O telescópio espacial Euclid, da Agência Espacial Europeia (ESA), decolou da Terra em direção ao espaço no sábado (1º), para explorar dois dos maiores enigmas científicos: a matéria e a energia escuras.
A tecnologia espacial decolou do Cabo Canaveral, na Flórida, nos Estados Unidos acoplado a um foguete Falcon 9 da companhia norte-americana SpaceX. Cerca de oito minutos após o lançamento, o primeiro estágio do Falcon 9 pousou na balsa A Short Fall of Gravitas, no Oceano Atlântico, para ser reutilizado posteriormente.
O telescópio de duas toneladas seguirá em uma viagem de 1,5 milhão de quilômetros, que deverá durar um mês, até o Ponto de Lagrange 2 (L2), onde está atualmente o James Webb.
O principal objetivo da ESA com o lançamento do Euclid é compreender melhor a matéria escura, que mantém as galáxias unidas, e a energia escura, responsável pela expansão do universo. Juntas, elas constituem 95% do universo, mas continuam sendo um dos maiores mistérios da cosmologia.
A missão Euclid
Do espaço, o telescópio, batizado em homenagem ao inventor da geometria — o grego Euclides de Alexandria —, traçará um mapa tridimensional do universo que englobará dois bilhões de galáxias em uma porção de um terço da abóboda celeste. A terceira dimensão do mapa será o tempo: captando a luz de galáxias situadas a até 10 bilhões de anos-luz, Euclid se aprofundará no passado do universo.
Em uma coletiva de imprensa, o astrofísico Yannick Mellier, chefe do consórcio Euclid, explicou que o objetivo do projeto é reconstituir a história do universo, fragmentando-a em porções de tempo. Os astrônomos acreditam que, com a missão, conseguirão detectar as pistas deixadas pela matéria e energia escuras durante a formação das galáxias. O telescópio também buscará buracos negros para obter mais informações sobre eles.
O projeto, que teve um custo de aproximadamente US$ 1 bilhão de euros (R$ 8,6 bilhões), conta com o envolvimento de mais de 2 mil cientistas europeus, de 16 países.
Energia e matéria escuras
A incógnita sobre a origem da energia e matéria escuras remonta aos anos 1930, quando o astrônomo suíço Fritz Zwicky observava o aglomerado das galáxias de Coma, que estão a 320 milhões de anos-luz de distância da Terra, e lançou a hipótese de que uma parte importante de sua massa era invisível. Quase um século depois, há um consenso na comunidade científica sobre a existência dessa matéria ausente, chamada de escura porque não absorve ou reflete a luz.
A principal hipótese defendida pelos pesquisadores é a de que a matéria escura atuaria como um cimento dentro das galáxias, o que explicaria por que não se dispersam em nuvens de estrelas.
— A velocidade de rotação das estrelas nas galáxias, incluindo a do nosso Sol, é tão elevada que deveriam sair como um foguete que se libera da gravidade terrestre e se vai. Mas isso não ocorre. Deduzimos que existe um acréscimo de gravidade que as prende, como se fosse uma espécie de cimento — resumiu David Elbaz, astrofísico e colaborador do projeto Euclid.
No final dos anos 1990, os astrônomos detectaram uma segunda anomalia que afetava todo o universo: as galáxias se distanciavam umas das outras cada vez mais rápido, sob o efeito de uma força repulsiva chamada energia escura. Essa aceleração da expansão do universo teria começado há seis bilhões de anos.
Os astrônomos da missão Euclid acreditam que ao retroceder a até 10 bilhões de anos, o telescópio poderá observar os primeiros efeitos da energia escura e melhor identificá-los.