Começou na manhã desta segunda-feira (13), em Porto Alegre, o julgamento de José Dalvani Nunes Rodrigues, 41 anos. Neste processo, ele responde por dois homicídios qualificados, que ocorreram na Capital em 2017. Conhecido como Minhoca, o homem é apontado como um dos líderes de uma facção com berço no bairro Bom Jesus, em Porto Alegre.
As vítimas do duplo homicídio são David Ronzani Rodrigues e Heloísa Serpa Bueno. Conforme o Ministério Público do Estado (MPRS), os dois foram levados a um matagal e assassinados, em 2017. A acusação afirma que o crime foi cometido em razão de um desentendimento entre o réu e David, decorrente da atuação no roubos de carros.
Rodrigues foi trazido à Capital para participar do júri na semana passada, já que está preso em uma penitenciária federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. O acusado está no plenário sob forte esquema de segurança.
A sessão desta segunda começou às 9h30min da manhã, com a escolha dos jurados, grupo formado por seis mulheres e um homem. Não foram ouvidas testemunhas. Assim, o julgamento começou já com o depoimento do réu. Diante dos jurados, Rodrigues afirmou que é inocente das acusações e que vai provar isso ao júri.
Após intervalo, a sessão foi retomada por volta das 12h30min, com o Ministério Público do Estado (MPRS) abrindo a fase de debates. Os promotores buscaram demonstrar a participação do réu tanto no duplo homicídio quanto no comando da facção. Segundo a acusação, os assassinatos não ocorreriam sem a autorização de Minhoca, que seria líder do grupo criminoso.
— É pública e notória a participação desse homem dentro de organização criminosa. É uma coisa muito grave. É uma questão de honra condenar — disse o promotor Luiz Eduardo de Oliveira Azevedo, que atua na 2ª Vara do Júri da Capital.
Na sequência, o promotor Fernando Andrade, que presta apoio no caso, exibiu vídeos obtidos pela polícia durante a investigação das mortes. Um deles mostra parte do depoimento de um homem que deu informações sobre o crime após firmar colaboração premiada com as autoridades. Essa testemunha integrava, à época, a linha hierárquica da facção, e estava "em posição que lhe permitia acompanhar as ordens de execução, tendo condições de determinar de quem partiriam estas ordens", pontuou uma decisão judicial de 2019.
No vídeo, o colaborador dá detalhes de onde as vítimas moravam, do roubo de um veículo, atribuído a David, e alega que Rodrigues teria ordenado o duplo homicídio.
— Hoje, se temos dificuldade de viver em Porto Alegre, podemos atribuir a ele (réu). É por causa de criminosos como ele e outros de sua geração que atualmente vivemos uma guerra. Matam, esquartejam, tudo por causa de dívidas de drogas — pontuou Andrade, promotor designado pelo Núcleo de Apoio ao Júri (NAJ) e que atua junto às Promotorias do Júri de Porto Alegre.
Homem morto teria dedurado facção
Segundo o MP, a desavença entre os envolvidos começou depois que David roubou uma Hillux em Viamão, em dezembro de 2016. A investigação indicou que David era responsável por roubar veículos para a facção de que Rodrigues seria líder.
Após o roubo, David queria vender a Hillux para obter dinheiro. No entanto, integrantes da facção, com posição hierárquica superior à dele no grupo, decidiram que manteriam o carro para uso.
Conforme o MP, David viu demais integrantes circulando com o veículo roubado pelo bairro e ficou revoltado. Ele teria ido até uma viatura e informado à polícia onde estava o carro. O MP sustenta que a morte do homem foi ordenada pelo acusado, como represália por esta ação. A companheira de David, Heloísa Serpa Bueno, foi morta porque testemunhou o crime contra ele.
Os homicídios ocorreram no dia 13 de fevereiro de 2017. As duas vítimas estavam em casa quando o local foi invadido. Os dois teriam sido imobilizados e levados para um matagal. As vítimas ainda teriam tentado fugir, mas foram mortas com diversos tiros.