O impacto das mudanças climáticas é real, é preocupante e tem efeitos claros no dia a dia de qualquer pessoa. Tomar medidas urgentes para combater o aquecimento global e seus impactos é um dos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU) que devem ser implementados por todos os países do mundo até 2030. E chegar lá passa, necessariamente, por entender o problema e colocar em ação meios de solucioná-lo — tarefa que não deve ficar a cargo apenas dos governos, mas de toda a população mundial.
Afinal, uma das implicações mais inquietantes da mudança climática é sobre a saúde humana. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), “um clima mais quente e mais variável ameaça provocar a elevação da concentração de alguns poluentes no ar, o aumento da transmissão de doenças por água impura e por alimentos contaminados, o comprometimento da produção agrícola em alguns dos países menos desenvolvidos e o aumento dos perigos típicos dos climas extremos”.
“A perspectiva é desafiadora, mas ainda temos a oportunidade de transformar uma emergência médica iminente no avanço mais significativo para a saúde pública neste século. Precisamos de medidas urgentes para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Os benefícios econômicos e de saúde oferecidos são enormes. O custo da inação será contado em perdas evitáveis de vidas em larga escala”, alerta Anthony Costello, coautor do relatório e um dos diretores da Organização Mundial de Saúde.
Parece distante da realidade brasileira? Não se engane. No nosso país, as mortes em decorrência da poluição atmosférica aumentaram 14% em 10 anos, passando de 38.782 óbitos em 2006 para 44.228 em 2016. A constatação é do estudo Saúde Brasil 2018, do Ministério da Saúde, divulgado em junho. As doenças isquêmicas do coração atribuídas à poluição do ar foram responsáveis pelo maior número de mortes. Em seguida, vêm as doenças cerebrovasculares. Houve aumento nas mortes por câncer de pulmão, traqueia e brônquios e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) atribuídas à poluição, tanto entre homens quanto em mulheres.
— As mudanças climáticas são a questão definidora do século 21 — afirmou Enrique Barros, médico e coordenador de meio ambiente na Organização Mundial de Médicos da Família (Wonca, na sigla em inglês), no lançamento do Lancet Countdown em Porto Alegre, relatório que aponta a gravidade do impacto das mudanças climáticas para a saúde.
Preocupada com o aquecimento global, a Organização Meteorológica Mundial (OMM), uma agência das Nações Unidas, apresentará em Nova York, nos EUA, um relatório sobre o clima, englobando o período 2015-2019, na Cúpula da ONU para Ação Climática, em setembro.
É para essa conferência que, na última terça-feira, partiu a ativista sueca Greta Thunberg, 16 anos, a bordo de um veleiro de regata – a adolescente se recusa a andar de avião para não contribuir com a emissão de carbono.
Empresários mobilizados contra mudanças climáticas
Com capitalização de mercado total de US$ 1,3 trilhão, 28 empresas estão se preparando para estabelecer um novo nível de ambição climática em resposta a uma campanha promovida às vésperas dessa cúpula da ONU. As empresas (como HP, Natura e Unilever) se comprometeram com metas alinhadas à limitação do aumento da temperatura global de 1,5°C acima dos níveis pré-industriais e em zerar as emissões líquidas de carbono até 2050.
Quando o corpo diretor de uma empresa compreende os riscos envolvidos nas mudanças climáticas e as oportunidades que elas oferecem, a tendência é de que a empresa passe a analisar todos os seus negócios sob essa luz.
MARINA GROSSI
Presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável
O compromisso das 28 empresas tem como base as preocupações apontadas pelo mais recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que alertou para as catastróficas consequências caso o aquecimento global ultrapasse 1,5 °C.
— Quando o corpo diretor de uma empresa compreende os riscos envolvidos nas mudanças climáticas e as oportunidades que elas oferecem, por exemplo, de novos investimentos rentáveis na mitigação de emissões e precificação de carbono, a tendência é de que a empresa passe a analisar todos os seus negócios sob essa luz — avalia Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS).
Há, claro, muitos desafios envolvidos. O primeiro, explica Marina, é fazer com que a empresa compreenda que a transição para uma economia de baixo carbono é necessária porque o negócio pode sofrer com as mudanças climáticas decorrentes das suas próprias emissões. O segundo ponto é mostrar a essa empresa as inúmeras oportunidades de negócios decorrentes da transição energética:
— É uma questão de sobrevivência para a empresa atrair os olhos do investidor cada vez mais criterioso na escolha de onde aplicar seu capital, uma vez que precisam ter a segurança do retorno de seus investimentos — completa ela, que cita, entre os riscos envolvidos, o aumento de custos de produção, a preferência do consumidor por produtos com menos carbono e o aumento da competitividade devido à adoção de alternativas tecnológicas nos processos produtivos.
O combate às mudanças climáticas está unindo as principais organizações sociais, econômicas e políticas do mundo. São iniciativas que, em geral, contam com o apoio da população. Falta, ainda, que cada vez mais todos façam a sua parte – e que os governos, independentemente de quem estiver no poder, também se unam em torno dessa causa.
Faça a sua parte
Desde 2016, prestigiadas instituições acadêmicas de todos os continentes publicam anualmente o relatório The Lancet Countdown sobre Saúde e Mudanças Climáticas. Reunindo um total de 41 indicadores, o documento alerta para o risco que os sistemas de saúde correm se os governos e a sociedade não agirem rápido para frear o aquecimento global.
Entre as iniciativas recomendadas, estão regulamentações trabalhistas mais fortes, que protejam os trabalhadores de extremos de calor, e maior investimento em infraestrutura de hospitais e centros e saúde. O relatório é elaborado por uma equipe multidisciplinar, composta por climatologistas, economistas, engenheiros, especialistas em energia, sistemas de alimentação e transporte, geógrafos, matemáticos, profissionais de saúde e cientistas sociais e políticos.
Você também pode colaborar. Pequenas ações, repetidas diariamente, podem reduzir nossa pegada de carbono. Quanto mais pessoas agirem, maiores serão os impactos.
1. Produza menos lixo
u Evite comprar produtos com muitas embalagens e sempre recicle o que for possível. A decomposição do lixo libera CO2 e metano, gases que contribuem para o efeito estufa. Em um sistema de decomposição mais ideal, esses gases são aprisionados e utilizados para produzir eletricidade.
2. Use transporte público
u A queima de combustíveis fósseis pelos meios de transporte é a principal fonte de emissão de gases do efeito estufa nas cidades. Assim, utilizar transporte coletivo contribui para amenizar a emissão desses poluentes, além de diminuir os congestionamentos e otimizar o tempo de todos.
3. Consuma produtos locais
u Esses itens não necessitam ser transportados a longas distâncias e, portanto, dispensam as emissões de gases do efeito estufa que os caminhões geram ao rodar centenas e centenas de quilômetros.
4. Modere no ar-condicionado
u Os aparelhos liberam gases do tipo HFC, mais potentes que o CO2 quando se trata de prender os gases do efeito estufa na atmosfera. Ou seja, ao mesmo tempo em que resfriam o interior de ambientes, contribuem para aumentar a temperatura no exterior.
Fonte: WWF-Brasil