Nove meses depois do início da concessão administrada pela Rota de Santa Maria, empresa do grupo espanhol Sacyr, as condições da RSC-287 ainda não agradam aos motoristas que precisam trafegar pela rodovia. Embora os buracos na pista não sejam um problema generalizado, há falhas na pavimentação em alguns pontos, o que dificulta a vida de quem precisa utilizar a estrada para o trabalho ou a lazer.
Após receber relatos de problemas no trajeto de 140 quilômetros que liga Santa Cruz do Sul a Santa Maria, a reportagem de GZH percorreu essa parte da rodovia durante a manhã e o início da tarde desta quarta-feira (25) para verificar as condições da estrada, principal ligação da Região Metropolitana com o centro do Estado. No caminho, foram identificados dois trechos mais críticos, em que o asfalto está em piores condições e demanda cuidado dos motoristas.
O primeiro deles é a extensão entre o km 142 e o km 148, em Candelária, em que foi encontrada uma sequência de buracos e desníveis na pista. No km 144, os motoristas devem ficar atentos a uma área irregular de mais de 10 metros, em subida, que se estende por quase metade da pista na direção Porto Alegre-Santa Maria. Carros de passeio conseguem desviar, mas os caminhões são obrigados a enfrentar a fissura.
No km 147, já no trecho de terceira pista, mais buracos apareceram, desta vez nos dois sentidos, com sinais de uma recapagem antiga, que se desgastou com o tempo. O outro ponto que inspira cautela é o trecho que começa no km 174, nos dois sentidos da rodovia. Após uma série de ondulações, uma sequência de buracos surge rente à faixa lateral. No km 178, há um trecho de aproximadamente 50 metros com o asfalto desgastado no sentido Santa Maria-Porto Alegre, contrastando com o outro sentido da rodovia, em que o pavimento está em boas condições.
Após alguns metros de alívio, a buraqueira volta nos dois lados da pista entre o km 181 e o km 185, entre Paraíso do Sul e Agudo. Nesse trecho, também há vários desníveis provocados por recapagens antigas. As condições melhoram a partir do km 187.
Ao longo de toda a rodovia, também chama atenção a má qualidade dos acostamentos. Ora em desnível relevante em relação à pista, ora com buracos que dificultam a parada dos motoristas.
Além dos dois trechos mencionados acima, alguns pontos que merecem atenção:
- Entre o km 105 e 106, o acostamento é estreito no sentido Santa Maria-Porto Alegre
- Do km 132 ao km 134, há buracos e desníveis nos dois lados da via
- Na entrada da ponte sobre o Arroio Barriga, entre Paraíso do Sul e Novo Cabrais, há uma elevação brusca na pista no sentido Porto Alegre-Santa Maria
- Logo após a ponte, no km 169, operários trabalham na construção do pedágio, o que deixa a rodovia parcialmente em pista única
- No km 217, em Santa Maria, equipes trabalham na recomposição do pavimento com asfalto quente
- Com sinais de recapagem recente, o trecho entre os kms 216 e 218 carece de melhor sinalização
- Entre os kms 222 e 226, há vários pontos de desgaste no asfalto, com desníveis relevantes
Usuários reclamam
Um dos motoristas que transitavam pela RS-287 nesta quarta, no trecho entre Vale do Sol e o pedágio de Candelária, o cirurgião-dentista Augusto Tessele, de Santa Cruz do Sul, reclamou da qualidade do asfalto e disse que ainda não foi possível sentir a diferença desde o início da concessão.
— Às vezes parece que está até pior. Eles fazem o tapa-buraco e, mais tarde, o buraco reaparece. A qualidade do trabalho é muito ruim — afirmou o dentista, apontando os trechos próximos a Candelária e Agudo como os mais comprometidos.
Perto dali, o caminhoneiro Leonir Halberstadt foi outro a dizer que não percebeu melhorias com a concessão:
— Tem muito buraco. Ali na região de Candelária tem muito desnível. Precisa de uma boa recapagem — declarou Leonir, que diz passar cerca de cinco vezes por semana na região transportando produtos e insumos agrícolas.
