Julho é mês de júbilo. Há 230 anos, a 14 de julho de 1789, a Queda da Bastilha marcou a Revolução Francesa, derrubou o feudalismo e iniciou a era atual. Em 1969, a 20 de julho, 50 anos atrás, o homem foi à Lua pela primeira vez, no mais admirável feito da História humana.
Mas o cinquentenário nos obriga a uma reflexão crítica sobre nosso comportamento e o uso da ciência. O que aprendemos e de que nos serviu conhecer a desolada Lua?
A ciência conheceu ainda mais o Universo, mas não valorizamos a vida na Terra. Seguimos tratando o Planeta com desprezo, como se a natureza não nos protegesse e o ser humano fosse indesejável intruso.
Na madrugada de domingo, 20 de julho de 1969, assisti ao vivo, pela TV, o deslumbrar de um sonho fantástico, como bilhões de pessoas. Até então, só os telescópios iam à Lua. Ou ela era mera visão poética, um Sol noturno. "Levar-te-ei à Lua", exclamavam os namorados (em mesóclise) no êxtase da paixão…
A façanha mudou a correlação de forças na "Guerra Fria" e os Estados Unidos ultrapassaram a União Soviética. Em 1957, os russos tinham lançado o "sputnik". Em 1961, Iúri Gagárin fez o primeiro voo espacial. As duas superpotências disputavam tudo e a repercussão política do feito superou a visão humana e científica.
Não aprendemos o significado de ir à Lua. Conhecemos a desolação lunar e a dimensão do Sistema Solar, mas (aqui) desdenhamos os efeitos da ação humana. Sem entender o sentido da vida, nossa pequenez todo dia destrói a Terra, obra suprema do processo da Criação, que nos aproxima da Divindade.
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Em nome do "progresso", seduzidos pela cobiça, nos últimos 80 anos devastamos a Terra muito mais do que em todos os séculos. Sabemos que as mudanças climáticas nos levarão à desolação, como na Lua, mas continuamos a desmatar a Amazônia. Ou a degradar e poluir terras, águas e ar (e a matar) com a mineração, como em Brumadinho.
A ciência, a ONU e o Papa alertam para o horror à vista. Fixaram 2030 como ano final de uso do carvão e dos combustíveis fósseis para evitar o caos.
Mas, aqui, querem extrair carvão em mina a céu aberto, junto ao Rio Jacuí (e nele lançar os resíduos), a 10 quilômetros em linha reta de Porto Alegre, em terras de banhados que produzem arroz orgânico e hortaliças ecológicas. Com "vida útil" entre 23 e 30 anos, se implantada, a mina pode degradar o Guaíba e deixar sem água a área metropolitana antes (e após) o prazo da ciência para impedir o horror.
Sem júbilo, estamos no mundo da Lua?