Desencadeada na madrugada desta quarta-feira (4), uma operação do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) atingiu o cerne de uma organização criminosa, colocando na prisão, pela primeira vez, operadores do tráfico de drogas deste grupo. Por esta razão, a ofensiva policial foi intitulada Primum Ferula, expressão do latim que pode ser traduzida como "primeira bengala", mas que representa "primeiro castigo".
A ação mirou indivíduos de diversas cidades da Região Metropolitana, os quais, segundo a Polícia Civil, atuavam na cadeia de produção do tráfico, em um sistema de divisão de atribuições semelhante ao que existe nas organizações empresariais. O negócio, conforme a delegada responsável pelas investigações, tinha funções definidas de compradores, transportadores, estoquistas, vendedores.
— Atingimos com força a estrutura e a economia de um braço bastante significativo deste grupo, que mantinha uma espécie de sistema de produção como em uma empresa. Além destes "funcionários", havia um grupo de pessoas usadas como "laranjas" para fazer circular o dinheiro em contas bancárias com a intenção de desviar o foco sobre os ganhos ilícitos dos líderes da facção — explica a delegada Ana Flávia Leite.
Foram efetuadas oito prisões, sendo duas em Porto Alegre, duas em Novo Hamburgo, duas em Sapucaia do Sul, uma em Canoas e uma em Cachoeirinha. Todos os indivíduos detidos na operação cumprem medida de prisão pela primeira vez. Suas identidades não foram divulgadas.
Além das prisões, os agentes do Denarc também realizaram buscas em 31 endereços, recolhendo provas, telefones, anotações e aplicando medidas como sequestro de contas bancárias e apreensão de bens valiosos que teriam sido adquiridos com dinheiro de crimes — entre eles, um veículo Mercedes avaliado em R$ 350 mil.
De acordo com a delegada, em apenas um mês, quatro pessoas investigadas como integrantes do processo de lavagem de dinheiro movimentaram R$ 160 mil em diversas contas, sob transações com somas incompatíveis com seus perfis econômicos.
Negócio milionário
As apurações apontam que o grupo tem dezenas de integrantes associados e movimentaria em torno de R$ 6 milhões com a venda de cocaína, crack e maconha. A abrangência territorial do esquema também chama a atenção da polícia, que avalia haver, além do comando estabelecido na Região Metropolitana e no Vale do Sinos, células espalhadas por várias regiões do Interior do Estado.
Na operação desta quarta, medidas cautelares foram cumpridas em Porto Alegre, Viamão, Gravataí, Novo Hamburgo, Canoas, Cachoeirinha, Sapucaia do Sul, Alvorada e Camaquã. Com apoio do Denarc de Santa Catarina, foram cumpridos mandados em Florianópolis e Palhoça, mas sem sucesso nas prisões que haviam sido planejadas.
Ainda nos mandados cumpridos no Rio Grande do Sul, foram apreendidos cem gramas de cocaína, balança de precisão, duas armas de fogo, mais de R$ 14 mil em espécie e diversos celulares, que serão examinados pelo Instituto-Geral de Perícias.
Dados em telefone indicaram caminho para investigações
Segundo a delegada Ana Flávia Leite, a investigação que propiciou a operação desta quarta-feira teve início com a prisão de um homem, em novembro do ano passado. Ele seria reincidente e estava sendo monitorado, o que revelou movimentação de mais de 83 quilos de cocaína, 356 quilos de maconha e 20 quilos de crack, apenas no intervalo entre a primeira e a segunda prisão.
Para revelar o esquema, a polícia utilizou dados de telefone apreendido com este suspeito. Ana Flávia explica que as investigações devem prosseguir no intuito de identificar e tipificar condutas de mais investigados.