Entre os sete homens transferidos durante operação na manhã desta sexta-feira (8) estão dois presos apontados como mandantes de um ataque, que resultou na morte de dois irmãos adolescentes no bairro Cascata, em Porto Alegre. Marina Maciel dos Santos, 16 anos, e João Francisco Maciel dos Santos, 14, saíram de casa, na noite de 19 de abril, para comprar refrigerante em uma padaria próxima, mas acabaram em meio a um tiroteio. Os dois foram baleados e não resistiram. A investigação apontou que os irmãos não tinham qualquer relação com o crime, e foram assassinados em razão do local onde estavam.
As autoridades não divulgaram o nome dos presos transferidos nesta manhã, mas a reportagem apurou que entre eles estão Matheus Ribeiro Ullmann, o Mamão, e Mário Ribeiro Ullmann, o Irmão Mamão. Os dois são apontados como líderes de facção nascida no bairro Bom Jesus, na zona leste de Porto Alegre, e com atuação no bairro Morro da Cruz. A dupla foi indiciada pelos assassinatos dos adolescentes pela equipe da 1ª Delegacia de Homicídios de Porto Alegre.
Conforme a Polícia Civil, eles seriam os mandantes do ataque naquele dia, no bairro Cascata. O objetivo da empreitada seria apavorar a comunidade e afrontar rivais que dominam a região onde a ação ocorreu.
Para isso, um grupo de criminosos passou pelo local em um carro, atirando a esmo, na direção de quem estava na rua. As vítimas foram baleadas na Avenida Herval. Foi assim que Marina e João Francisco, alunos dedicados do Colégio Estadual Coronel Afonso Emílio Massot, foram sentenciados à morte, sem qualquer culpa.
Além dos irmãos que não resistiram aos disparos, foram baleados outro adolescente de 17 anos, uma mulher e um homem — eles sobreviveram ao ataque.
A partir desse caso, a polícia intensificou a investigação contra a facção. Com isso, chegou a outros envolvidos, para além daqueles que atuaram diretamente neste homicídio. Durante a apuração, foram identificados também outros ataques semelhantes realizados pelo grupo. Num deles, uma mulher foi baleada quando chegava em casa, em maio.
Em outubro deste ano, a 1ª DHPP realizou uma operação contra a facção por trás desse crime. Durante a chamada Operação Per La Madre (para a mãe), foram cumpridos 66 mandados de prisão em 11 municípios do Estado e em Santa Catarina. Ao todo, cerca de 600 policiais participam da ofensiva, que teve apoio da Brigada Militar e da Polícia Penal. Cerca de 50 foram presas na ação e 130 quilos de drogas apreendidos.
Um dos criminosos foi identificado por meio das impressões digitais deixadas num coquetel molotov (explosivo artesanal). O investigado é apontado como o responsável por articular os ataques, reunindo armamentos e organizando os demais criminosos. O artefato foi encontrado dentro do carro usado no ataque que matou os adolescentes. A suspeita é de que fosse utilizado para destruir o veículo, mas não se descarta que pudessem empregar no crime.
Transferência
O envolvimento em homicídios e casos graves está entre os critérios que levaram à transferência dos presos. A medida é uma forma de tentar coibir novas execuções coordenadas pelo crime organizado. Diferentemente de outras operações realizadas nos últimos anos, como a Pulso Firme e a Império da Lei, na qual os presos foram encaminhados para o sistema prisional federal, fora do Rio Grande do Sul, neste caso, as transferências ocorrem para penitenciárias gaúchas. Ainda assim, a remoção dos apenados pretende dificultar os contatos com membros do grupo criminoso e evitar que continuem comandando novos crimes.
Na operação desta manhã, os dois foram retirados da prisão onde estavam — que não foi divulgada — e levados a Complexo Prisional de Canoas (Pecan), junto dos outros cinco transferidos. A troca de unidades prisionais ocorreu com objetivo de combater os assassinatos vinculados ao crime organizado, isolando as lideranças.
A Pecan foi escolhida por ter bloqueador de sinal de celular, o que deve manter os presos isolados, segundo a Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe).
— Em Canoas, temos uma unidade mais nova, em que há um melhor controle do preso, e é a única onde temos bloqueador (de sinal) de celular, o que vai impedir, de forma mais eficiente, a comunicação desses presos com o ambiente externo, impossibilitando que continuem a cometer crimes — explica o superintendente da Susepe, Mateus Schwartz.
Os sete alvos fazem parte de diferentes facções criminosas, sendo a maior parte deles integrante ou dissidente do grupo com berço no bairro Bom Jesus, na zona leste da Capital. Há um preso que é apontado como membro do grupo criminoso com base no Vale do Sinos.
— Como vemos essa queda de homicídios na Capital e no Estado, optamos pela transferência de presos entre casas prisionais do Estado. Se verificarmos alguma mudança no cenário, uma elevação, podemos optar por levá-los para fora do RS, em prisões federais. Essa ação de hoje ocorre após meses de análises, por parte das inteligências das polícias, e do acompanhamento de cada caso de homicídio. A mensagem que estamos passando é que, cada vez que um grupo criminoso optar por ordenar um homicídio, terá um prejuízo intensificado — pontua o delegado Mario Souza, que comanda o DHPP no Estado.
GZH tenta contato com as defesas dos presos.