A descoberta do corpo de um homem dentro de uma mala e no interior de uma geladeira, durante o cumprimento de uma ordem de reintegração de posse em um apartamento em Aracaju, Sergipe, trouxe uma série de dúvidas que a Polícia Civil ainda trabalha para esclarecer.
A mais importante delas é confirmar se o cadáver escondido no local desde 2016 é mesmo o radialista gaúcho Celso Adão Portella, que trabalhou em emissoras de rádios como Farroupilha e Gaúcha entre as décadas de 1970 e 1980 e também atuou como advogado na Capital antes de deixar o Rio Grande do Sul. Uma mulher presa em flagrante afirma que o corpo é de Portella, mas peritos sergipanos fazem análises para respaldar cientificamente essa informação. Uma nota oficial enviada pela Polícia Civil a GZH na manhã deste sábado (23) informa que "estão em andamento exames periciais no Instituto Médico Legal (IML) para identificar quem, de fato, é a vítima".
Procurados no sábado, um irmão da possível vítima não deu retorno a um pedido de entrevista, e uma filha informou que não iria se manifestar. Veja, a seguir, algumas das informações já confirmadas pelas autoridades e o que ainda faltava esclarecer até o final da manhã de sábado.
O que se sabe
Quem é a suposta vítima
Informações preliminares indicam que o corpo localizado em um apartamento de Aracaju é de Celso Adão Portella, natural de Ijuí, que teria 80 anos atualmente. Formado em Direito e Jornalismo, construiu a vida em Porto Alegre, onde atuou como radialista e advogado. Deixou o Estado em 2001, quando foi para o Espírito Santo e, posteriormente, se mudou para o Nordeste. Teve quatro filhos. Nos últimos anos, estava aposentado e havia se afastado de outros familiares, o que teria reduzido as suspeitas sobre seu desaparecimento.
Identidade da suspeita
Foi presa em flagrante uma mulher de 37 anos, que teria dividido o apartamento com a vítima até o momento da morte. Quando o oficial de Justiça entrou no imóvel para apresentar um mandado de reintegração de posse, a suspeita tentou cortar os pulsos e foi conduzida a um hospital antes de ser detida. A mulher, cujo nome não foi divulgado pela Polícia Civil, alegou aos policiais que não matou o homem, mas já o teria encontrado sem vida, sete anos atrás, ao voltar para casa depois de ter passado o dia trabalhando.
Ocultação do cadáver
O corpo que supostamente seria de Celso Portella estava no interior de uma mala, em posição fetal, e escondido dentro de uma geladeira. A mulher que ocupava o apartamento, segundo a Polícia Civil, ao ser presa admitiu que foi ela quem escondeu o corpo do homem, com quem teria mantido um relacionamento amoroso. Conforme os policiais, ela alegou ter feito isso por receio de ser incriminada pela morte. Acabou autuada por ocultação de cadáver e maus-tratos contra uma criança de quatro anos, que também vivia no local, por conta das condições insalubres do imóvel. O apartamento tinha lixo acumulado e exalava mau cheiro.
O que falta esclarecer
Confirmação da identidade
Apesar das indicações de que a vítima se trata do radialista gaúcho, as autoridades de Sergipe começaram no final da semana passada o trabalho de identificação científica dos restos mortais. Veja íntegra da nota divulgada pela Polícia Civil do Sergipe:
"A Polícia Civil informa que o inquérito policial sobre o caso em que um corpo foi encontrado em uma geladeira durante ação de reintegração de posse no bairro Suíssa, em Aracaju, continua em andamento. No que se refere à investigação, até o momento foram identificados prováveis familiares da vítima. Estão em andamento exames periciais no Instituto Médico Legal (IML), para identificar quem, de fato, é a vítima. Portanto, a Polícia Civil ressalta que não há até o momento confirmação oficial da identidade da vítima. Mais detalhes serão fornecidos assim que houver confirmação por parte do IML e anexação dos laudos ao inquérito policial conduzido pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP)".
Causa da morte
Um ponto fundamental das investigações é apontar a causa da morte. A mulher presa em flagrante argumenta que saiu para trabalhar e, ao voltar para casa, teria encontrado o homem já morto. Os restos mortais já estão sendo analisados por peritos para avaliar se há indicações de alguma ação violenta que tenha provocado o óbito, ou algum outro indicativo de assassinato. A perícia também deverá confirmar se a morte ocorreu de fato em 2016 ou em algum outro momento.
Extensão dos crimes da suspeita
A mulher presa em flagrante já foi autuada pela ocultação do cadáver, mas a polícia ainda investiga se ela teve alguma participação na morte da vítima ou, de fato, apenas escondeu o corpo dele na mala e dentro da geladeira. Para isso, além dos exames periciais no cadáver, os agentes da Polícia Civil pretendem ouvir testemunhas que possam trazer novos elementos ao caso.
Participação de outras pessoas
Outro aspecto que deverá ser esclarecido é se a suspeita agiu sozinha, ao menos em relação à ocultação do cadáver, ou contou com ajuda de alguém. Se for confirmado também o homicídio e houver elementos que indiquem sua autoria, a polícia deverá averiguar ainda se ela teve ou não auxílio de outra ou mais pessoas para matar a vítima. O trabalho pericial e a escuta de testemunhas poderão ajudar a esclarecer esses pontos.
Possível motivação
Outro elemento importante, se for confirmada a hipótese de homicídio, é descobrir que motivo teria levado ao assassinato, ou se houve mais de uma razão. Como a suspeita presa preventivamente até o momento nega ter praticado o crime, e ainda não há elementos que confirmem o homicídio, a investigação sobre a eventual motivação deve ganhar força em um segundo momento.