Uma operação realizada nesta quinta-feira (23) mirou um grupo que rendia motoristas para roubar cargas de cigarro durante a entrega dos produtos em Porto Alegre e na Região Metropolitana. Os criminosos teriam praticado ao menos 12 delitos do tipo em cidades gaúchas nos últimos meses. Além da quadrilha, também foram alvo da ação dois comércios localizados no bairro Bom Jesus, na zona leste da Capital, que estariam vendendo os produtos roubados.
A ofensiva policial começou por volta das 5h30min e se encerrou no começo da tarde. Foram cumpridas 22 ordens judiciais, sendo 20 mandados de busca e apreensão e dois de prisão preventiva. Conforme as equipes, esses dois procurados, que não tiveram a identidade divulgada, foram localizados e presos ainda antes das 8h. Cum um deles, foi apreendido um revólver.
A ação, que contou com o apoio de 64 policiais civis, ocorreu em Porto Alegre, Cidreira, Novo Hamburgo, Viamão, Cachoeirinha e Gravataí. O trabalho foi realizado pela Delegacia de Repressão a Roubo e ao Furto de Cargas (DRFC), do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), da Polícia Civil.
A quadrilha seria especializada no roubo de cargas desse produto. Nas ações, os criminosos rendiam motoristas das empresas e, mediante restrição da liberdade, faziam a vítima dirigir para um local isolado para roubar o carregamento. De acordo com a investigação, a quadrilha intercepta os motoristas durante o trajeto do depósito das empresas até os lojistas, em via urbana. Depois, rendem os condutores e descarregam os produtos no carro que utilizam.
Em alguns casos, os condutores eram obrigados a ajudar a descarregar a mercadoria e colocá-la no veículo do grupo.
Segundo a delegacia de Roubo e ao Furto de Cargas, o grupo foi responsável por ao menos 12 casos nos últimos meses. Contabilizando seis deles, o prejuízo causado a empresas é de mais de R$ 100 mil em cargas de cigarro.
Homem já havia sido preso pelo mesmo crime
Conforme a polícia, o principal alvo da operação desta quinta, que teve mandado de prisão preventiva expedido, é um homem de 40 anos que já foi preso em outra ocasião pelo mesmo crime. Atualmente, ele cumpria prisão domiciliar, segundo a delegada Isadora Galian, que coordena a investigação iniciada em fevereiro e a ação desta quinta.
A polícia afirma que ele havia sido preso em flagrante em março deste ano em Esteio, por roubo majorado, pela delegacia de Roubos e Furtos de Cargas. Na ocasião, estava com uma carga de cigarro avaliada em mais de R$ 70 mil. O indivíduo também teria passagens por homicídio doloso, posse e porte ilegal de arma, ameaça e sequestro relâmpago, conforme a delegada.
O outro homem que teve mandado de prisão expedido também atuava em roubos de cargas.
Comércios revendiam carga, indica apuração
Também na operação desta quinta, foram feitas buscas em dois estabelecimentos comerciais, localizados na Bom Jesus, na Zona Leste. Os locais são investigados pela Polícia Civil porque estariam comercializando os produtos subtraídos.
Os dois comércios foram vistoriados pelas equipes. Os responsáveis não estavam no local no momento da ação, e nada foi apreendido.
Nas próximas etapas da investigação, as equipes vão buscar identificar e responsabilizar mais comerciantes que estejam vendendo as cargas, explica a delegada.
— Estamos concentrando esforços para identificar compradores de cargas roubadas, além de asfixiar financeiramente as organizações criminosas, o que, inevitavelmente, reduzirá também outros crimes, como lavagem de dinheiro, tráfico de drogas, armas e roubo de veículos — diz Isadora.
Carga visada
Apesar de uma queda de cerca de 35% nos roubos a motoristas que fazem entregas de cigarro, esta segue sendo a carga mais visada por criminosos, de acordo levantamento feito pela Divisão de Inteligência e Análise Criminal do Deic.
Isso ocorre porque o escoamento desse produto ocorre de forma rápida, já que é um tipo de mercadoria que pode ser vendida em diversos locais, como padarias, bancas de jornal e mercados.
Além disso, o item possui alto valor comercial, trazendo lucro rápido a facções criminosas. Normalmente, os valores obtidos são usados para se fortalecerem, por meio da compra de armas e drogas.
Também por isso, segundo o setor de Inteligência da delegacia de Roubo e Furto de Cargas, associações criminosas têm se reunido para praticar crimes do tipo e "facilitar o escoamento da mercadoria roubada".
Diretora do Deic, a delegada Vanessa Pitrez explica que a queda de casos de roubos de carga significa um "forte ataque" ao crime organizado. Segundo ela, os roubos de cargas costumam ser realizados por indivíduos que integram facções:
— Quando grandes quantidades de drogas são apreendidas pela polícia, o indivíduo que estava responsável por ela fica devendo à facção. Ele é cobrado, precisa ressarcir o prejuízo que ficou, e muitos acabam recorrendo ao roubo de cargas para arrecadar dinheiro rapidamente e poder pagar o grupo criminoso. Então, reduzir o número de ocorrências do tipo impacta fortemente no enfraquecimento das organizações criminosas e de seu potencial econômico.
A investigação sobre a ação da quadrilha segue em andamento, para identificar e responsabilizar toda o grupo envolvido nos roubos.
Denúncia
Quem tiver informações sobre casos do tipo e também sobre outros delitos, pode denunciar ao Deic pelos telefones 0800-510-2828 ou (51) 3288-9800. O sigilo é garantido pelas equipes.