A empresa Taurus, dona de uma carga de 3 mil armas que foi retirada às presas do alagado aeroporto Salgado Filho por risco de roubo, vai apurar se voluntários participaram da operação de transporte do armamento, que ocorreu no dia 8 deste mês. A informação sobre o suposto recrutamento de pessoas estranhas ao quadro de funcionários da Taurus foi publicada em reportagem do jornal ABC.
Voluntários, que atuavam no resgate de pessoas atingidas pela enchente, disseram ter sido acionados para ajudar no salvamento de crianças. Só depois de chegar a um local de encontro é que teriam sido avisados da verdadeira missão: fazer o transporte de um carregamento de armas que estava no terminal de cargas do aeroporto. O armamento aguardava exportação.
— Nos deslocamos para fazer translado de cem crianças. Fizemos postagens pedindo arrecadação para custo de combustível e tudo. Chegamos lá e não era nada disso. Nos sentimos coagidos, como íamos dizer não depois de saber da missão? Era algo sigiloso. E ainda tendo o risco de confronto com bandidos. Me senti inseguro por não ter um colete à prova de balas. Por mais que pudessem ter policiais federais, não era um número que nos deixasse seguros, até porque muitas vezes fiz o translado do barco sozinho — diz Isaac Freire Lopes, um dos voluntários.
Naquela semana, a Polícia Federal (PF) havia detectado, por meio de postagens em redes sociais, o risco de roubo por parte de uma facção criminosa. Com isso, uma operação foi montada: o Comando de Operações Táticas (COT) da PF ficou responsável pela segurança do local, enquanto a Taurus providenciaria a logística para retirada das armas.
Parte do trabalho foi acompanhada por uma equipe do programa Fantástico, da TV Globo. Depois da veiculação da reportagem, voluntários se disseram surpresos por terem se visto nas imagens da ação. Eles alegaram ainda que teriam sido praticamente "coagidos" a fazer o trabalho por pessoas que se identificaram como funcionários da Taurus. A empresa diz, em nota, que "desconhece a participação e o recrutamento de voluntários e vai levantar os fatos junto às autoridades policiais que participaram da operação" (leia a nota na íntegra abaixo).
Fontes da PF disseram que, em uma situação de normalidade, todas as pessoas que ingressassem no local seriam identificadas, checadas e credenciadas por questões de segurança, mas que, naquele momento, pela excepcionalidade da situação e pelo aparato policial mobilizado, bastava o fato de constarem como sendo apresentadas como prestadores de serviço da Taurus. Em nota, a corporação afirma que a retirada foi coordenada com Fraport e Taurus e "as pessoas contratadas por ela (Taurus)" (leia a nota na íntegra abaixo).
Ainda que pessoas estranhas à corporação e ao quadro de funcionários da Taurus possam ter entrado no local e tido acesso a caixas de armamento (lacradas), a PF não vê indicativo de crime de atribuição federal que motive abertura de investigação sobre o caso.
O que diz a Taurus
"A empresa desconhece a participação e o recrutamento de voluntários e vai levantar os fatos junto às autoridades policiais que participaram da operação. Conforme mencionado anteriormente, a Taurus, junto com os órgãos de segurança, sempre garantiu a total segurança da carga.
A operação de retirada das armas no aeroporto foi coordenada na parte fluvial pelo Comando de Operações Táticas da Polícia Federal (COT) e na parte terrestre com veículo de transportadora credenciada pelo Exército Brasileiro, escoltada por dois veículos de segurança privada armados e acompanhada por três viaturas da Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE) da Policia Civil do Rio Grande do Sul. A conferência e manuseio das armas foram feitas por 12 funcionários da Taurus, da área de logística, devidamente capacitados."
O que diz a Polícia Federal
"A retirada das armas que estavam depositadas no Aeroporto Internacional Salgado Filho foi coordenada pela Polícia Federal, em articulação com a Fraport, administradora do Aeroporto Internacional Salgado Filho, e com a empresa proprietária da carga e as pessoas contratadas por ela, sendo esses, exclusivamente, os participantes envolvidos com a logística de remoção do armamento. A PF mobilizou o Comando de Operações Táticas (COT), especializado em missões de risco diferenciado, para garantir a segurança de todos os envolvidos na logística de retirada das armas."