Na contramão dos meses anteriores, os números de homicídios e feminicídios apresentaram aumento em setembro no Rio Grande do Sul. Já o número de latrocínios (roubo com morte) no período apresentou queda histórica. Os dados foram divulgados pela Secretaria da Segurança Pública do Estado (SSP-RS) nesta sexta-feira (11).
Setembro teve apenas um caso de roubo com morte, enquanto no mesmo período de 2023 houve cinco registros – uma queda de 80%. Este foi o menor índice deste tipo de crime para o mês desde 2010. A queda no acumulado de latrocínios entre janeiro e setembro (26 vítimas) é de 32%.
O Chefe de Polícia do RS, delegado Fernando Sodré, destaca que todos os tipos de roubos tiveram queda no período, o que reflete, também, nos números de latrocínios.
— O latrocínio é um crime vinculado ao roubo, que pode acabar em morte quando a vítima reage ou quando o criminoso se assusta. Como estamos em queda no roubo a pedestre, a estabelecimento comercial, a residências, no abigeato, todos com baixas históricas, também impactou nesse indicador — diz Sodré.
Os roubos a pedestre caíram 32% no último mês, assim como os roubos de veículos, que registraram queda de 28% no período, passando de 276 casos em 2023 para 200 em setembro de 2024. As ocorrências em ônibus e lotações tiveram redução de 57% no comparativo com 2023, quando houve 42 casos contra 18 em 2024.
Foram registrados 204 casos de abigeato no último mês, o que representa uma redução de 37% no comparativo com o mesmo período de 2023, quando o RS contabilizou 323 registros.
No caso dos assassinatos, o aumento foi de 8% no nono mês de 2024, passando de 121 vítimas em 2023 para 131 no mesmo período deste ano. Em agosto, houve 98 assassinatos, o que representava uma redução de 27% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Chacinas elevam homicídios
A alta nos homicídios de setembro está relacionada às chacinas registradas no no interior do Estado no último mês. Na madrugada do dia 1º, um domingo, quatro homens foram encontrados mortos em frente a um condomínio residencial em Rolante, no Vale do Paranhana. A investigação da Polícia Civil apontou que a motivação seria uma disputa entre facções rivais. Nove suspeitos foram presos pela polícia.
Já na madrugada do dia 4, um triplo homicídio foi registrado no bairro Tijuca, em Alvorada, na Região Metropolitana. As vítimas eram três homens, que foram encontrados com diversos ferimentos causados por disparos de armas de fogo dentro de um ferro velho. Apesar deste caso, a cidade, assim como a Capital, seguem registrando quedas históricas nos índices de homicídios.
Em 20 de setembro, três homens e uma mulher foram encontrados mortos dentro de um apartamento no centro de Santa Rosa, no noroeste do Estado. A investigação da Polícia Civil também atribuiu as mortes a conflitos entre grupos criminosos rivais que atuam na cidade.
Na madrugada do dia 22, uma mulher de 55 anos e seu filho, de 17, foram mortos a tiros na saída de uma festa, em Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo. O motivo seria um desentendimento entre o assassino e o rapaz. Um suspeito foi preso pelo crime.
Na mesma madrugada, um adolescente de 15 anos e outros três homens foram mortos a tiros em uma residência de Arroio dos Ratos, na Região Carbonífera. Entre os mortos, estavam pai e dois filhos. O caso segue sob investigação.
Enfrentamento ao crime
O delegado Fernando Sodré comenta que o ponto em comum entre as chacinas de Rolante, Santa Rosa e Arroio dos Ratos é a relação com o tráfico de drogas. Ele salienta, contudo, que as forças de segurança endureceram o enfrentamento ao crime organizado em resposta às ações dos criminosos.
— Estamos tendo um enfrentamento fortíssimo, com prisões de lideranças e operações contra lavagem de dinheiro. Só em Rolante foram nove presos. Em Santa Rosa, a investigação segue em andamento e Arroio dos Ratos, o caso já está esclarecido, e já estamos com os mandados de prisão decretados — diz.
Sodré aponta que as investidas da polícia contra o crime organizado, como a Operação Rédea Curta, que resultou em 443 prisões, incluindo membros de facções que estavam foragidos, já apresentou resultados. De acordo com ele, em outubro já houve queda de 23% nos casos.
Feminicídios aumentaram
No caso dos feminicídios, a alta foi de 75% em relação a setembro passado: foram sete casos no último mês, contra quatro registrados em setembro de 2023. Entre janeiro e setembro, este tipo de crime teve queda de 31%, passando de 62 vítimas neste período de 2023 para 43 no mesmo intervalo de 2024.
Sodré ressalta que, para combater esses indicadores, a Polícia Civil inaugurou mais uma Delegacia da Mulher em Porto Alegre. Ele pontua que esse tipo de crime ocorre em ambientes domésticos, o que dificulta a prevenção. para fortalecer a rede de proteção, a polícia vem apostando no Projeto de Monitoramento do Agressor.
— O feminicídio tem uma particularidade. Muitos casos não tinham medida protetiva contra o agressor. Estamos insistindo para que as pessoas busquem a medida, para que haja um aumento e que os juízes disponibilizem esse recurso — diz Sodré.
A Brigada Militar também vem ampliando as Patrulhas Maria da Penha no Estado. Além disso, a recente alteração na lei penal que trata dos crimes de feminicídio, aumentando a pena para os autores, poderá auxiliar na redução do número de casos.