A Delegacia de Combate à Intolerância da Polícia Civil concluiu o inquérito da terceira fase da Operação Accelerare, indiciando 20 investigados pelos crimes de discriminação ou preconceito de raça e apologia ao nazismo. Eles foram presos, no dia 14 de novembro, em ação coordenada entre autoridades do Rio Grande do Sul, do Paraná, de São Paulo e do Ceará. Parte dos indiciados é apontada como integrante da liderança neonazista no Brasil.
Conforme as investigações, as células desarticuladas tinham conexões com diversos grupos brasileiros e estrangeiros, tendo articulação com dois dos mais atuantes grupos extremistas da atualidade no mundo. Um deles articula células ultranacionalistas em países da Europa. Outro, centraliza o discurso radical de ultradireita nos Estados Unidos, o qual teria participado de atos antidemocráticos naquele país, como a invasão ao Capitólio, sede do congresso norte-americano, após a derrota eleitoral de Donald Trump, em 2021.
— Este trabalho representa a maior ofensiva para o enfrentamento ao neonazismo já realizada no país, com trabalho articulado entre as polícias estaduais e órgãos de inteligência federais. Desarticulou células com ramificações no território nacional e intercâmbio com grupos internacionais. O resultado desestrutura estas células em seus cenários de atuação, também minimiza a propagação do discurso de ódio e, ainda, previne a ameaça de ataques que estariam em planejamento — descreve a delegada Tatiana Bastos, coordenadora da operação no Rio Grande do Sul.
Segundo Tatiana, as investigações prosseguem com a análise de mais de 20 dispositivos eletrônicos de comunicação e armazenamento de dados, entre CPUs, HDs externos e telefones móveis.
— Em cada Estado, a polícia faz a busca de mais provas e possíveis desdobramentos futuros para a investigação. As autoridades prosseguirão atuando de forma articulada para combater este tipo de crime — define a delegada.
Indiciados formam rede em diversas cidades brasileiras
As conclusões do inquérito apontam a amplitude da rede neonazista no país. Em sua primeira fase, resultou em três indiciamentos e desarticulação de células em Nova Santa Rita, Novo Hamburgo e Canoas. Na segunda etapa, um preso e indiciado em Pelotas. As duas ações ocorreram em 6 e 15 de junho, respectivamente.
Na terceira fase, atingiu células de Porto Alegre, Capão da Canoa, Novo Hamburgo, Pantano Grande, Venâncio Aires, Canoas e Guaíba, no Rio Grande do Sul; em São Paulo, Araçoiaba da Serra e Ribeirão Pires, no Estado paulista; em Curitiba, no Paraná, e em Fortaleza, no Ceará.
Além dos 24 indiciamentos, foram apontados atos infracionais supostamente cometido por três adolescentes. Os casos foram remetidos ao Departamento da Criança e do Adolescente da Polícia Civil.
Os crimes apontados no inquérito têm penas previstas entre dois e cinco anos de reclusão e podem ser alvos de multa aos autores. Para o caso dos adolescentes, há possibilidade de medida de privação da liberdade em regime socioeducativo de um a três anos.