Funcionário de uma loja de móveis e eletrodomésticos, o transportador Mirno Brauwers faz o trajeto Lajeado-Santa Maria três vezes por semana, e completa o coro de reclamações:
— Pelos pedágios que estamos pagando, está ruim. Tem muito buraco, e em dia de chuva tem poças de água na rodovia — diz ele, que reclama do trecho entre Novo Cabrais e Santa Maria.
O que diz a Rota de Santa Maria
Procurado por GZH, o diretor-presidente da concessionária, Renato Bortoletti, disse que o planejamento para as primeiras intervenções na RS-287 foi feito das pontas para o centro – ou seja, de Tabaí e Santa Maria em direção a Santa Cruz do Sul.
A previsão, segundo ele, é de que o trecho entre o km 174 e o km 187 sofra intervenções em junho, enquanto a recuperação do pavimento entre o km 142 e o km 148 deve ser feita em julho.
— Estamos com cinco equipes trabalhando na rodovia, e, até o final do primeiro ano (da concessão), vamos chegar em um estágio mais próximo do ideal — projeta Bortoletti.
Segundo ele, após a conclusão da primeira etapa, a rodovia passará por uma nova avaliação para que a concessionária promova intervenções mais pesadas, para evitar, por exemplo, que os mesmos buracos voltem a aparecer depois de tapados.
— Em certos pontos, não adianta fazer uma intervenção maior agora porque o material de base está saturado. A partir de agosto é que vamos começar a abrir e fazer intervenções de maneira mais profunda — destaca.
A respeito do acostamento, a previsão é de que até setembro os buracos sejam eliminados e o desnível da pista seja de, no máximo, 80cm em alguns pontos da rodovia.
O diretor lembra que a concessionária disponibiliza o número 0800 1000 287, que pode ser acionado em eventuais pedidos de atendimento e também para acessar a ouvidoria.
Demanda pela antecipação da duplicação
Além das queixas imediatas a respeito das falhas na pavimentação, usuários da rodovia, sobretudo os residentes em municípios da região da Quarta Colônia e de Santa Maria, querem a antecipação do cronograma da duplicação. Pelo contrato assinado entra a Sacyr e o governo estadual, o trecho entre Novo Cabrais e Santa Maria deve ser duplicado em até 20 anos, tempo considerado longo demais.
— No atual cenário financeiro e tecnológico, é muito tempo. O governo fez isso para dizer que o pedágio seria barato, mas ele se torna caro com todo esse tempo porque muitos usuários não vão usufruir da duplicação — diz o presidente da Câmara de Vereadores de São João do Polêsine, Claudio Spanhol (MDB).
De acordo com Spanhol, a comunidade aceita rediscutir o valor dos pedágios (atualmente em R$ 3,70 para automóveis) para antecipar o cronograma.
O diretor da Rota de Santa Maria disse que a concessionária já foi procurada pelo governo e está produzindo um estudo a respeito do assunto, que deve ser finalizado até junho. A ideia, segundo ele, seria antecipar a duplicação para até o sétimo ano, desde que as comunidades da região aceitem as condições do reequilíbrio contratual.
— Isso já foi requerido pelo poder concedente e estamos estudando. Com o resultado em mãos, vamos fazer uma série de audiências públicas com as comunidades. Mas seria um aumento tarifário que todos que utilizam a rodovia iriam pagar — pondera Bortoletti.
Relembre detalhes da concessão
- Vigente desde 31 de agosto de 2021, a concessão da RS-287 prevê que a rodovia seja administrada pelo grupo espanhol Sacyr nos próximos 30 anos. A concessionária tem compromisso de duplicar todo o trecho entre Tabaí e Santa Maria.
- A empresa assumiu as duas praças de pedágio já existentes, em Venâncio Aires (km 86) e Candelária (km 131). O valor da tarifa nessas praças era de R$ 7 e passou para R$ 3,70 (para automóveis).
- Além dessas duas praças, a empresa vai instalar outros três pedágios na RS-287, em Taquari – no trecho mais próximo de Tabaí – Paraíso do Sul e Santa Maria. O início da cobrança nesses pontos deve ocorrer no segundo semestre de 2022.