Dois dos policiais militares envolvidos na abordagem a um motoboy que acabou preso, no último sábado (17), foram afastados temporariamente do trabalho nas ruas. A medida foi tomada pela Brigada Militar em razão do "estresse" causado aos PMs e por "precaução". A dupla seguirá afastada enquanto é feita a sindicância da BM, que apura possíveis excessos e suposto racismo durante a ocorrência registrada no bairro Rio Branco, em Porto Alegre.
Os dois PMs, ambos soldados, vão atuar no setor administrativo da BM até o fim das investigações internas. Além do procedimento da BM, a Polícia Civil também investiga o caso.
— Se avaliou que seria importante (os dois) ficarem de fora de atividades operacionais em razão do estresse provocado. Como medida de precaução, vão ficar essa semana em atividades administrativas, e depois vamos seguir avaliando a situação de estresse dos profissionais, para que a gente tenha uma boa gestão da segurança pública. A gente segue a conduta: eles (os policiais) ficam afastados das atividades e nós podemos, em uma semana, concluir aí o que foi (que ocorreu) e, eventualmente, se houve falha de procedimento ou não — disse o secretário da Segurança Pública, Sandro Caron.
Internamente, a BM apura se houve excessos e racismo durante a abordagem, já que o motoboy Everton Henrique Goandete da Silva, 40 anos, que foi ferido com golpe de faca, era a vítima, mas foi levado preso em um camburão. Enquanto ele era algemado, supostamente por desacato à autoridade policial, diversas testemunhas começam a gritar e a argumentar que o agressor era outro indivíduo que também estava no local: Sérgio Camargo Kupstaitis, homem branco de 71 anos.
Outro elemento da conduta dos policiais que será apurado é o fato de que o suposto agressor, um homem branco, antes de ser também conduzido à viatura, foi acompanhado pelos brigadianos até seu apartamento para se vestir e teria se desfeito da faca usada para agredir o motoboy. Somente depois, Kupstaitis foi algemado e colocado no banco traseiro de outra viatura.
Motoboy e agressor foram conduzidos até o Palácio da Polícia, para registro de ocorrência.
Questionado, Caron confirmou que a questão racial durante a abordagem também será avaliada na sindicância da BM.
— Isso tudo (suspeita de racismo) é apurado. Tudo isso é apurado. Então, pessoas vão ser ouvidas, outros vídeos da situação vão poder ser apresentados e, obviamente, toda a situação da ocorrência é apurada a partir de oitivas e de outros instrumentos de prova — disse Caron.
Pouco antes, em outra entrevista ao programa Timeline da Rádio Gaúcha, Caron destacou que não era possível, por ora, inocentar ou culpar os policiais investigados.
Caron também prometeu a conclusão da sindicância em uma semana. Na tarde desta segunda-feira (19), o motoboy presta depoimento “na condição de vítima", segundo descrito pela BM no procedimento aberto.
Entenda o caso
A investigação foi aberta após a divulgação de diversas fotos e vídeos que mostram um motoboy negro sendo algemado e conduzido pela Brigada Militar após ter sido vítima de uma facada desferida por um homem branco, no sábado (17), no bairro Rio Branco, em Porto Alegre. O motoboy e testemunhas alegam que os policiais trataram a vítima como criminosa – enquanto o suposto agressor seguia livre e era tratado com deferência pelos brigadianos.