O governador Eduardo Leite voltou a se manifestar sobre a abordagem de policiais militares no bairro Rio Branco, em Porto Alegre, que resultou na detenção de um motoboy negro esfaqueado por um homem branco no sábado (17). Na manhã desta segunda-feira (19), em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, o governador defendeu que haja espaço para esclarecimento (assista ao vídeo acima).
— Há que se dar a oportunidade de esclarecimento, se houve, por parte dos policiais, algum tipo de procedimento equivocado por juízo precipitado e, pior, por preconceito, a gente não pode reagir a isso de forma precipitada e de preconceito contra a polícia. Nós precisamos analisar os fatos — disse.
Na tarde de domingo (18), durante evento em Passo Fundo, no norte do Estado, Leite afirmou que as imagens preocupam e prometeu celeridade na apuração.
— As imagens nos deixam preocupados sobre como essa abordagem tenha sido feita. É muito importante que a gente garanta uma sindicância com celeridade, com todo o rigor para apurar a conduta dos policiais. Naturalmente, se houve de fato algum procedimento errado e, principalmente, alicerçado em preconceito, isso vai ter que ser apurado e, sendo apurado isso, dadas as consequências com mais absoluto rigor — disse o governador.
Ainda no dia da ocorrência, o Piratini afirmou ter determinado que a corregedoria da Brigada Militar investigasse o caso. Por nota, a BM confirmou a abertura de sindicância.
"Referente à ocorrência atendida pelo 9º Batalhão de Polícia (9º BPM) na manhã deste sábado no bairro Rio Branco, em Porto Alegre, a BM informa que os dois homens envolvidos em uma ocorrência de vias de fato foram conduzidos à delegacia para prestar esclarecimentos. O comando de Policiamento da Capital da Brigada Militar está abrindo neste sábado (17/2) sindicância para apurar as circunstâncias da abordagem."
O governo federal, por meio do ministro de Estado dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, anunciou que vai acompanhar o caso. Pela rede social X (antigo Twitter), Almeida afirmou que o caso "demonstra, mais uma vez, a forma como o racismo perverte as instituições e, por consequência, seus agentes".
"É preciso que as instituições passem a analisar de forma crítica o seu modo de funcionamento e aceitar que em uma sociedade em que o racismo é estrutural, medidas consistentes e constantes no campo da formação e das práticas de governança antirracista devem ser adotadas", escreveu.
Ouça a fala do governador ao Atualidade:
O caso
A discussão no bairro Rio Branco, em Porto Alegre, no sábado (17), repercutiu nas redes sociais porque um homem negro agredido com uma faca chamou a polícia e acabou detido. Ele é o motoboy Everton Henrique Goandete da Silva, 40 anos, atingido levemente com a arma branca por um homem branco, grisalho, com quem teve uma discussão. GZH apurou que o agressor chama-se Sérgio Camargo Kupstaitis, 71 anos. A reportagem tenta contato com a defesa, mas sem sucesso até a publicação dessa reportagem.
Conforme moradores ouvidos pela reportagem, o homem que aparece nas imagens reside no local e costuma reclamar da aglomeração de motoboys, no outro lado da calçada do prédio onde mora.
Em determinado momento, começou uma discussão entre ele e o motoboy Everton. Foi quando Kupstaitis, que estava sem camisa, sacou de uma faca e deu um pontaço no pescoço do motociclista, que sofreu um corte superficial. Colegas do motoboy saíram em defesa dele e moradores chamaram a BM.
No local, policiais do 9º Batalhão de Polícia Militar detiveram em flagrante Everton por desacato à autoridade, porque consideraram que ele estava agressivo. O homem que portava a faca também foi detido em flagrante.
Após serem levados para o plantão de uma delegacia da Polícia Civil, ambos acabaram liberados, para responder pelos delitos em liberdade. O motoboy deve responder por desacato à autoridade (teria resistido à abordagem dos PMs). Kupstaitis, por lesão corporal leve.