Em abril de 1961, o cosmonauta soviético Iuri Gagarin (1934-1968) se tornou o primeiro homem a viajar para o espaço. Foi ovacionado e alçado ao título oficial de herói da União Soviética. Mas antes de um ser humano se aventurar, em novembro de 1957, a vira-lata Laika foi a primeira cadela a deixar a Terra. Ela morreu de hipertermia poucas horas após o lançamento da nave Sputnik 2. Sua morte é lamentada no mundo todo até hoje. Em 2008, ganhou uma estátua em sua homenagem, é citada no Monumento aos Conquistadores do Cosmos, em Moscou.
Já em outubro de 1963, Félicette se tornou a primeira gata astronauta. Voltou viva, mas foi sacrificada poucos meses depois do voo para que cientistas pudessem analisar o resultado obtido com os eletrodos implantados no seu crânio. Ao contrário da cadela Laika, sua história foi praticamente esquecida.
A felina fez parte do Centre national d'études spatiales (CNES), programa espacial francês. Antes do voo, enquanto passava por testes no laboratório, a bichana era denominada apenas como C 341. Porém, com a notícia da viagem, a mídia começou a chamá-la de Félix, por causa do famoso personagem Gato Félix. Então o Cerma, centro de pesquisa aeronáutica da França, decidiu deixar claro que se tratava de uma fêmea e pôs seu nome de Félicette.
A gatinha, assim como Laika, foi uma espécie de cobaia da corrida espacial. A disputa política e tecnológica pela conquista do espaço foi acirrada entre a União Soviética e os Estados Unidos durante a Guerra Fria, mas também envolveu outros países, como a França.
Para entender como a falta de gravidade poderia afetar os órgãos vitais, os cientistas enviavam animais ao espaço. Além de Félicette e Laika, chimpanzés, ratos e até tartarugas participaram desses programas. Félicette era uma das 14 gatas recrutadas pelo Cerma para a missão. Os cientistas escolheram apenas fêmeas por causa do temperamento mais dócil. Não se sabe ao certo onde ou como elas viviam antes de irem para o centro de pesquisa.
No laboratório, as gatinhas recebiam apenas um código, como o de Félicette, para que os pesquisadores não se apegassem a elas. Eletrodos foram implantados cirurgicamente em seus crânios para avaliar a atividade cerebral durante os testes, que incluíam rotação para simular a gravidade zero. Félicette foi a escolhida por ser a mais calma entre as gatas e por estar no peso adequado, com 2,5 quilos.
No dia 18 de outubro de 1963, a gata foi lançada no foguete Véronique a partir do centro de pesquisas na Argélia, país no norte da África. O voo durou 13 minutos e voltou ao solo em segurança, com a gatinha viva.
Ela foi sacrificada dois meses após a missão para que os cientistas pudessem fazer uma autópsia e examinar seu cérebro. Quando Félicette ainda estava viva, em 24 de outubro, outra gata foi enviada ao espaço, mas morreu durante o voo, que sofreu uma falha no lançamento.
Uma das gatinhas teve muitos efeitos colaterais após ter os eletrodos colocados no crânio. Então a equipe de pesquisadores decidiu remover os implantes, a batizou de Scoubidou e a adotou como mascote. Não se sabe ao certo qual foi o destino das outras gatas.
Após sua viagem bem-sucedida ao espaço, Félicette teve sua foto publicada em cartões-postais. Mas sua história caiu no esquecimento. Para reparar esse erro, o publicitário britânico Matthew Serge Guy decidiu criar uma vaquinha online para construir uma estátua em homenagem à Félicette. A campanha arrecadou 43,323 libras esterlinas (o equivalente a mais de R$ 202 mil) e a escultura será feita pela artista plástica Gill Parker.
— Em abril de 2017, enquanto trabalhava, encontrei uma toalha na cozinha dos funcionários que comemorava o 50º aniversário do gato que foi ao espaço. Não havia nome para o gato na toalha nem se parecia com Félicette — diz o publicitário.
Curioso, decidiu pesquisar sobre o assunto na internet.
— Fiquei fascinado com a história de Félicette, como ela havia sido esquecida ao longo dos anos.
A estátua, que deve ter no total certa de 1,5 metro, será instalada na Universidade Espacial Internacional, na França. Mas, segundo Matthew, ainda não há uma data certa.