A visita do diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Luiz Fernando Corrêa, ao Rio Grande do Sul, nesta semana, teve como objetivo apresentar o novo Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin) e reforçar a intenção do órgão federal de fortalecer o intercâmbio de informações com a Secretaria da Segurança Pública (SSP) do Rio Grande do Sul.
O encontro, no entanto, poderá ter repercussões práticas mais significativas com a perspectiva de aproximação das áreas técnicas das instituições públicas e o compartilhamento de ferramentas para o enfrentamento à criminalidade no Estado e no país. Esta é uma das expectativas do titular da SSP, secretário Sandro Caron.
— Inteligência aplicada ao trabalho de segurança pública precede investigações e estratégias de policiamento ostensivo, entre outras atividades. Auxilia nas ações táticas e operacionais, e assessora o processo de tomada de decisões. Na prática, esta aproximação pode propiciar, por exemplo, a produção dos dados sobre movimentação e expansão do crime organizado em determinada região do Estado e permitir que a nossa estratégia seja proativa, antecipando ações e decisões, em vez de ser meramente reativa aos fatos depois de ocorridos — explica o secretário.
Caron vislumbra a possibilidade de aprimoramento, com base na qualificação da capacidade de levantamento e análise de dados, para a definição de investimentos e de aplicação dos recursos humanos e materiais disponíveis com maior assertividade.
— O indicativo baseado nas evidências geradas a partir de dados reais permitirá, ao chefe da Polícia Civil, instalar uma delegacia especializada para atender determinada demanda regional; e, ao comandante da Brigada Militar, ampliar ou direcionar o efetivo sobre áreas e eventos específicos. É possível acertar mais com a utilização adequada das ferramentas de inteligência — argumenta.
O secretário aponta que há expectativa de que a cooperação alinhada entre as instituições seja alicerçada no princípio da reciprocidade.
— Vamos produzir e oferecer dados. Esperamos receber o mesmo — sustenta.
Em resposta a pedido de entrevista de GZH, o diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Luiz Fernando Corrêa, encaminhou breve nota, na qual aponta para a disposição do órgão federal pelo êxito na parceria.
"A Abin trabalha como facilitadora entre os parceiros estaduais e locais, no âmbito do Sistema Brasileiro de Inteligência, para que haja complementaridade e interoperabilidade a fim de gerar conhecimento estratégico", declara no texto encaminhado à reportagem.
Inteligência artificial
Um dos instrumentos consolidados no trabalho de inteligência para segurança pública é a ferramenta de inteligência artificial, com a qual técnicos amplificam a capacidade para análise de grande volume de dados, combinando informações com objetivos estrategicamente determinados.
— Estamos na era do excesso de informação. Trabalhamos com volumes gigantescos de dados. Não é mais possível analisá-los de forma artesanal. A inteligência artificial é uma prática necessária e já está incorporada ao nosso cotidiano — revela o secretário.
Caron menciona o exemplo do sistema de cercamento eletrônico, composto por câmeras de videomonitoramento e centrais de vigilância operadas por agentes de segurança. Atualmente, este sistema detecta placas de veículos, apontando situações de crime, permitindo o acompanhamento de ocorrências e a captura de criminosos.
Com a sofisticação da leitura de dados e da comunicação instantânea, será possível monitorar os passos de criminosos investigados pelo usos de cartões bancários, movimentação rodoviária e até mesmo pelo reconhecimento facial.
— Temos que fortalecer a cultura da inteligência no Brasil. Nações como Estados Unidos, Inglaterra, França, Alemanha, Rússia utilizam estas ferramentas em diversas frentes estratégicas com grande êxito — conclui Caron.
Cooperação desarticulou células neonazistas
Em recente operação, com ações simultâneas em território gaúcho, paranaense, paulista e cearense, investigação decorrente de cooperação entre a Abin e a Secretaria da Segurança Pública desmantelou células de grupos neonazistas que mantinham rede de relacionamento nacional e internacional.
O trabalho resultou na prisão de sete homens apontados como líderes de movimentos extremistas, disseminadores de discurso supremacista branco, que seguem as ideologias fascista e nazista, propagam misoginia, racismo, separatismo e outras expressões de ódio e preconceito.
Coordenada pela Delegacia de Combate aos Crimes de Intolerância da Polícia Civil do RS, a operação aprendeu dispositivos de comunicação e informática, fardas militares, armas e simulacros referenciais da Segunda Guerra, livros, panfletos e manuais de comportamento e treinamento de guerrilha em Curitiba, no Paraná; em Ribeirão Pires, Araçoiaba da Serra e na cidade de São Paulo, no Estado paulista; e também nas cidades gaúchas de Gravataí, Guaíba, Venâncio Aires, Novo Hamburgo, Canoas, Pantano Grande e Capão da Canoa.
A polícia também chegou a uma unidade da rede que seria responsável pela produção de manifestos ideológicos distribuídos entre as células e utilizados na doutrinação dos soldados extremistas, disfarçada sob a fachada de uma livraria, em Fortaleza, no Ceará.