Com evidências e testemunhos apontados em inquérito, além de uma série de perícias encaminhadas para análise, a Polícia Civil de São Paulo continua incapaz de responder o que ocorreu à atriz e modelo Maidê Mahl. Ela foi resgatada em um quarto de hotel na capital paulista, ferida e semiconsciente, em 5 de setembro. Está há mais de 60 dias hospitalizada.
"Devido ao estado de saúde da vítima, sua oitiva foi adiada. As diligências continuam para a conclusão do inquérito e esclarecimento dos fatos", informou nesta terça-feira (5), por nota, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo.
Conforme a autoridade daquele Estado, este é o terceiro adiamento na tentativa de ouvir, pela própria Maidê, o que ocorreu durante os três dias em que ficou reclusa no quarto do 15º andar do hotel, incomunicável e sem contato com hóspedes ou funcionários.
O comando da investigação está sob responsabilidade do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Polícia Civil. A expectativa de ouvir Maidê foi expressada pela diretora do órgão, delegada Ivalda Aleixo, em entrevista para Zero Hora, concedida no dia seguinte ao resgate.
— A gente espera e torce pela recuperação desta jovem. Como não se trata de uma investigação de crime, é prudente esperarmos que ela própria possa contar o que lhe aconteceu. Neste momento, devemos reconhecer o trabalho dos agentes que conseguiram apurar a localização e encontrá-la ainda com vida — apontou a delegada, na ocasião da entrevista.
A própria diretora do DHPP descreveu o conjunto de perícias componentes da apuração, mencionando análises de imagens, varredura em conteúdo de dois telefones que estavam com Maidê no quarto do hotel, exames clínicos na atriz, papiloscopia (busca por impressões digitais) e análise de objetos encontrados no local.
Apesar de contar com tais elementos, a polícia mantém sua determinação de ouvir a atriz. Entretanto, a autoridade teve de adiar três vezes seu plano. A primeira ocorreu em 4 de outubro, um dia depois de Maidê ter recebido alta da UTI. A segunda ocorreu em 22 do mesmo mês, quando o hospital informou que seu quadro clínico permanecia inalterado.
Nesta terça, o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP informou que Maidê continua na mesma condição. Por nota e sem oferecer detalhes, a instituição hospitalar informa que após ser transferida para enfermaria, em 3 de outubro, o quadro de saúde dela é estável.
Relembre o caso
Maidê mora e trabalha em São Paulo desde 2017. Mantém carreira como atriz e modelo. De acordo com a investigação policial, saiu de seu apartamento, situado no bairro Moema, por volta de 16h do dia 2 de setembro. Entrou em um mercado e comprou três caixinhas de água de coco. Pagou em dinheiro.
Dali, chamou transporte por aplicativo e dirigiu-se a um tabelionato no bairro da Liberdade. Contratou o reconhecimento de sua assinatura em um documento, cujo teor ainda é desconhecido, e rumou ao hotel, novamente em deslocamento por app, por volta de 16h40min.
O check-in no hotel ocorreu por volta de 17h30min. Maidê entrou no quarto e não interagiu com ninguém, nem mesmo para pedir serviços de alimentação, higienização ou arrumação do dormitório.
Estranhando a ausência, amigos comunicaram o desaparecimento à polícia. Os investigadores rastrearam os deslocamentos por meio de registros da companhia de transporte e por checagem de imagens de câmeras públicas e privadas.
Maidê foi achada caída, com o corpo inerte, parcialmente escorado contra a porta do quarto onde estava hospedada. Conforme a polícia, não havia indicativo de violência, nem uso de substâncias tóxicas, além de uma medicação para a qual havia prescrição médica. A atriz teria consumido apenas a água de coco que levou consigo.
O trabalho da Polícia Civil e da Polícia Científica, a partir da localização de Maidê, tem sido discreto. Autoridades evitam divulgar dados relacionados à apuração. Um inquérito aberto em 13 de setembro, que investiga o suposto crime de lesão corporal, reúne depoimentos que serão analisados em conjunto com as perícias.