Os quatro policiais militares envolvidos no suposto caso de racismo contra um motoboy em Porto Alegre, no último sábado (17), prestam depoimento à Polícia Civil na tarde desta terça-feira (20). Eles são investigados pela abordagem em que prenderam Everton Henrique Goandete da Silva, 40 anos, que acionou a Brigada Militar após ser ferido com um canivete.
Prestam depoimento nesta tarde quatro soldados, sendo duas mulheres. Dois dos brigadianos foram afastados temporariamente do trabalho nas ruas até o fim das investigações. Neste período, a dupla vai atuar no setor administrativo da BM.
O inquérito da Polícia Civil apura o que aconteceu no sábado, quando Silva foi ferido com um canivete por Sérgio Camargo Kupstaitis, 71. Após a agressão, o motoboy teria reagido atirando pedras no idoso. Ao g1, a delegada que investiga o caso, Rosane de Oliveira, afirmou que os dois devem ser indiciados por lesão corporal porque "feriram-se mutuamente".
Ela também irá investigar se houve racismo contra o motoboy, que é negro, por parte dos brigadianos que atenderam a ocorrência.
Naquele sábado, testemunhas e o próprio motoboy acionaram a BM após ele ser ferido com golpe de canivete por Kupstaitis, um homem branco. Chegando ao local, os brigadianos algemaram e prenderam primeiro Silva, alegando que ele cometeu desacato à autoridade. O motoboy foi colocado em um camburão. Pessoas que presenciaram o ocorrido então protestaram, alegando que o agressor era Kupstaitis, que conversava com os policiais.
O idoso, que estava sem camisa, foi acompanhado por agentes até o apartamento dele, na mesma rua do fato, para se vestir. Ali, também teria deixado o canivete usado para agredir o motoboy. Somente depois, Kupstaitis foi algemado e colocado no banco traseiro de uma viatura. Segundo a polícia, a arma branca foi entregue às equipes na segunda, quando Kupstaitis prestou depoimento.
BM também investiga
Além do inquérito da Polícia Civil, a Brigada Militar abriu uma sindicância para apurar a conduta dos PMs, inclusive o possível racismo. O secretário da Segurança Pública, Sandro Caron, afirmou que o procedimento deve ser concluído até o próximo sábado (24).
Além dos PMs, demais testemunhas foram ouvidas no procedimento da BM. Na tarde de segunda-feira (19), o motoboy prestou depoimento à sindicância "na condição de vítima".
Contrapontos
A reportagem tenta localizar Sérgio Camargo Kupstaitis, para contraponto, sem sucesso até a publicação dessa reportagem.
A advogada Andrea Ferrari, que atende dois PMs, afirmou que acompanha os depoimentos e deve se manifestar depois.
Os outros dois policiais militares são atendidos pelo advogado Fabio Silveira Rodrigues, que se manifestou por meio de nota. Confira:
"A defesa dos militares envolvidos no incidente do sábado 17/02/24, em Porto Alegre informa que vai acompanhar atentamente a apuração dos fatos, para que a avaliação observe as garantias dos envolvidos, sem que a questão noticiada sobressaia sobre a técnica empregada.
Evidentemente que a corporação precisa proceder essa avaliação com responsabilidade e proporcionalidade, evitando o exacerbamento dos ânimos e apurando com imparcialidade todo o ocorrido.
Temos confiança de que a análise imparcial dará ao fato a dimensão real e faremos todo o esforço probatório nesse sentido na sindicância e no inquérito."