É improvável que se abata sobre o Rio Grande do Sul a escuridão que engoliu São Paulo no meio da tarde desta segunda-feira (19). Chamado informalmente de "corredor de fumaça", o fenômeno deu contornos cinematográficos à maior metrópole do país. Às 15h, nuvens escuras encobriram o céu, resultantes de condições climáticas acrescidas de fumaça de vegetação seca queimada, obrigando motoristas a acenderem os faróis dos veículos. Houve chuva com raios e trovões.
De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), características do clima gaúcho, como temperatura mais baixa e umidade mais elevada, devem barrar a entrada das nuvens negras, que podem, entretanto, alcançar Paraná e Santa Catarina.
Após um final de semana de calor, com termômetros perto dos 30°C, São Paulo passou a receber uma frente fria vinda do sul do país. Somaram-se a isso as partículas originadas a partir das queimadas de vegetação seca, comuns no centro-oeste brasileiro nesta época, quando a temperatura está alta e a umidade do ar, reduzida. Também é considerada a interferência de queimadas iniciadas em pontos da Bolívia e do Paraguai.
Ventos soprando do quadrante norte, em direção ao leste e ao sul, espalharam essas partículas expelidas pelo fogo por vários Estados, entre eles, de acordo com o Inmet, Amazonas, Acre, Rondônia, Pará e Mato Grosso. Pelo caminho, outras queimadas foram reabastecendo essa "nuvem de fumaça", que pairou a uma distância de 2 mil a 3 mil metros do solo.
— Queimadas na vegetação seca, para limpar terreno ou espontâneas, são combustível para isso. Formou-se um corredor. O vento vai levando a fumaça, que vai sendo alimentada por outras queimadas, baixa umidade e alta temperatura — explica Hamilton Carvalho, meteorologista do Inmet.
Poluentes
Andressa Lorena, meteorologista da Somar Meteorologia, chama a atenção para um elemento determinante: o acúmulo de poluentes. À poluição habitual que pairava no céu da capital paulista após um final de semana sem precipitações, somou-se aquela resultante das queimas.
— Quando a frente fria chegou a São Paulo na segunda de manhã, encontrou uma atmosfera quente. O contraste térmico foi muito grande e já seria suficiente para causar nebulosidade, mas houve também esse material particulado da poluição e das queimadas. As condições eram muito favoráveis para muita nebulosidade, raios, trovões e muita chuva. A grande cobertura de nuvens acabou bloqueando os raios solares, por isso escureceu tão cedo — detalha Andressa.
Segundo Carvalho, o Rio Grande do Sul não deve estar na rota das nuvens negras. A temperatura baixa e a umidade alta formam uma espécie de barreira.
— A chuva bloqueia a fumaça, limpa o ar. Se fosse só um frio seco, a fumaça poderia chegar até o Rio Grande do Sul — detalha o meteorologista.
Andressa, por sua vez, rechaça a utilização da palavra "fumaça".
— O que tivemos não foi fumaça, mas a formação de uma nuvem espessa, baixa, associada com uma nuvem de tempestade, do tipo cúmulo-nimbo, que vem com raios e trovoadas. Não foi a fumaça que escureceu São Paulo. Esse fenômeno pode ter sido potencializado pela fumaça — esclarece.