Uma operação policial, desencadeada na manhã desta quinta-feira (5), tem como alvo um grupo criminoso especializado em roubos de carga de cigarro, que atua em Porto Alegre e na Região Metropolitana. Conforme a investigação, os homens rendiam motoristas e, por vezes, os obrigavam a ajudar a descarregar a mercadoria e colocá-la no veículo da quadrilha. A ação de combate começou por volta das 6h. O trabalho foi realizado pelo Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), da Polícia Civil.
Foram presos preventivamente dois homens, alvos da ação, que tinham, cada, duas ordens de detenção determinadas. Na ação, também foi localizado e preso um terceiro homem, que estava foragido por outro caso de roubo de cargas. Também foram cumpridos outros 26 de busca e apreensão. Na casa de um dos homens, os policiais encontraram 1.800 maços de cigarro. Ele apresentou notas lícitas para metade dos produtos, mas não tinha a documentação dos demais itens.
O trabalho se concentrou em bairros de Porto Alegre, Viamão, Cachoeirinha e Guaíba, onde foram registrados os roubos. Participam da operação 106 policiais civis, comandados pela Delegacia de Repressão a Roubo e ao Furto de Cargas, do Deic.
Conforme a investigação, ao menos quatro casos com ações semelhantes foram registrados neste ano, nos locais onde ocorre a ação. O prejuízo, nestes casos, foi de quase R$ 100 mil às empresas, segundo o departamento.
Motoristas rendidos
Os roubos são praticados, normalmente, por pelo menos dois homens, que interceptam o furgão durante o trajeto do depósito das empresas até os lojistas, em via urbana. Depois, eles rendem os motoristas e descarregam os produtos no carro que utilizam.
Em um dos episódios, registrado em maio deste ano em Cachoeirinha, câmeras de segurança do furgão flagraram o momento em que o motorista é abordado. O grupo o faz parar o veículo e um dos criminosos embarca no carona — esse homem ainda não foi identificado, segundo as equipes. Em seguida, começa a dar ordens ao trabalhador:
— Segue aquele carro ali, faz favor. É só a carga (o alvo do roubo), tá ligado, mano? Nada mais. Tá tranquilo — diz o criminoso, que usa máscara.
O motorista responde:
— É a primeira vez, cara.
— Tá, vamo lá, então. Só segue o carrinho pra nós. Tu sabe que não é nada teu (que será levado), né? Então é tranquilo — afirma o assaltante.
O objetivo, segundo as equipes, é deslocar o furgão até uma rua mais deserta, onde o roubo será consumado. Uma câmera traseira também filma o momento em que os criminosos começam a descargar as caixas de cigarro. Um dos ladrões diz para o motorista ajudar nesse momento.
Conforme o Deic, os homens que aparecem nas imagens integram uma quadrilha especializada em roubo de carga de cigarro. Esse grupo teria ligação com uma facção criminosa que tem origem no bairro Bom Jesus, na Capital, e tem determinado ataques recentes na zona leste da cidade, em razão de disputa por pontos de tráfico de drogas com um grupo rival.
Ainda segundo o Deic, um dos alvos da ação desta quinta-feira possui passagens policiais pelos crimes de homicídio doloso e pelo menos nove registros por roubo a motoristas de entregas. Por causa da reincidência do investigado nesse tipo de crime, a operação recebeu o nome de Recidiva, que significa algo que torna a aparecer ou correr.
Investigação teve parceria com empresas
De acordo com a Deic, as equipes afinaram o contato com integrantes de empresas de cigarro, que ficou mais direto, e a investigação ganhou agilidade.
— Toda vez que tem um roubo envolvendo carga de cigarro, o motorista é orientado a ir até o Deic para fazer registro da ocorrência. Ali, o veículo é apreendido, já são feitos exames periciais para tentar identificar os criminosos e são colhidos todos os elementos. Na sequência uma equipe se desloca até o local do roubo e faz uma análise preliminar sobre o crime. É um padrão que acertamos, implementamos com as empresas para que se tenha mais rapidez. Porque antes, em alguns casos, os motoristas levavam até uma semana para registrar o caso, o que prejudicava a obtenção de imagens, testemunhas — explica a delegada Isadora Galian, que coordena a investigação e a ação desta quinta.
Conforme o Deic, um levantamento feito neste ano mostra que as cargas de cigarro são as mais roubadas por criminosos no Estado. Essa “preferência” é explicada pela facilidade de recolocar o produto no mercado, afirma o diretor da Divisão de Investigação do Deic, delegado Eibert Moreira Neto.
— É algo que vemos diariamente. O escoamento desse produto é feito rapidamente porque é uma mercadoria vendida em qualquer lugar, uma padaria, banca de jornal, mercado. Além disso, o cigarro possui alto valor comercial, o que possibilita uma rápida rentabilidade para as facções criminosas, que utilizam o valor dos assaltos na compra de armas e drogas.
Segundo o delegado, o departamento mantém equipes de sobreaviso para fazer as prisões em flagrante, logo depois dos roubos, o que ajuda na investigação.
Eibert destaca também que, apesar desses casos, o número de roubos de cargas no RS teve redução de 23,4% no primeiro semestre deste ano, em comparação com o igual período de 2022. De janeiro a junho de 2023, foram 264 ataques, contra 345 no mesmo período do ano passado. Os dados foram divulgados em julho.
A delegada Vanessa Pitrez destaca que a operação contra este grupo vai impactar também em outros tipos de crime:
— A operação de hoje demonstra o constante propósito do Deic em reprimir fortemente o crime organizado em todas as suas vertentes. A investigação realizada pela Delegacia de Furto e Roubo de Cargas aponta que as facções ligadas ao tráfico de drogas e homicídios também têm braços no roubo de cargas e mercadorias de grande monta, como forma de se capitalizar para aquisição de mais armas e drogas para a organização. A ação de hoje é voltada a um conhecido grupo criminoso com berço na zona leste da capital que tem sido responsável pela nova disputa que tem gerado homicídios em Porto Alegre. O grupo investia em roubo de grandes cargas de cigarro a fim de fortalecer o aporte financeiro da facção. Temos certeza que a operação de hoje irá contribuir para a redução de outros crimes praticados por este grupo criminoso, tais como homicídios e tráfico de drogas —conclui.