“Estou no seu aguardo em minha delegacia”. “Estou mandando as viaturas até sua residência ou até mesmo seu local de trabalho”. Uma sequência de mensagens e ameaças trocadas entre um golpista – de dentro do sistema prisional – e um morador da Região Metropolitana revela como agia um grupo envolvido no golpe dos nudes. Neste caso, o homem que sofreu extorsão acabou tirando a própria vida no fim do ano passado. Suspeitos de integrar o esquema foram alvo de operação do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) nesta terça-feira (25).
A Operação Divisa foi desencadeada pela Polícia Civil nesta manhã, com foco em grupos criminosos envolvidos tanto em golpes como em casos de homicídios na Grande Porto Alegre. Foram cumpridos mandados de prisão preventivas e 29 de busca e apreensão. Até o início da manhã, 10 pessoas já tinham sido presas e seis armas haviam sido apreendidas. A ofensiva foi realizada na Capital, em Gravataí, Canoas, Cachoeirinha, Sapucaia do Sul e Charqueadas. Foram cumpridas ordens judiciais também na Penitenciária Estadual do Jacuí (PEJ).
Entre os casos investigados estão extorsões por parte dos criminosos que aplicavam nas vítimas o chamado golpe dos nudes. Os bandidos se passavam por policiais para obrigar as vítimas a pagarem valores. Um dos crimes apurados resultou na morte de um morador de Gravataí em novembro do ano passado. O homem cometeu suicídio após sofrer uma sequência de extorsões.
O contato entre a vítima e os bandidos começou pela internet, com a troca de mensagens e fotos. Inicialmente o homem acreditava falar com uma jovem, mas posteriormente um golpista entrou em contato informando que ele havia trocado mensagens íntimas com uma adolescente e que os pais tinham registrado uma ocorrência, por suspeita de pedofilia. O criminoso se passou por um delegado e exigiu pagamento para não levar o caso adiante.
Após os primeiros pagamentos, o golpista garantiu que a ocorrência já havia sido retirada. Mas as extorsões seguiram, alterando a narrativa do golpe. Ao longo das conversas, o criminoso alegou que o caso havia se agravado e que eram necessários novos valores. Ao todo, o homem repassou aos criminosos cerca de R$ 10 mil por meio de transferências bancárias.
O golpista chegou a informar que a adolescente – que não existia – havia cometido suicídio, e que o homem responderia também por isso. “Estou agora mesmo formalizando seu mandato (o correto seria mandado) de prisão, assim que estiver pronto estou mandando juntamente com as viaturas até sua residência ou até mesmo seu local de trabalho”, ameaçou o bandido. Sem ter mais recursos para pagar as extorsões, o homem acabou tirando a própria vida.
Segundo o diretor do DHPP na Região Metropolitana, delegado Rafael Pereira, o caso chegou até a Polícia Civil em razão da morte da vítima.
— Esse é um caso que nos choca. Uma organização criminosa, dessa vez, ao aplicar o golpe dos nudes, levou a um desfecho diferenciado, onde a vítima, após tanto sofrer, numa angústia sem fim, com medo, acreditando que aquilo fosse real, acaba tirando a própria vida. Nós começamos a apurar o suicídio e chegamos a essa motivação. Um contexto que, comprovadamente, levou à morte dele — afirmou.
A vítima, segundo a polícia, manteve contato por cerca de dois meses com os golpistas e as extorsões se estenderam ao longo de três semanas.
— O indivíduo era um professor, não tinha nada de ilícito. Enviou fotos, sim, a uma suposta menor, que nunca existiu. Era sempre o extorsor do outro lado. Um indivíduo que nunca teve envolvimento com qualquer delito começa a efetuar pagamentos — afirma a delegada Fernanda Amorim, da DHPP de Gravataí.
Assassinatos
Além dos golpes, a operação também tem como alvos suspeitos de envolvimento em homicídios ocorridos na Região Metropolitana. Num dos casos, a vítima foi assassinada a tiros em Porto Alegre, em março deste ano. Após a execução, o corpo foi abandonado no município de Canoas.
— A vítima foi executada a tiros na Capital, mas transportada de veículo até a cidade de Canoas. Com essa movimentação, o objetivo dos criminosos era ocultar o cadáver e, dessa forma, se esquivar da responsabilização penal — afirma o delegado Arthur Hermes Reguse, titular da Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa de Canoas.
Segundo a polícia, a vítima era moradora do bairro Restinga, na zona sul de Porto Alegre, e havia passado o dia na Vila dos Papeleiros, na Zona Norte, onde foi executada a tiros. Depois disso, o corpo foi abandonado em Canoas, próximo de um posto de combustíveis.
— É uma típica ação do crime organizado. Deixar o corpo em outro local. Esse crime foi autorizado por uma liderança de facção — afirma o delegado Mario Souza, diretor do DHPP.
O executor deste crime, segundo a polícia, já havia sido preso na Vila dos Papeleiros, por tráfico de drogas.
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