Seguindo a tendência de queda dos últimos meses, o registro de estelionato em setembro teve redução de 24,93% no Rio Grande do Sul se comparado ao mesmo período do ano passado. A baixa foi de 6.718, em 2023, para 5.043, em 2024. Mesmo com a diminuição, a média ainda é de 168 ocorrências por dia, o que equivale a sete fraudes sendo cometidas por hora no Estado ao longo de setembro. Os dados sobre criminalidade no RS são divulgados mensalmente pela Secretaria da Segurança Pública do Estado (SSP-RS).
O recuo é observado também ao longo do ano. Entre janeiro e setembro, houve uma diminuição de 14,18% em relação a 2023. A diferença é de 67.099 para 57.582 nos últimos nove meses. Na série histórica, o crime de estelionato também tem apresentado redução. Em 2022, foram 95.182 casos. No ano seguinte, houve 89.068 registros. Ainda assim, a expectativa da Polícia Civil é de que 2024 feche com uma nova redução nos indicadores de golpes.
— Tudo indica que nós vamos fechar o ano com uma baixa de uns 20%. É a projeção até o final do ano em relação ao ano anterior — afirma o chefe de polícia gaúcha, delegado Fernando Sodré.
O delegado atribui os números positivos à intensificação das investigações envolvendo estelionatos digitais, assim como as recorrentes operações contra golpes virtuais realizadas dentro e fora do RS envolvendo vítimas gaúchas.
A contínua especialização e qualificação da polícia em fraudes virtuais é outro fator elencado pelo delegado Filipe Bringhenti, que responde pela delegacia de Repressão aos Crimes Informáticos e Defraudações (DRCID).
— O fato da instituição não só investir em capacitação, em nivelamento de conhecimento sobre esse tipo de crime, mas em tornar uma prioridade o enfrentamento, faz com que nós tenhamos melhores resultados na tentativa de frear estelionatários — analisa.
Entre as fraudes mais comuns no mês de setembro elencadas pelos delegados estão: os golpes do falso funcionário do banco e do falso policial. Em todos os casos, os criminosos se passam por pessoas que não são para obter valores financeiros de suas vítimas.
Cuidado com o falso funcionário
Foi através de uma ligação no telefone fixo que um criminoso, disfarçado de funcionário de banco, subtraiu um montante de cerca de R$ 20 mil de uma arquiteta aposentada. Residente de São Leopoldo, no Vale do Sinos, a idosa, de 76 anos, foi informada que operações bancárias haviam sido feitas por terceiros em sua conta.
— Eu nunca atendo esse tipo de ligação, mas aquele dia eu atendi, porque foi no telefone fixo. Continuei a ligação porque ele se identificou como um funcionário da parte de segurança de um banco — conta a idosa.
Para corrigir a invasão e recuperar o dinheiro, ela foi informada que precisaria passar informações pessoais e bancárias para o suposto funcionário. Depois disso, ela foi orientada a entrar no aplicativo do banco e seguir algumas etapas ditas pelo criminoso, como certas confirmações.
— Na hora, eu não me dei conta. Não acredito que caí numa coisa dessa. Ele ia fazendo e eu confirmando. Eu até falei para ele que estava estranho, mas ele me disse que era para ficar tranquila que o dinheiro todo iria voltar para a minha conta e que ele iria resolver o problema. Me senti uma boba — relata.
Após mais de duas horas no telefone com o homem, a aposentada viu suas economias evaporarem ao passo que transferências bancárias, de Pix e contratos de empréstimos eram feitos pelo suposto funcionário.
Depois de perceber o prejuízo, ela foi ao banco tentar algum tipo de estorno, mas foi informada de que não era possível obter, uma vez que ela havia autorizado as operações. A vítima e o esposo, também idoso, precisaram realizar um novo empréstimo para quitar as dívidas deixadas pelo bandido. Com quase 80 anos, os dois precisaram ainda fazer um acordo com o banco para reduzir o impacto com o prejuízo causado pelo golpe.
Saiba se proteger
A reportagem de Zero Hora conversou com o advogado Guilherme Moschini Becker, que representa a vítima, que informou que um boletim de ocorrência foi aberto em 12 de setembro, um dia após o golpe ser aplicado na idosa.
O advogado, assim como a Polícia Civil e a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) enviaram à reportagem algumas dicas de como se prevenir de golpes. Confira:
- Desconfie de vantagens muito atrativas
- Não acredite em desconhecidos que te abordem por ligações, e-mails ou mensagens telefônicas
- Não acesse links suspeitos ou sem procedência conhecida
- No caso dos golpistas se passarem por alguma empresa ou entidade, procure os canais oficias para confirmar as informações
- Em caso de compra online, guarde o link da compra para eventuais investigações policias
- Não realize depósitos ou transferências bancários para desconhecidos
- Ao receber uma ligação suspeita, o cliente deve desligar e procurar os canais oficias de comunicação daquela entidade
- Jamais forneça qualquer dado pessoal, como nome, RG, CPF ou número de conta
- Não aceite videochamadas de desconhecidos, pois o criminosos pode fazer uma selfie da vítima e utilizar a imagem para reconhecimento facial
- Se for vítima, registre o caso em uma delegacia da Polícia Civil ou pela Delegacia Online
O que diz a Febraban
"No caso de o cliente ter sido vítima de algum crime, ele deve notificar imediatamente seu banco para que medidas adicionais de segurança sejam adotadas, como bloqueio do app e senha de acesso, e fazer um boletim de ocorrência.
Sobre ressarcimento, informamos que cada instituição financeira tem sua própria política de análise e devolução, que é baseada em análises individuais, considerando as evidências apresentadas pelos clientes e informações das transações realizadas."