeros efeitos. Entre eles, em um contexto local, a destruição da fauna e da flora, o empobrecimento do solo, a redução na penetração de água no subsolo e, em alguns casos, mortes, acidentes e perda de propriedades. Já no âmbito regional, causam poluição atmosférica e alteram ou destroem ecossistemas. Além de estarem associadas com modificações da composição química da atmosfera, e mesmo do clima do planeta. Apesar disso, o Instituto salienta que as queimadas são parte integrante e necessária de alguns ecossistemas, nos quais ocorrem naturalmente devido a raios e no período de estiagem.
Em entrevista ao portal UOL, o gerente do Programa Amazônia do WWF Brasil, Ricardo Mello, credita as queimadas na região amazônica única e exclusivamente a ação do homem.
— Todo fogo (na região amazônica) é de alguma forma iniciado pelo ser humano. Então esse aumento é diretamente causado pela ação do homem — afirma.
Ao encontro do que foi dito pela WWF Brasil, o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) emitiu nota, nesta quarta-feira (21), dizendo que a umidade na região está mais alta do que nos últimos três anos. Isso descartaria a ideia de que estiagem seria a responsável pelas queimadas que assolam norte e centro-oeste do Brasil.
— Não há fogo natural na Amazônia. O que há são pessoas que praticam queimadas, que podem piorar e virar incêndios na temporada de seca — explica a diretora de Ciência do Ipam, Ane Alencar, uma das autoras da nota.
O que dizem as autoridades
Em entrevista no Palácio do Planalto nesta quarta-feira, o presidente Jair Bolsonaro classificou as queimadas no país como criminosas, mas não descartou que organizações não governamentais (ONGs) de proteção ao meio ambiente possam estar envolvidas nos incêndios ilegais.
— Pode estar havendo, não estou afirmando, ação criminosa desses ongueiros para exatamente chamar a atenção contra a minha pessoa, contra o governo do Brasil. Essa é a guerra que nós enfrentamos. Vamos fazer o possível e o impossível para conter esse incêndio criminoso — disse.
Bolsonaro ainda afirmou que está tratando deste assunto junto aos ministérios da Defesa, da Justiça e do Meio Ambiente e disse que contingentes das Forças Armadas devem, a partir desta quinta-feira (22), intensificar o monitoramento em áreas críticas de incêndios florestais. Ele ainda fez críticas a governadores da região Norte:
— Olha só, tem governador, não quero citar nome, que está conivente com o que está acontecendo e bota a culpa no governo federal. Tem Estados aí, que não quero citar, na região Norte, que o governador não está movendo uma palha para ajudar a combater incêndio. Está gostando disso daí — afirmou.
Já Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, na última terça-feira, em evento em Sertãozinho (SP), negou omissão da pasta em relação à preservação da Amazônia.
— Não há nenhuma omissão do ministério em relação a absolutamente nada. Muito pelo contrário. Nós, apesar das dificuldades orçamentárias, apesar do problema de infraestrutura, apesar de uma série de limitações que vêm administrações após administrações, estamos colocando eficiência administrativa para disponibilizar nesse exato momento todas as equipes — disse.
O fim do Fundo Amazônia
Alemanha e Noruega, na última semana, anunciaram a suspensão do repasse de recursos para o Fundo Amazônia (fundo que une recursos nacionais e internacionais em prol da preservação ambiental). A medida se deu após o aumento do desmatamento na Amazônia e de mudanças na gestão do fundo. Um eventual fim da entidade pode impactar as ações contra o desmatamento ilegal.
Nos últimos dez anos, o fundo contou om 93,8% de verba da Noruega e 5,7% da Alemanha para ações de combate ao desmatamento e desenvolvimento sustentável. O Ibama seria um dos institutos afetados pelo fim do projeto. Recentemente, um acordo tinha sido firmado para que o instituto recebesse recursos para bancar "o pagamento dos meios de transporte adequados para as ações de fiscalização ambiental do Ibama".
Após a interrupção do repasse, governadores integrantes da Amazônia Legal anunciaram que pretendem negociar diretamente com os países envolvidos. As informações são do jornal O Globo.
"O bloco amazônico lamenta que as posições do governo brasileiro tenham provocado a suspensão dos recursos . Nós, governadores da Amazônia Legal, somos defensores incondicionais do Fundo Amazônia", disse em nota em nome do governador do Amapá, Waldez Góes (PDT) na última segunda-feira (19).
O governador do Amapá é presidente do Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia Legal - grupo composto pelos governos de Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.
A reportagem do Jornal Globo ainda diz que, "segundo o comunicado, o bloco já informou ao presidente e às embaixadas da Noruega, Alemanha e França, que o consórcio 'estará dialogando diretamente com os países financiadores do Fundo'".