Depois de ser acusado de atuar "a serviço de alguma ONG" pelo presidente Jair Bolsonaro, o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Magnus Osório Galvão, declarou ao jornal O Estado de S. Paulo neste sábado (20) que Bolsonaro não deve falar como se estivesse em uma "conversa de botequim".
Na sexta-feira (19), em café da manhã com jornalistas estrangeiros, o presidente havia afirmado que os dados sobre aumento no desmatamento da Amazônia não correspondem à verdade.
— Com toda a devastação de que vocês nos acusam de estar fazendo e ter feito no passado, a Amazônia já teria se extinguido — disse o presidente.
Galvão rebateu, no dia seguinte, dizendo que o presidente "não pode falar em público, principalmente em uma entrevista coletiva para a imprensa, como se estivesse em uma conversa de botequim":
— Ele fez comentários impróprios e sem nenhum embasamento e fez ataques inaceitáveis não somente a mim, mas a pessoas que trabalham pela ciência desse país. Ele disse estar convicto de que os dados do Inpe são mentirosos. Mais do que ofensivo a mim, isso foi muito ofensivo à instituição.
O diretor do Inpe afirmou que o desmatamento vem crescendo nos últimos três anos e explicou que o sistema Deter, do Inpe, serve de alerta para ação do Ibama, com margem de acerto de 95%. Comparou os ataques aos que o presidente havia feito com Joaquim Levy, que pediu demissão do BNDES:
— Ele tomou uma atitude pusilânime, covarde, de fazer uma declaração em público talvez esperando que peça demissão, mas eu não vou fazer isso. Eu espero que ele me chame a Brasília para eu explicar o dado e que ele tenha coragem de repetir, olhando frente a frente, nos meus olhos.
Questionado sobre a acusação de que estaria "a serviço de uma ONG", Galvão argumentou:
— Como sou um cientista, não respondo. Um grande prêmio Nobel em Física uma vez falou que certas respostas não devem ser dadas porque são tão absurdas que não estão na natureza. Não vou responder, e ele que me chame pessoalmente e tenha coragem de me dizer cara a cara isso.