Integrantes de uma seita de sexo livre em Viamão, na Região Metropolitana, incluindo um homem que comportava-se como "guru espiritual", são investigados por coagirem participantes do grupo depois de descobrirem "coisas muito íntimas dessas pessoas".
— Ele (o guru) torturava, ele coagia as vítimas com base nas informações que ele obtinha nas terapias que eram feitas nesses processos de imersão. Se alguém quisesse sair, se alguém percebesse ou dissesse que não tinha dinheiro, ele dizia: "É por isso que a tua vida não dá certo", "por isso que a tua relação com o familiar é ruim", "por isso que tu não vai progredir" — detalha a delegada Jeiselaure de Souza.
A Polícia Civil cumpriu mandados de busca e apreensão na sede da seita na quarta-feira (11) por suspeita de tortura psicológica, curandeirismo, estelionato e outros crimes financeiros.
Segundo a investigação, o nome da comunidade é Osho Rachana e fica localizada em uma área retirada do município. O g1 entrou em contato com o grupo, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.
As investigações começaram quando ex-integrantes da seita acionaram o Ministério Público relatando supostos atos violentos cometidos pelo guru do grupo. A fim de realizar "imersões e terapias bioenergéticas alternativas", as práticas incluíam meditações e sexo livre.
As pessoas ouvidas pela polícia relataram ter sofrido tortura psicológica e patrimonial, além de crimes financeiros. A investigação ainda aponta para indícios de agressões físicas durante as sessões de meditação do grupo.
— Ele execrava, ele humilhava essas pessoas na frente de todo mundo, chegando, inclusive, a agressões físicas com essas pessoas — comenta a delegada.
A operação foi autorizada pela 3ª Vara Criminal de Viamão, com aval do Ministério Público. Os agentes apreenderam documentos, celulares, computadores, máquinas de cartão e fotografias. Ninguém foi preso.
Desvio de doações
Conforme as investigações, o suposto guru, um homem de 69 anos, usava o dinheiro de seguidores para pagar viagens de luxo e apostas online. Segundo a polícia, os seguidores pagavam pacotes de imersão que custavam até R$ 12 mil, além de mensalidades para viver no local.
O homem exigiria que os integrantes fizessem empréstimos bancários e entregassem o dinheiro para a comunidade. A Polícia Civil estima que o líder tenha obtido e desviado mais de R$ 20 milhões e alcançado um prejuízo de R$ 4 milhões nas operações que realizava, "perdido com dívidas, com apostas online, com viagens".
— Ele instigou que as pessoas fizessem altíssimos valores de empréstimo, porque precisava reverter isso tudo para a comunidade. Só que, na verdade, para a comunidade nada foi utilizado, ele utilizou em proveito próprio — diz Jeiselaure .
Após o pagamento dos pacotes de imersão e das mensalidades, os integrantes participavam da venda de pães e de agendas nas ruas de Porto Alegre. Essas atividades seriam coordenadas pelo guru, com o pretexto de reverter os recursos em prol da comunidade, explica a delegada.