A velha RS-287 não existe mais. Aquela rodovia onde os buracos faziam fila para ingressar na estrada parece já ser coisa do passado.
Durante a segunda-feira (2), GZH percorreu o trecho concedido pelo Estado ao grupo Sacyr. São 204 quilômetros, de Tabaí a Santa Maria.
No geral, as condições da rodovia estão boas. Não há buracos, o que para a RS-287 é algo raro, se comparado com o passado antigo e recente. A sinalização das faixas de tráfego está adequada, assim como as placas de trânsito e os tachões na pista. E essa percepção é compartilhada pelo usuário da estrada.
— A pista está boa. Até onde estamos indo tinham umas ondulações. Agora não tem mais — diz o caminhoneiro aposentado Jorge Maria, 71 anos, morador de Canoas, que passava por Taquari a passeio com a família na manhã de segunda-feira.
Mas ainda falta um bom caminho para que a RS-287 possa se aproximar de um nível satisfatório. Até porque, desde 16 de outubro, três novas praças de pedágio passaram a cobrar tarifa - além das duas mais antigas.
Fiscalização
Nas atuais condições, a RS-287 - entre Tabaí e Santa Maria - é uma rodovia ondulada. O termo técnico chamado é escorregamento da capa asfáltica. Isso ocorre quando o asfalto se desloca para as bordas das faixas de tráfego, formando cocurutos que podem causar acidentes ou danos aos veículos.
No km 71, em Venâncio Aires, a trena posicionada por GZH ao lado de uma destas ondulações indicava 13 centímetros de asfalto acumulado separando a rodovia. Além disso, esse deslocamento de material causa afundamento de pista.
Entre o bom e o ruim, concessão da RS-287 está na fase do quase
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Prejuízo financeiro
A empresa de ônibus Planalto costuma usar a RS-287 nos deslocamentos entre Santa Maria e Porto Alegre. De acordo com a gerência de operações da companhia, não é possível mensurar os gastos com os problemas no asfalto. Porém, avarias na suspensão dos veículos e o desgaste rápido dos pneus são a consequência mais imediata.
"A parte interior, como porta pacotes e painel, começa a fazer barulhos, além é claro, do desconforto do passageiro. Tudo isso interfere no bem-estar do cliente durante a viagem", explica a empresa por meio de sua assessoria.
De acordo com a Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Rio Grande do Sul (Agergs) - que fiscaliza o contrato - estes problemas não poderiam estar mais ocorrendo. Inclusive, a agência informa que a concessionária já foi notificada para resolver esses defeitos, sob "pena de aplicação das penalidades contratuais".
— Problemas como este têm que ser solucionados muito rapidamente. Não fiquei muito satisfeito com o que vi. Não é a expectativa do que está contratualizado. Até entendo que não é possivel evitar que os problemas aconteçam. Mas já se passou mais de um ano, e precisamos enxergar uma gestão eficiente para evitar que esses problemas surjam, e quando surgem, que sejam rapidamente solucionados — destaca o conselheiro-presidente da Agergs, Luiz Afonso Senna, que visitou a rodovia na semana passada.
Sobre estes problemas, a concessionária Rota de Santa Maria - que faz parte do grupo Sacyr - explica que eles aparecem por causa da "falha estrutural do pavimento", que são corrigidos a partir de intervenções mais profundas, com a recuperação de todas as camadas da pista. A partir de fevereiro, novas equipes serão contratadas para atuar nestas funções.
— Mesmo com o grande volume de intervenções realizadas pela concessionária nos trabalhos iniciais, o pavimento da RS-287 possui trechos com elevado dano estrutural, sendo necessária uma recuperação profunda, prevista para ocorrer entre o segundo e quinto ano de concessão (até setembro de 2026). A partir de fevereiro (de 2023), teremos mais duas equipes, focadas em atuar nos trechos mais críticos, iniciando pela região de Venâncio Aires e de Santa Maria —, destaca o coordenador de engenharia da Rota de Santa Maria, Filipe Pereira dos Reis.
Fila para cobrança
Das cinco praças de pedágio em funcionamento, GZH encontrou fila de veículos em ambos os lados do ponto de cobrança de Venâncio Aires. Foi necessário encarar um congestionamento de aproximadamente 600 metros e esperar 7 minutos até chegar na cancela. Por volta das 11h, duas cabines manuais e uma automática estavam abertas de cada lado da rodovia. Duas outras, porém, estavam fechadas.
Próximo das praças de pedágio, faixas foram pintadas transversalmente à pista, para marcar o limite máximo da fila. Uma marca fica a 200 metros das cabines. Esse é o limite para dias úteis. Outra está posicionada a 400 metros e é referência para dias de eventos especiais, vésperas e feriados, além de fins de semana.
Segundo a Agergs, a fila não pode permanecer além dessas faixas por mais de 15 minutos. Se o prazo for ultrapassado, o usuário pode denunciar a concessionária, que deverá ser penalizada.
Sem acostamento
A estrada tem acostamento em péssimas condições na maior parte dos 204 quilômetros do trecho concedido. Somente entre Restinga Sêca e Santa Maria, a situação melhora, ficando perto do ideal.
O contrato estipula que as melhorias no acostamento precisam ocorrer entre setembro de 2022 e setembro de 2026. O desnível máximo da pista principal não pode ser superior a 1,5 centímetro. Além disso, a pista de escape precisa estar em boas condições no pavimento.
Atendimento ao usuário
Junto a três das cinco praças de pedágio, o usuário da rodovia encontra o Serviço de Atendimento ao Usuário (Sau). No local, existem banheiros masculino e feminino, para pessoas com deficiência e fraldário. Em outra peça, climatizada, há sofá, água fria e quente.
Em Candelária, o cheiro de esgoto é forte do lado de fora. Em Venâncio Aires, a obra ainda não foi entregue. A concessionária informa que a construção já foi finalizada, faltando somente atualizar a fiação elétrica. Enquanto isso, os usuários podem usar a estrutura da antiga praça. Já em Paraíso do Sul, o Sau não existe.
Bom para borracheiro
Rodovia boa é sinal de borracheiro infeliz? Nem sempre. Em Santa Maria trabalha Josiel Moraes de Lima, 47. Há nove anos ele tem uma borracharia junto à rodovia. Ela está instalada no final do trecho concedido da RS-287.
Em um dos alicerces do estabelecimento, ele ostenta 16 celulares de diferentes modelos, todos estragados - a maior parte tem tela quebrada. Questionado, diz que os aparelhos são do irmão e justifica que borracharia sempre tem que ter algo inusitado. Excentricidades à parte, ele percebeu melhoras na rodovia, há aproximadamente um ano.
— Antigamente era terrível, com buraqueira. Não tinha sinalização quase, né? Hoje já tem bastante sinalização. Hoje a estrada tá boa, bem boa. Não tem mais a buraqueira, os panelões na estrada, o asfalto estragado das carretas, que ficava com aqueles calombos no meio e pegavam os carros em cheio embaixo, ali no carter, no motor. Mas agora já melhorou — comenta o borracheiro.
Questionado se está ganhando menos dinheiro, Lima corrige a equipe de GZH. E explica:
— Não. Estou ganhando mais agora. Agora tem o guincho pra trazer os carros até aqui. E eu faço serviço direto pra eles também, pra polícia rodoviária, o pessoal do pedágio. Eles estão sempre me dando serviço. Melhorou 100%. E vai continuar melhorando muito.